Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mino Carta

ELEIÇÕES 2002

“Carta Capital Escolhe Lula”, copyright Carta Capital, 2/10/02

“O modelo? Sempre americano. Já foi europeu, sobretudo francês, deixou de ser há muito tempo. Mas a cópia dos Estados Unidos é de má qualidade. No jornalismo, por exemplo.

Cláudio Abramo, melhor jornalista brasileiro da segunda metade do século passado, chamava a atenção para a tentativa, frustrada e frustrante, de perseguir a imparcialidade, a qual seria o primeiro e mais importante alvo da imprensa americana.

A pretensão da imparcialidade nas nossas latitudes é, em princípio, tão utópica quanto a da objetividade. Em todas as longitudes. Objetiva só mesmo a máquina, quando funciona. O homem jornalista é subjetivo até no momento de colocar uma vírgula no meio do período. Do profissional da comunicação tem é de se exigir honestidade.

Na mídia nativa, a alegada busca da imparcialidade e da objetividade serve exclusivamente como adubo da hipocrisia. Tanto mais, em tempos de campanha eleitoral. Jornais, revistas, meios de comunicação em geral, apóiam o poder pelo simples fato de que fazem parte dele, são seu instrumento. Ou por outra, apóiam a si próprios. Sem qualquer preocupação quanto à honestidade.

A hipocrisia, no entanto, não tem limites. Jornais, revistas, meios de comunicação em geral, com a exceção de O Estado de S. Paulo, evitam declarar abertamente a sua preferência pelo candidato do poder, embora o sustentem em todas as páginas, e jamais de forma objetiva, sem contar os golpes baixos desferidos contra os candidatos da oposição. E a imparcialidade? Que se moa.

O modelo americano no caso está sendo traído. Quando das eleições, os jornais dos EUA abrem o jogo e tomam partido, sem retórica e sem subterfúgios. Ainda assim, se esforçam para ser fiéis ao compromisso da imparcialidade e freqüentemente conseguem.

CartaCapital manda às favas a tradição verde-amarela e declara sua escolha pela candidatura Lula. E explica que enxerga em Lula a liderança mais adequada ao momento. Ele representa a chance de mudar a política econômica que nos conduziu ao desastre. Tem autoridade para gerir tensões sociais crescentes. É o negociador adequado nas cortes internacionais, onde goza de maior prestígio do que gostaria quem o ataca e o denigre.

O acima assinado recorda outra época, em que não faltava quem apontasse para a necessidade de um gerente para a Presidência. Um administrador competente. Um técnico refinado. Talvez tenha chegado o momento de um ex-líder sindical, que se caracterizou não somente pela defesa eficaz dos interesses dos seus comandados, mas também dos espíritos democráticos humilhados pela ditadura militar. Que conhecia a hora da batalha e a hora da negociação. Que podia inflamar e podia moderar. E que continua fiel aos seus ideais.

Em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo nesta semana, o ex-presidente José Sarney reconhece que a suprema magistratura do País sempre foi ocupada por representantes do capital. Trata-se de uma confissão. Nada de errado, diz Sarney, se elegermos agora, pela primeira vez, um representante do trabalho.”

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“A Globo muda tudo para ficar a mesma”, copyright Carta Capital, 2/10/02

“Os motivos para a saída de Henri Philippe Reichstul da presidência da Globopar provocaram mais especulação e boatos do que pesquisa eleitoral no mercado de câmbio. E, como no câmbio, havia fundamento econômico paralelamente a muita especulação político-eleitoral.

Falou-se desde que ele falhara em conseguir abrir o capital da Globo S.A., uma empresa que estava sendo constituída para reunir tudo aquilo que é fornecedor de conteúdo no grupo Marinho (jornal, rádio, tevê, etc.), até que serviria num eventual governo Lula.

Essa última versão é estimulada pela sociedade com João Sayad, secretário da Fazenda na administração petista da Prefeitura de São Paulo, e o economista Francisco Vidal Luna na SRL Mantrust e no Banco Inter American Express.

Um homem próximo a Reichstul contou que ele fora a Washington participar da reunião anual do Fundo Monetário Internacional, a ?feira anual? dos banqueiros, aonde ?só se vai em missão, nunca por lazer?.

Não faltou também a versão de que a Globo abandonara o barco do candidato tucano José Serra e Reichstul caíra porque seria uma peça-chave na máquina de apoio ao ex-ministro da Saúde e seu amigo de longa data.

A Globo comunicou que Reichstul deixara o cargo de presidente da Globopar em razão de uma reestruturação da companhia, passando a integrar o conselho de administração das Organizações Globo. A nota da Globo, divulgada na terça 24, dizia que a mudança tinha como objetivo simplificar e reduzir a estrutura corporativa da empresa, de modo a adequá-la à nova realidade do mercado.

Além da saída de Reichstul da presidência da Globopar, foi também divulgado que Roberto Irineu Marinho acumulará a presidência do conselho com a presidência executiva do grupo.

Na mesma terça, à noite, o presidente de uma empresa estatal cruzou com Reichstul no show do cantor e compositor Élton Medeiros, no Canecão, no Rio, e perguntou: ?Como é que vai! Sofrendo muito?? Ele só entendeu a resposta de Reichstul – ?O sofrimento acaba amanhã? – ao ler os jornais de quarta noticiando a promoção do ex-presidente da Globopar para o conselho de administração das Organizações Globo.

Consta que as relações de Reichstul com Roberto Irineu Marinho andavam acrimoniosas há algum tempo. Aliás, de uma maneira geral, os executivos do grupo temem o comportamento de Roberto Irineu. Contratado em março, Reichstul tinha por missão criar a holding Globo S.A. Mas a demora em encontrar investidores que garantissem o sucesso da abertura de capital fez Reichstul perder crédito junto a Roberto Irineu. O crédito da Globopar, entretanto, já tinha caído antes: a agência de classificação de risco Moody?s, no início de agosto, rebaixara a nota da empresa de B1 para B3 por causa do desempenho ruim da TV Globo em 2001, do impacto da desvalorização do real na capacidade de a empresa honrar a significativa dívida em moeda estrangeira, das necessidades de investimento em outras subsidiárias da Globopar de sua liquidez em queda. Com geração de caixa em reais versus gastos e débitos em moeda estrangeira, parece difícil mesmo, no momento, encontrar investidores.

A equipe que Reichstul carreara da Petrobrás à Globo, no entanto, manteve os cargos. Ronnie Vaz Moreira cuidava da área financeira e passou a dirigir uma Globopar transformada em gestora das finanças do grupo. Luiz Antônio Viana permaneceu no comando da antiga Globo Cabo, atual Net.

Exceto isso, a governança e o modelo de gestão das Organizações Globo voltaram a ser o que eram antes da ida de Reichstul para tocar o projeto de criar holding.”

 

“No final, sobe a audiência do horário eleitoral na TV”, copyright Folha de S. Paulo, 28/09/02

“Num movimento já previsto por analistas de campanha, a audiência do horário eleitoral gratuito na TV subiu nesta semana, dias antes do fim dos programas, revela o rastreamento eleitoral realizado pelo Datafolha.

Segundo o instituto, 31% dos entrevistados em pesquisa feita por telefone dizem ter visto pelo menos um dos programas exibidos na quinta-feira, dia 26; e 33% declaram ter visto alguma propaganda no dia 24.

A taxa não passava dos 30% desde a primeira semana de exibição, quando os programas dos dias 20 e 22 de agosto tiveram 40% de audiência cada um. A taxa caiu então para uma faixa entre 20% e 29% e, no último sábado, dia 21, foi de 22%. A margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos.

Faltam três dias de programas de presidenciáveis: hoje, terça e quinta. As pesquisas são feitas nos dias seguintes a essas exibições.

Especialistas dizem, com base nas últimas eleições, que os eleitores tendem a prestar atenção nos programas do início e nos do fim do horário eleitoral.

Na terça e na quinta, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resgatou momentos da campanha de 1989, incluindo o jingle ?Lula Lá?. O programa de terça foi avaliado como ótimo ou bom por 66% dos entrevistados, e o de quinta, por 71%.

José Serra (PSDB) mostrou propostas para o Nordeste na terça (52% de aprovação) e para Minas Gerais na quinta (60%).

Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) procuraram na semana se colocar como opções a Lula e a Serra. Na quinta, o programa de Ciro teve aprovação de 51%, e o de Garotinho, de 56%.”