Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mino Carta

ELEIÇÕES 2002

“Quem não apareceu foi José Serra”, copyright Carta Capital, 23/10/02

“Desde terça-feira 8 de outubro, CartaCapital, sem exclusão do acima assinado, procurou inúmeras vezes entrar em contato com o candidato tucano, sem omitir recados em todas as ocasiões. Em vão. Pretendíamos promover nas nossas páginas uma espécie do tão desejado debate entre os competidores da grande final. Não foi possível. Nesta edição, portanto, cabe a Lula falar sozinho.”

“Às Urnas, Sem Medo”, copyright Carta Capital, 23/10/02

“O candidato Lula defende um pacto social, fala sobre debates, Alca, mídia, FHC… e aposta num eleitorado imune a assombrações.

Quinta-feira, 17 de outubro de 2002. Aos 56 anos de vida, em sua quarta tentativa de chegar à Presidência da República, com uma vantagem – até aquela tarde – de cerca de 30 milhões de votos sobre o adversário do PSDB, José Serra, segundo pesquisas de opinião, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, está confiante. Mas prudente. A todo instante saca a condicional ?se eleito?; ?num eventual governo?; ou a cautela: ?Não vou colocar o carro diante dos bois?. Num vôo entre São Paulo e o Rio de Janeiro, o candidato conversou com CartaCapital. Tratou dos temas da semana – debates, Serra, Fernando Henrique, mídia, Robert Zoellick, alianças políticas… – e, sempre na condicional, falou do futuro. Lula defendeu um pacto, ou ?contrato social?, abordou a criação de um Conselho de Desenvolvimento Social com personalidades dos mundos empresarial, sindical e político, para assessorá-lo se eleito, e afirmou que a posição perante a Alca é ?negociar, negociar, negociar?, em conjunto com o Mercosul e não ?isoladamente?. Ante o ?medo? vocalizado pela atriz Regina Duarte em favor de Serra e contra um eventual governo liderado pelo PT, foi incisivo:

– Admiro a Regina Duarte e a respeito como artista. Mas o povo tem que votar e vai votar com consciência política e em quem quiser. O povo não vai votar com medo.

CartaCapital: Debate, debate, debate, debate… Obviamente o candidato Serra tem uma estratégia, além do desejo de debater, para insistir tanto no tema, e com um coro a reverberá-lo. Sei que o senhor já respondeu a isso, mas o que imagina ser, de fato, a estratégia do seu adversário: tornar o debate na Globo algo tão decisivo quanto um pênalti em final de Copa do Mundo? Algo que qualquer escorregão possa implicar uma dimensão enorme parecer o fim do mundo?

Lula: Não. Acho que eles não pensaram tão grande assim. A idéia do debate, debate, debate é porque o Serra está numa situação extremamente delicada…

CC: Qual situação?

L: Nós temos eleição no segundo turno em 13 estados e no Distrito Federal. Neles, eu tenho disputa em oito com uma candidatura do PT. Tenho ainda aliança com o Luiz Henrique, do PMDB, em Santa Catarina; com o Roberto Paulino, do PMDB, na Paraíba; com a Wilma Faria, do PSB, no Rio Grande do Norte; e com o Requião, do PMDB, no Paraná. Ou seja, eu tenho 12 Estados para visitar em poucos dias e, mais grave, para o Serra sobram o Rio Grande do Sul, onde o Rigotto, na verdade, não quer a presença dele; o Ceará, onde o Lúcio Alcântara, do partido dele, também não quer a sua presença, porque o Serra teve menos de 3% dos votos em Fortaleza. E Roraima, onde o candidato do PSL, do PFL e de mais 12 partidos me apóia…

CC: Então…

L: Então, como ele não tem estados para fazer campanha, não tem aliados para o segundo turno, tem muito tempo disponível e quer preencher esse tempo fazendo debate. Acontece que eu, que participei de 40 debates no primeiro turno, tenho mais coisas pra fazer: tenho uma multidão Brasil afora para ouvir, para conversar, debater olho no olho. Queríamos um pool para um único debate na tevê, mas as emissoras não se entenderam e nós optamos, dentro da nossa estratégia, por participar do último debate, no dia 25. É apenas isso. Participei de mais de dezenas de debates no primeiro turno, gosto de debater, mas vou fazer a minha estratégia, não vou cair na do meu adversário…

CC: Não vai jogar o jogo do adversário…

L: Claro. Não vou jogar o jogo que o adversário quer jogar, assim como ele não vai querer jogar o meu. E isso é do jogo.

CC: Ainda campanha e suas histórias, limites, etc. Imagino que o senhor e ela já tenham estado juntos em alguns momentos da sua vida pública. O que sentiu quando viu, ou soube, da fala da Regina Duarte na televisão sobre o medo. Chegou a ver? O que sentiu na hora?

L: Não, não vi, mas sei o que e como foi dito. Olha, eu tenho uma relação de amizade com as pessoas… essa foi uma eleição atípica porque em alguns momentos da vida já estive junto com os meus adversários de agora. Já estive com o Garotinho em muitos palanques, já estive com o Ciro em muitos palanques e com o Serra em muitos palanques. Portanto, nunca considerei os três como meus inimigos e, sim, como adversários políticos.

CC: O que é…

L: …é natural, normal. Já joguei bola contra o meu irmão e aí a gente não se tratava bem, não, aí tinha…

CC: Porrada…

L: Tinha porrada. Ou seja, isso faz parte do jogo, como faz parte da política. Mas no caso da Regina Duarte, o que eu achei grave – e quero ressaltar que tenho admiração e um carinho muito grande por ela como artista, respeito a Regina Duarte como artista – o que achei grave é que, embora ela tenha tomado uma posição política que também merece o meu respeito, tem uma coisa que acho desagradável, ainda que respeite: ela poderia participar do programa do Serra para falar bem dele, do governo, dos programas dele, normal. Mas acho que não contribui em nada para a sociedade uma artista da estatura dela vender o medo para a população. Isso não contribui em nada, e nem funciona. O povo brasileiro já votou com medo em 1989…

CC: Bem, ali deu no que deu…

L: …deu no que deu. O povo não tem que votar por medo, e não vai. O povo tem que votar, e vai, com consciência política, e em quem quiser. Ele é quem escolhe, e com muita responsabilidade, não é preciso assustá-lo. O povo não vai votar com medo. De qualquer forma, se é uma opção da Regina Duarte falar aquilo, é um direito dela e eu respeito. Cada um de nós arca com a responsabilidade por aquilo que faz, pelo que fez e pelo que não fez. Não concordo, mas respeito.

CC: E Robert Zoellick, o equivalente a um ministro do Comércio Exterior dos EUA, o já famoso sub do sub do sub. Ele fez a frase, dizendo que o Brasil ou aceita a Alca ou terá de fazer comércio com a Antártida, e houve a sua resposta ao ?sub do sub do sub?. Agora, retórica à parte, o que realmente o senhor pensa e espera da Alca? Na retórica, que não seja uma anexação, etc., etc., etc., o que é o esperado. Mas e na real?

L: Primeiro, a certeza, óbvia, de que os Estados Unidos são o mais importante parceiro comercial brasileiro. Portanto, queremos manter a mais extraordinária, democrática, sensata e a mais estreita relação política, comercial, cultural com os Estados Unidos. Eles têm o direito de, numa negociação, querer defender aquilo que é melhor para eles, outra obviedade. Agora, ao Brasil cabe defender aquilo que é melhor para o povo brasileiro. O Brasil vai se sentar para negociar e vai querer tirar vantagem…

CC: Ser potencialmente um grande mercado é uma vantagem…

L: Certamente que é. Da mesma forma, os Estados Unidos são o maior mercado do mundo. Cabe a nós termos competência: negociar enquanto Mercosul e não tentar negociar isoladamente. Uma negociação desse porte não cabe achar, desde o princípio, que um país vai ganhar e outro perder. Temos é que brigar na mesa de negociação. Temos que negociar.

CC: Quais são as armas?

L: O Brasil tem um grande mercado, que pode ser ainda muito maior e maior ainda com o Mercosul. O Brasil já tem, em muitas áreas, tecnologia, tem uma indústria altamente competitiva em muitos setores, e uma agricultura competitiva… O que precisa é o negociador brasileiro sentar-se à mesa com convicção, com definição dos rumos, pensando na indústria, na agricultura, na biotecnologia, na cultura do Brasil, lembrando que temos de fazer crescer nossas exportações, aumentar nosso superávit comercial. É com esse espírito que o Brasil deve entrar na negociação, até porque é com esse espírito que vai entrar o governo americano…

CC: Isso envolve equipes, mas, se o senhor for eleito presidente, pretende se envolver pessoalmente nas negociações da Alca?

L: Claro que não é possível a um presidente da República fazer as negociações diretamente…

CC: Salvo na hora dos pênaltis…

L: Claro. E é possível um presidente, seja ele quem for, orientar muito bem seus negociadores, sua equipe, ficar muito bem informado sobre cada passo, e tomar as decisões, porque esse é o papel do presidente.

CC: Aquela conversa reservada com o presidente Fernando Henrique, depois do encontro para revelar detalhes do acordo com o FMI. Ali envolvia algo sobre os destinos, o futuro? Ou o quê?

L: Olha… qual é o grave… e por que nós fomos lá? Se você tem um técnico da Seleção Brasileira que está no comando e o presidente da CBF anuncia que daqui a um mês vai trocar o técnico, ninguém dá mais importância para o técnico que vai sair. As pessoas já ficam pensando na relação com o outro técnico. O que aconteceu na verdade: muita gente lá fora está levando em conta a possibilidade de o PT ganhar as eleições, e muita gente lá fora, ao querer conversar com o Brasil, quer saber o que pensa um eventual futuro governo. Por isso eu acho que foi acertado o presidente FHC chamar todos os candidatos naquela ocasião para discutir a questão do acordo com o FMI.

CC: O PT tem conversado com…

L: Nós, o partido tem discutido com o presidente a necessidade de termos uma transição bem organizada – se nós vencermos – e que seja uma transição exemplar, com ensinamentos para o nosso país. Nós pretendemos, se ganharmos as eleições, sentar com o presidente Fernando Henrique Cardoso e montar a equipe de transição, para que seja a mais democrática, mais saudável e menos sofrída possível. Porque acho que isso pode dar tranqüilidade ao mercado, aos empresários e aos trabalhadores brasileiros. Por isso é que nós fomos conversar com o presidente Fernando Henrique, levamos as nossas propostas, mostramos o que achávamos que deveria ser feito, no caso de ganharmos, e foi uma boa reunião.

CC: E a conversa a sós, depois, foi uma conversa de Estado?

L: A conversa depois (risos) …uma conversa que era necessário ter. Entendíamos que o presidente da República tem de fazer o papel de magistrado num processo eleitoral. Que não é possível que a máquina seja colocada a serviço de uma candidatura, porque a máquina pública não pode funcionar somente para um candidato. Ela tem de funcionar para os 173 milhões de brasileiros. Foi uma conversa cordial porque, afinal de contas, com todas as divergências políticas, temos relações desde 1978.

CC: E o senhor acha que ele, que diz uma coisa numa entrevista e depois desdiz, acena leveza e depois bate e manda bater… qual é a sua avaliação sobre qual será a postura do presidente nesta retal final?

L: Acho que agora ele resolveu assumir com mais intensidade a campanha do Serra, e que ele, como ser político, pode até fazer isso, como membro de um partido político que é. A única coisa que nós vamos ficar vigilantes e que ele não poderá fazer é colocar a máquina, a estrutura de poder, a serviço do Serra. Porque aí você quebra com qualquer princípio de democracia.

CC: E funciona, a esta altura?

L: Tem um dado muito concreto. Todas as pesquisas demonstram, hoje, uma alta rejeição em se votar num candidato apoiado pelo presidente, pelo governo. É por isso que 76% da população votou por mudança. O Fernando Henrique é um homem inteligente e sabe disso, e, assim como ele, os candidatos estaduais também sabem disso. Portanto, acho que ele vai se engajar ainda mais na campanha do Serra, e isso não causará efeito. O que pode acontecer é um efeito positivo para a minha candidatura. O Serra passou a campanha inteira tentando negar que era governo, e na medida em que o governo assuma a campanha dele, vai ficar mais visível para a sociedade que Fernando Henrique Cardoso e Serra são a mesma coisa.

CC: Há formas e formas de se usar a máquina, inclusive o que formalmente não é nem parte do governo, mas, eventualmente, é da estrutura de manutenção do poder e seus governos. Havia um acordo entre os partidos para que se regulamentasse a lei de ingresso de capital estrangeiro para a mídia apenas por lei ordinária, via Congresso, e não através de uma Medida Provisória, como foi a MP 70. Ali, cinco dias antes do segundo turno, ao permitir o uso dos fundos de pensão nesse processo de recapitalização da mídia, o presidente jogou a isca para uma grande parte da mídia. Se a diferença diminuir…

L: Eu não sei… Mas acho que os meios de comunicação também têm responsabilidade. Porque o leitor, o espectador, o ouvinte, também está mais seletivo, está mais vacinado, e ele percebe quando um determinado jornal tem tendência mais explícita, fazendo matéria sobre um e não sobre o outro. O povo admite, entende, que um jornal, um canal de televisão, uma revista, editorialmente diga ?apóio fulano de tal?. Mas na cobertura tem de haver honestidade, porque a cobertura não é o teu pensamento, são os fatos. Então, o que você tem de mostrar são os fatos como eles são. A imprensa sabe que se fizer um jogo errado ela pode perder, e perder muito. Acho que a imprensa vai dar, ainda mais nesta reta final, a cobertura mais saudável que já deu em qualquer outro momento da história política brasileira.

CC: Em novembro já há negociações, já tem missão do FMI no Brasil, imagina-se mais indicações por mais aperto fiscal…

L: Até o dia 31 de dezembro é o presidente quem tem de cuidar dos interesses econômicos do nosso Brasil. Obviamente que, se nós vencermos, acho que deveria haver da parte do governo e de gente ligada a mim, ligada ao PT, uma conversa. Acho que seria bom para o País. Que a gente pudesse acompanhar passo a passo o que vai acontecer se, repito, nós vencermos. Isso seria saudável e sólido. Entretanto, vamos aguardar o resultado eleitoral, e a depender do resultado, vamos querer montar com o governo uma comissão permanente de transição. Se for necessário estaremos dispostos a discutir, com quem quer que seja, para a gente tentar resolver os nossos problemas. O Brasil não pode se dar ao luxo de jogar fora uma grande oportunidade de fazer valer os seus interesses. Mesmo porque, se não me engano, do acordo com o FMI, o governo tem disponíveis agora, até o final do ano, US$ 6 bilhões. No entanto, nos próximos meses, vai ter de se saber se vai, mais adiante, sacar mais ou não – é claro que do que já está acordado. Vamos discutir com carinho, mas antes vamos aguardar primeiro o dia 27 de outubro.

CC: O que hoje une pessoas que, embora elegantes nos embates entre si, sempre foram adversários políticos? O que hoje une Lula e Delfim Netto, por exemplo?

L: Todos nós que, de um lado ou de outro, amamos este país, que acreditamos no Brasil, estamos inconformados e indignados com a dependência cada vez maior da nossa economia, do País. O Delfim tem escrito semanalmente artigos muito importantes, mostrando efetivamente que ele é amplamente favorável à retomada do crescimento econômico. Há tempos ele mostra que o modelo econômico faliu, se exauriu, e que é preciso colocar alguma coisa no lugar. E neste momento o Delfim acha que a nossa proposta é a que tem mais consistência.

CC: O PMDB de Minas, Paraná, Santa Catarina, Paraíba, Rio Grande do Sul – o Pedro Simon pelo menos -, o do Rio de Janeiro e de Goiás, está com vocês. Qual o papel do PMDB num eventual governo seu?

L: Não quero definir nem o papel do PT ainda num hipotético futuro governo Lula. Não quero colocar o carro na frente dos bois, das urnas. Nós, por enquanto, estamos conversando para ganhar as eleições. Depois, iremos conversar para governar o Brasil. Eu acho que o PMDB tem muita gente interessante na sociedade. O PMDB é um partido grande no Congresso Nacional, então nós vamos conversar com o PMDB, com todas as forças políticas para ver se a gente consegue, sem abrir mão das nossas divergências, das nossas contradições, começar a pensar um pouco mais no Brasil, e fazer com uma certa urgência as mudanças que temos de fazer.

CC: O senhor tem usado outra expressão, que não o pacto. Como imagina esse, digamos, pacto?

L: A palavra, a expressão, é um novo Contrato Social. Num país do tamanho do Brasil, com tantas distorções, com basicamente 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, mas ao mesmo tempo um país com um potencial de crescimento excepcional, não pode deixar de se criar a oportunidade para que a gente, através de um pacto, faça algumas coisas que são importantes para o Brasil. Por exemplo: uma política tributária que desonere a produção, as exportações; uma adequação na legislação trabalhista; uma mudança na estrutura sindical brasileira; uma reforma política; a criação de uma Secretaria Especial de Comércio Exterior; são coisas que vão exigir de nós sentar para conversar. Com empresários, trabalhadores, governo, sindicatos. Isso vai criar um novo dinamismo na política brasileira, porque no Brasil se perdeu o hábito de dialogar. O presidente só fez duas reuniões com governadores de Estado, só fez duas reuniões com seu ministério. Então, se você não tem um plano de metas e não cobra essas metas, as coisas não acontecem. Estou convencido de que através de um pacto social se pode estabelecer o Plano de Metas; metas de crescimento, por exemplo, para voltar a gerar empregos, fazer a economia voltar a crescer. Incentivar setores da sociedade a confiar que o Brasil pode, deve e vai ser diferente do Brasil de hoje.

CC: Então, no caso de ser eleito, sua disposição é de buscar o tal Contrato Social desde o começo?

L: É. Nós vamos começar antes, inclusive. Neste domingo 20, já vamos ter uma reunião onde vou lançar a idéia da criação de um Conselho de Desenvolvimento Social, para que a gente possa começar a discutir os grandes temas brasileiros, possa otimizar os recursos da União, dos Estados e dos municípios destinados às políticas públicas. Hoje tem muito dinheiro superposto. Temos de gastar menos e atender a mais gente.

CC: Esse Conselho…

L: É um Conselho Consultivo que vai se reunir quando o presidente convocar. Quero, se eleito, fazer um Conselho de personalidades dos mundos empresarial, sindical, político, para que a gente possa fazer…

CC: O governador Itamar é um nome?

L: Não vou citar nomes, até porque ainda não ganhei as eleições.

CC: E a reforma política tão citada, se é que existirá, que tamanho teria?

L: Montamos uma equipe para trabalhar essa questão. Não quisemos utilizar isso como peça de campanha porque acho que essa não é uma tarefa do presidente, é uma tarefa dos partidos políticos e do Congresso Nacional. Mas montamos uma equipe com Antonio Candido e com Maria Vitória Benevides, com Chico de Oliveira, com Fabio Konder Comparato, para que a gente vá apresentando e discutindo uma proposta… Já fizemos quatro seminários e vamos continuar a discutir essa reforma. Porque você não pode deixar de ter um financiamento público para campanha, você não pode eleger um deputado, como o Enéas elegeu agora, com 200 votos. Não se pode permitir campanhas em que as pessoas gastem 50 vezes mais do que ganhariam de salário. Essa reforma política tem de ter fidelidade partidária. Eu, por exemplo, sou contra a obrigatoriedade do voto, isso já está resolvido dentro do PT. O eleitor deve comparecer à urna motivado a exercitar a democracia, e cabe aos partidos políticos convencer o eleitor a ir votar, não por causa de uma multa, mas porque é importante que ele exerça seu papel como cidadão.

CC: Que papel terá o vice-presidente no seu governo? Outro dia, numa reunião reservada, o senhor disse que José Alencar ficaria porta com porta com o presidente e teria um papel maior do que o habitualmente reservado aos vices.

L: Vai da característica de cada um. Nunca achei que a função de um vice deveria ser a de ficar na expectativa de assumir o cargo de presidente na ausência deste. Durante a semana, o mês inteiro, todo mandato, o vice-presidente tem que ter uma função, tem de ser cobrado, tem de fazer muita coisa. Um vice-presidente pode ser ministro! Pode ter cargo e função importantes. Eu me dou bem com José Alencar, ele é uma figura que acho excepcional do ponto de vista ético, do ponto de vista do caráter e hoje, sobretudo, na nossa relação de amizade. Se eleitos, iremos trabalhar em conjunto. E ele terá uma missão muito importante.

CC: E o Romanée-Conti?

L: Quanta bobagem! Era o aniversário do Antonio Pallocci, coordenador do programa de governo, e o Duda Mendonça deu a ele uma garrafa. A gente estava em 12, um golinho para cada um, nem prestei atenção direito na história. Aí, como é campanha, fazem a onda. Gozado: quando eu tomava Château Duvalier a cinco conto a garrafa, ninguém dizia nada…”