Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Miriam Abreu

CASO CRISTINA GUIMARÃES

“Cristina Guimarães deve ganhar proteção”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 25/7/02

“A Secretaria Nacional de Direitos Humanos pode incluir Cristina Guimarães, ex-produtora da TV Globo, no Plano Nacional de Proteção às Vítimas da Violência. A informação é do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF, que entregou ao secretário executivo de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, um dossiê contendo nomes de jornalistas ameaçados. O encontro aconteceu na noite desta quarta-feira (24/07). ?O caso de Cristina será analisado e, dependendo do que ficar decidido, ela ficará isolada e ganhará proteção?, contou o diretor do sindicato, Paulo Miranda.

Nesta quarta, Cristina prestou depoimento à Corregedoria Geral Unificada, que investiga a conduta das políciais Civil, Militar e do Corpo de Bombeiros. Segundo o corregedor Audiney Peixoto, o próximo passo será conversar com Carlos Alberto de Carvalho, o Beto, produtor do Esporte Espetacular da TV Globo, que ficou durante dois dias em poder de traficantes da Rocinha, sendo interrogado sobre a autoria da reportagem ?Feira de drogas na Rocinha?, produzida por Cristina. ?Também vou conversar com os motoqueiros que a acompanharam à favela para fazer a matéria?, adiantou Peixoto.

O corregedor explicou que decidiu aceitar o caso porque Cristina Leonardo, do Centro de Direitos Humanos do Rio que apoiou a ex-produtora da Globo, denunciou a ineficiência da 15? DP, da Gávea, nas investigações do caso de Cristina Guimarães. ?A minha atuação é limitada. Só posso investigar se houver policiais envolvidos ou acusados de não desempenhar bem sua função. É bem provável que eu peça para a polícia juntar o processo de Cristina ao de Tim Lopes. Pelo que percebi, o assassinato do repórter está relacionado à história dela?, disse.

O encontro entre o corregedor e Cristina aconteceu na ABI. Estavam presentes os advogados da jornalista, o assessor de imprensa Oswaldo Maneschy, que foi testemunha, entre outros. ?Ela se recusou a se reunir no Sindicato do Rio porque acha que a entidade não questiona a Globo?, conta Maneschy.

Segundo Peixoto, Cristina lhe entregou recortes de jornais sobre o caso do desaparecimento de Beto, publicado no JB e na Folha, e e-mails trocados pela produtora com os diretores de Jornalismo da Globo.

Até semana que vem, Cristina deverá ir a Brasília prestar depoimento à Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

?O plano de proteção já atendeu mais de 800 pessoas. Desde 1995, quando foi criado, duas pessoas morreram: uma se suicidou e outra adoeceu?, disse Miranda.

Paulo Sérgio Pinheiro deverá pedir proteção a todos os jornalistas cujos nomes estão no dossiê entregue pelo sindicato do DF. No documento, constam os nomes de Alexandre Medeiros, obrigado a abandonar o trabalho no Morro da Mangueira, e Eduardo Faustini, do Espírito Santo. Os nomes de Gisele Vaz e Marcos Rotta, da TV A Crítica (filiada ao SBT), de Manaus (AM), Amaury Ribeiro, da IstoÉ, Kátia Brasil, da Folha de S. Paulo, e Ana Cecília, do jornal A Crítica, também constam no dossiê. Eles denunciaram a exploração sexual de adolescentes de Manaus. Policiais, políticos e juízes estão envolvidos no tráfico de mulheres.”

 

JORNALISTAS AMEAÇADOS

“SJPDF faz dossiê com nomes de jornalistas ameaçados”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 23/7/02

“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal tem um encontro nesta quarta-feira (24/07) com o secretário executivo de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro. ?Vamos entregar um dossiê mostrando a violência contra jornalistas?, explicou Paulo Miranda, diretor do sindicato.

No documento constam nomes como Cristina Guimarães, ex-produtora da TV Globo, os três colegas que, junto com ela, fizeram a série de reportagens Feira de drogas (Tyndaro Menezes, Flávio Fachel e Renata Lyra), exibida no Jornal Nacional, Maura Fraga, André Junqueira, entre outros.

O objetivo da reunião, segundo Miranda, é mostrar que o Rio não é a única cidade que merece atenção das autoridades quando o assunto é risco no exercício da profissão do profissional de imprensa. ?Vamos pedir providências?, finaliza.”

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“Empresa de segurança poderá treinar jornalistas no Rio”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 23/7/02

“Na coluna desta terça-feira (23/07), o jornalista César Giobbi, do Estado de S. Paulo, revela que a Rede Globo vai receber uma equipe da Centurion em setembro. Os profissionais da empresa de segurança inglesa, segundo a notícia, vão dar treinamento aos repórteres e produtores da emissora. A Globo não confirma a informação, mas a Centurion possui know-how em técnicas de proteção a jornalistas. Em sua carteira de clientes estão a BBC, Reuters, The New York Times, Associated Press Television, the Reuters Foundation e Newsforce.

O curso para jornalistas chama-se Hostile Environment (Ambiente Hostil) e aborda técnicas para lidar com situações difíceis como condições climáticas perigosas, extrema pobreza, alta taxa de criminalidade, desastres naturais, ditaduras ou governos não-amigáveis, fanatismo religioso, atividades terroristas e, é claro, ambientes de guerra.

Quem pensa que os alunos vão aprender a ser soldados está muito enganado. Apesar de o curso ter sido elaborado por ex-fuzileiros navais e jornalistas ingleses no final da década de 90 para que repórteres da BBC pudessem cobrir o conflito na Iugoslávia, o programa de hoje está muito mais focado na melhor maneira de ensinar jornalistas a avaliar riscos em coberturas. Porém, atualmente, a BBC não permite que nenhum jornalista vá a zonas de conflito sem passar pelo treinamento da Centurion.

No manual que a Centurion adota em cursos para jornalistas são destacados os seguintes pontos:

– aumento da capacidade de proteger a si mesmo em áreas perigosas;

– identificação de perigos numa pauta aparentemente inofensiva;

– treinamento para não se tornar alvo de balas;

– avaliação dos erros do passado (próprios ou de colegas);

– apreensão de experiências desenvolvidas em ambientes civis e nas forças armadas;

– avaliação de questões de segurança durante o trabalho sempre que necessário, tornando essa prática uma rotina.”

 

LIBERDADE DE IMPRENSA

“Imprensa brasileira é parcialmente livre, diz relatório da ONU”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 24/7/02

“O Brasil é um país parcialmente livre quando se trata de liberdade de imprensa. A classificação é do relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, divulgado nesta terça-feira (23/07), que avalia a objetividade da mídia e a liberdade de expressão (a avaliação varia entre 0 e 100 – quanto menor a nota, maior a liberdade de imprensa). A Noruega ficou em primeiro lugar, ganhando nota cinco, enquanto o Brasil ganhou 31.

Segundo o documento, nos últimos 20 anos, a imprensa livre conseguiu avançar graças às garantias legais e constitucionais da liberdade de expressão e à redução das restrições. Mas são poucos os países que possuem leis de liberdade de imprensa. O relatório cita dados da Ong Freedom House: só em poucas novas democracias é que a liberdade de expressão é comparável à das democracias estabelecidas. Estão na lista da FH países da Europa Central e do Leste e os países bálticos, além de vários países da América Latina e alguns da África, como Maurícias, Senegal e África do Sul. ?Para serem plurais e independentes, os meios de comunicação têm que ser livres, não só do controle do Estado, mas também das pressões empresariais e políticas?, diz o relatório.

O documento lembra que, embora em muitos países a liberdade de imprensa é garantida por lei, os governos encontram maneiras de controlar a mídia. ?No Chile, o ?desrespeito à autoridade? é um crime contra a segurança do Estado e, apesar de existir a Lei de Imprensa de 2001, restrições à liberdade de expressão ainda impregnam a legislação chilena – onde as leis de difamação que o regime de Augusto Pinochet usou muito ainda estão em vigor?, diz em certo trecho.

Mas a internet é uma fonte de informação alternativa, ?vencendo, muitas vezes, as restrições impostas à imprensa, rádio e televisão institucionalizadas. Para milhares de iugoslavos, nos meses que levaram às eleições de setembro de 2000, a internet tornou-se a única maneira dos partidos da oposição, dos meios de comunicação independentes e dos rivais de Slobodan Milosevic se comunicarem com o público?.

Um dos pontos abordados é a concentração de veículos nas mãos da propriedade privada. No Reino Unido, por exemplo, 85% dos jornais diários pertencem a grupos privados de comunicação. Nos EUA, seis empresas controlam a maior parte da mídia. Mas 60% das estações de TV de todo o mundo pertencem ao setor público. ?A Televisa do México e a Globo do Brasil são dois dos maiores monopólios de comunicação do mundo, controlados por indivíduos e suas famílias, abrangendo todos os aspectos da produção e distribuição de televisão, rádio, filme, vídeo e grande parte das indústrias publicitárias dos respectivos países?.

Cento e vinte e cinco países, com 62% da população mundial, possuem uma imprensa livre ou parcialmente livre. A imprensa em 61 países, com 36% da população mundial, ainda sofre sérias restrições.

Outros dados referem-se ao número de diários no mundo. Diz o relatório que, entre 1970 e 1996, praticamente duplicou a quantidade de jornais nos países em desenvolvimento. Passaram de 29 para 60 exemplares por mil habitantes. O número de TVs aumentou 16 vezes.

Ainda segundo o documento, a informação vem perdendo espaço para programas de entretenimento em estações de rádio e TV no mundo.

A ONU defende que a mídia desempenha três papéis importantes para a formação de um governo democrático: como um fórum cívico, promovendo debates de todos os pontos de vista; como agente mobilizador; e como vigilantes, controlando abusos do poder.”