Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Moacir Japiassu

JORNAL DA IMPRENÇA

“Eita curço bom!”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 15/01/04

“O site Em Off, comandado por uns amigos secretos que temos no Ceará (não incluam Celsinho Neto, porque este é amigo declarado e descarado), denunciaram esta semana a existência de um completo Curso de Jornalismo On Line por modicíssimos… quarenta reais!!!. Janistraquis ficou tão encantado que vai fazer a inscrição ainda hoje. Leiam:

?E para quem achava que nada mais de aviltante ou vilipendioso poderia ser feito à profissão de jornalista, após a abertura para a criação de ?cursos? de jornalismo sem qualquer critério, eis que surge o curso de jornalismo on line. Por apenas R$ 40,00 – isso mesmo, quarenta reais – o indivíduo pode fazer o tal ?curso? através da rede mundial de computadores. A aberração é oferecida pelo sítio de um tal ?curso 24 horas?, que além de ?jornalismo? também oferece, dentre outros, ?curso? de redação on line por irrisórios R$ 35,00. Detalhe: o curso inteiro de ?jornalismo on line? custa R$ 40,00.

No sítio do tal curso está publicado: ?No curso de Jornalismo On Line, você saberá das principais tendências do jornalismo na internet, aprenderá a ser um Cyber Repórter de sucesso e produzir sua própria publicação digital, poderá observar como os principais jornalistas do mundo montam seus planejamentos para uma reportagem (tanto pela internet, como pessoalmente), além de diversas dicas de como um jornalista deve agir em determinadas situações?. E como os jornalistas que atuam legalmente, que seguiram a lei, graduaram-se em curso de nível superior devem agir nessa determinada situação? Indignar-se apenas não basta.?

Nem ele agüenta

Deu no UOL Últimas Notícias:

Acusado de matar chanceler sueca diz ter sido guiado por Jesus

08h30 – 12/01/2004

ESTOCOLMO (Reuters) – O assassino confesso da ministra das Relações Exteriores da Suécia Anna Lindh disse que esfaqueou a política por determinação de Jesus, afirmou a polícia na segunda-feira.

Janistraquis ficou perplexo mas entendeu a grave situação: ?Considerado, não quero desrespeitar a fé de ninguém, mas se Jesus anda escutando rádio de madrugada e já atentou para o que fazem em seu santo nome, certamente perdeu a cabeça e começa a reagir. Esperamos, todavia, que abandone o varejo, parta logo para o atacado e inicie farta distribuição de raios sobre a cabeça de quem merece…?.

?Indioma? difícil

O considerado Celso Mattos, que costuma acordar cedo pra dedéu, nos enviou a seguinte mensagem:

?Apesar de não nos conhecermos pessoalmente, fui assíduo leitor de Perdão, leitores na outrora saudosa Imprensa. Dia desses lembrei-me de seu álter Janistraquis — se me permite. Estava eu começando a saborear meu café da manhã quando aquele apresentador que substitui o Renato Machado de vez em quando no Bom Dia Brasil, naquela parte em que são ?lidas? as manchetes dos principais jornais estrangeiros, sapeca: ?Coronel diz que a princesa Diana teria morrido grávida?. A notícia em inglês dizia que um legista (coroner) afirmara tal coisa.Quase engasguei com minha fatia de pão de fôrma!?

Pois é, Celso; Janistraquis, que foi o primeiro a ler sua mensagem, deu uma gargalhada tão indecente que a dentadura voou longe!

História da saga…

Nosso diretor em Brasília, Roldão Simas Filho, leu na Revista de Domingo de O Globo de 4 de janeiro, sobre a minissérie Les Thibault, da francesa TV5: ?Os quatro capítulos, com uma hora e meia cada um, contam a história da saga de uma família burguesa na primeira metade do século XIX.?

Impressionado, o mestre comentou: ?Puxa! Deve ser muito boa a história da saga…?.

Na verdade, a ação de Os Thibault, de Roger Martin du Gard, um dos monumentos da literatura universal, desenvolve-se a partir do final do Século 19; trata-se do grande romance da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), lançado pela antiga Editora Globo, de Porto Alegre, nos anos 40.

Em 2001, o hoje editor da Editora W11, Wagner Carelli, na época diretor da Globo, lançou num belo estojo os cinco volumes do romance. A este humilde colunista coube a felicidade e a honra de escrever a apresentação da obra, que está nas livrarias. Vale a pena conhecer.

Plantando bobagem

Do diretor de nossa sucursal paulistana, Daniel Sottomaior:

?Levi?s fecha últimas fábricas nos EUA. Este foi o título muito correto de uma matéria do Estadão de 10 de janeiro, porém o lead referiu-se duas vezes ao fechamento de ?plantas industriais? da Levi?s nos EUA. Será que além de jeans eles passaram a fabricar vegetais mutantes em linhas de produção?

Plant é uma daquelas palavras cuja errônea tradução literal já ?pegou?, é bem possível que brevemente seja até dicionarizada, mas continua sendo de doer. Dói mais ainda de ver que o título apresentou a tradução correta (?fábrica?).

Ou o tradutor mudou de idéia no meio do caminho ou um consciencioso mas apressado redator consertou somente o título e não se deu ao trabalho de ler o resto.?

Chamem Herzog!

Do leitor Aldo Renato Soares:

?Deu no jornal Terra on line ( edição da quarta-feira, 7 de janeiro) a seguinte nota: Transatlântico que traz turistas ao Rio será fichado.

Como seria? Imagino que tirariam o navio do mar e o colariam sobre uma imensa lagoa de tinta para colher suas digitais…?.

Janistraquis garante que você só se espantou porque não viu Fitzcarraldo, aquele filme de Werner Herzog. Pois o maluco do Karl Kinski convoca um bando de índios e os bravos guerreiros empurram um navio morro acima, transportando-o de um rio para o outro. Ora, diante de tal façanha, é fichinha fichar um transatlântico.

Palavrinha da pomba…

Celsinho Neto, que dirige a sucursal desta coluna no Ceará e circunvizinhança, despachou de Fortaleza:

?Considerado Janistraquis, leia esta beleza que o simpático jornal Diário do Nordeste perpetrou na editoria de política, sobre uma paraíso chamado Tribunal de Contas do Estado:

?A mensagem do governador deveria ter sido encaminhada ontem, logo após a circulação do Diário Oficial do Estado, datado do dia 24, com o ato aposentatório do conselheiro Francisco de Assis Coelho de Albuquerque.?

Procurei em diversos dicionários, até em livros de termos jurídicos, e não encontrei o diabo da palavra ?aposentatório?. Acho que o redator aposentou o bom senso…?.

Nota dez

O melhor texto da semana vem do talento do jornalista e escritor Augusto Nunes, em sua coluna do site No Mínimo:

A voz dos olhares

11.01.2004 | Na primeira noite do ano, estou outra vez no quarto que ainda é meu na casa de minha mãe. Lá me esperam os avós, alojados em retratos nas paredes. Percorreram trajetórias bem distintas, mas todos se assemelham nos olhares. São sisudos, severos, solenes. Parecem quase tristes de tão graves. Resgatei-os um a um, e já há algum tempo enfim nos juntamos para o convívio negado pelas trapaças da vida. Antônio, Honória e Emílio sequer me viram nascer. E eu nem tinha 12 anos quando Amábile me deixou órfão dos pais de meus pais(…)

Errei, sim!

?MALDITO VERBO ? Deu no Jornal da Zona Sul, de São Paulo, no altivo editorial intitulado Porque o Brasil não vai para frente: ?(…) está tudo errado, os nossos dirigentes são um péssimo exemplo, pois onde a fumaça a fogo?. Janistraquis teve pena do redator: ?Coitado, ainda não foi apresentado ao verbo haver…?. (setembro de 1992)”

 

CONCERTO PARA…

“Japiassu rege um grande concerto”, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 19/01/04

“Ninguém sabe xingar tão esplendidamente como os personagens criados por Moacir Japiassu, reafirma ?Concerto para Paixão e Desatino?, o romance mais recente do grande escritor. O ?fela da puta? que o coronel paraibano berra, murmura ou só desenha em pensamento é insulto mesmo. Não há como duvidar. É agravo feroz, bala fundida nos escuros da alma e endereçada à testa do desafeto. Pronunciada à moda sertaneja, a ofensa não permite interpretações que possam abrandar-lhe o estrago. O significado é claro, e um só. O destinatário da expressão fica reduzido à condição de ?fela da puta? irrecorrível.

Raríssimos escritores conseguiram assimilar com tamanha naturalidade a linguagem dos viventes das terras da Paraíba, de Pernambuco e cercanias. O jornalista Moacir Japiassu se tornou conhecido e admirado sobretudo pelo texto invejável, amparado num vocabulário notavelmente rico, inventivo. O livro lançado há pouco informa que o escritor Japiassu domina por inteiro não só o português culto, mas também os dialetos falados naquele universo nordestino que abriga a trama desenvolvida com talento e competência de romancista maior.

Como avisa o subtítulo, trata-se de um romance montado sobre episódios reais ali ocorridos no prelúdio da Revolução de 1930. O climax é o assassinato de João Pessoa, presidente (assim eram denominados os governadores) da Paraíba por um adversário político, João Dantas. Além de João Pessoa, convalescente da derrota sofrida na eleição presidencial que disputara como vice do candidato Getúlio Vargas, desfilam pelas páginas outras figuras históricas e a procissão de personagens inventados por Japiassu.

Especialmente impressionante é o retrato, repleto de matizes, que parece ressuscitar José Américo de Almeida – escritor dos bons, chefe político admirado e temido e, na época, secretário de Segurança do governo do amigo João Pessoa. Pode-se captar o tom autoritário da voz do Doutor Zé Américo, mirar-lhe os olhos míopes camuflados por lentes grossas, acompanhá-lo na movimentação que precede o assassinato e seguir-lhe os passos nos dramáticos momentos posteriores.

Nessa terra conflagrada, e prestes a mergulhar numa zona de turbulências mais devastadoras, movem-se personagens que compõem o diversificado painel humano forjado pelos olhos do autor. Ele contempla todos os tipos com misericórdia. Há alguns canalhas absolutos, mas quase todas as figuras sugerem que, para Japiassu, não existem heróis sem pecados, e mesmo seres detestáveis são capazes de gestos generosos.

Merece figurar em qualquer antologia o menino sertanejo, filho de padre, que assovia como se abrigasse uma orquestra no peito, absorve partituras enormes depois de ouvi-las uma única vez, gosta de ler relíquias bibliográficas, seduz a professora protegida do coronel e, quando necessário, tortura com incomparável selvageria e mata com injeções de conteúdo apavorante, valendo-se de conhecimentos apreendidos como farmacêutico aprendiz.

Japiassu não procura explicar as coisas do mundo. Ele é um contador de coisas. Impossível saber, por exemplo, como agiria o autor caso fosse jurado no julgamento, que não houve, de João Dantas (aparentemente assassinado na cadeia onde aguardava a hora da verdade). Absolveria o réu? Votaria pela condenação? Difícil saber.

Não se veja quaisquer vestígios de omissão por trás de tais dúvidas. É que tanto João Pessoa quanto João Dantas, como todos os demais personagens, são exibidos por Japiassu com a nitidez que a compaixão relativiza.

É outra das muitas virtudes desse grande livro. Não pode deixar de ser lido por nenhum leitor que se dê ao respeito.”

 

LÍNGUA PORTUGUESA

“Novas palavras”, copyright Jornal do Brasil, 19/01/04

“O mais antigo computador eletrônico de que se tem notícia, o Colossus, inventado por Max H.A. Newman (1887-1985), era um trambolho de 1.500 válvulas e começou a funcionar em dezembro de 1943. Sua evolução foi rápida e hoje os computadores estão espalhados por todo o mundo.

O computador nos trouxe também palavras novas e ressuscitou outras, dando-lhes novos significados. É o caso de cursor, do latim ‘cursore’, nome dado, na Antiga Roma, ao escravo que acompanhava a pé a carruagem de seu senhor.

Designava também o mensageiro do papa. Com a evolução industrial, passou a denominar uma peça que corre ao lado de outra, como nas máquinas de escrever e de imprimir. Modernamente, o cursor é aquele pequeno sinal luminoso que acompanha as palavras escritas num computador, marcando sempre o último bite digitado.

Outra palavrinha que o computador nos trouxe é plugar, do inglês ?to plug?, ligar. É mais uma contribuição da informática para a língua portuguesa. Plugados a redes mundiais, os leitores podem ter acesso a informações disponíveis em mais de 2 mil bibliotecas. Também aqui houve inversão no tráfego. Em vez de o leitor ir a uma biblioteca de sua cidade, pode trazer bibliotecas de todo o mundo para dentro de seu computador.

E temos também a ?winchester?, do americano Oliver Fisher Winchester (1810-1880), que deu seu sobrenome à carabina que inventou, arma que logo mostrou sua eficiência. Em 1866, durante a guerra civil norte-americana, cerca de 300 índios armados com carabinas dessa marca venceram 260 soldados comandados pelo famoso general George Armstrong Custer (1839-1876), contribuindo para a valorização da arma. Ficou tão popular o nome ?winchester? que passou dali em diante a designar qualquer outro fuzil de repetição, ainda que de outras marcas.

Pois o computador se apropriou também da ?winchester? em sua guerra contra nós. O vocábulo hoje é utilizado para designar um componente fundamental do computador, dada a analogia entre os sistemas: acionados, um dispara balas; o outro, sinais.

Outras palavras que o computador nos trouxe foram ?bit?e ?bang?, do inglês, abreviação de ?binary digit?, dígito binário, e ?bang?, onomatopéia de estrondo. Os dois vocábulos já têm grafia em nossa língua: bite e bangue. O bite designa a menor quantidade de informação que pode ser armazenada por processos informatizados.

Há ainda o chipe, do inglês ?chip?, literalmente lasca de madeira. Item importante nos computadores, ?chip? entrou para o português sem alteração na grafia, significando plaqueta de silício com transistores e diodos. Hoje já grafamos chipe sem remorso. Temos ainda deletar, do inglês ?delete?, por sua vez vindo do latim ?delere?, apagar, riscar, radical de indelével, que não se apaga.

Criamos também o verbo acessar, formado a partir de acesso, do latim ?accessu?, ingresso. Designa o ato de entrar num programa de computador, embora seu significado seja mais abrangente.

Na noite de 31 de dezembro de 1999 estivemos ameaçados pelo ?bug? do milênio. Em inglês, ?bug? significa besouro, mariposa, inseto. Sua provável origem é ?bud? ou ?budde?, uma planta cujas folhas são fechadas e dificilmente se abrem. O besouro foi comparado a ela. Sua origem mais remota é Belzebu, o príncipe dos demônios, conhecido também como o senhor das moscas, do hebraico ?baal? (senhor) e ?zebub? (mosca).

Em 1945, um inseto (?bug?, em inglês) entrou no computador de um professor da Universidade de Harvard e causou uma bagunça danada. Dali por diante erro de programação foi batizado ?bug?, que no português poderia ser grafado bugue, por analogia com bigue-bangue, do inglês ?big bang?, o começo do universo, segundo os físicos.”