Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Moacir Japiassu

MAINARDI POR JANISTRAQUIS

“Diogo Mainardi, nosso ídolo”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 26/02/03

“Quando éramos jovens, nossa admiração transbordava por Baby Pignatari, milionário paulista que comia todas as mulheres bonitas do mundo. Comeu até Linda Christian, mulher de Tyrone Power, a quem teria passado na cara também, caso a morte não tivesse colhido ainda moço o protagonista de E Agora Brilha o Sol… Hoje, todavia, alquebrados representantes da chamada Geração-Viagra, mais que tudo nesta vida desprovida de paixões nos fascina o lazer, a vagabundagem.

Foi por isso que Janistraquis elegeu o colunista da indispensável Veja, Diogo Mainardi, como ídolo de nossa outonal existência, depois da leitura de sua coluna na revista que está nas bancas. Leiam e sintam como nos enche de água de coco a amarga boca: ?(…) Pago 4.000 reais mensais por um apartamentinho em Ipanema (…) Passo o dia inteiro no terraço, controlando o orelhão da esquina com binóculos?.

Meu secretário, que nos anos 60 trabalhou de faxineiro no Country Club, elevou aos céus os olhos úmidos: ?Considerado, isto sim é que é vida; e, se o Diogo quiser, pode se afastar disso tudo quando bem entender; basta inverter o binóculo ou voltar para Veneza, onde mora e um palácio está sempre à sua espera!?. Manifestei apenas uma curiosidade: ?E quando é que ele escreve a coluna para a indispensável??. Janistraquis deu de ombros: ?Ora, considerado, que pergunta mais besta! Isso ele dita pro cachorro, quando pinta uma horinha de folga!?.

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O sonho de consumo

Estava eu a cuidar de uma ceia já atrasadíssima, quando escutei a gargalhada de Janistraquis, que via o grande clássico carioca Vasco X Olaria. ?Considerado, ô considerado!?, gritou o vascaíno; ?você não imagina o que um gênio aqui da Globo acaba de falar!?. Abandonei em meio o tempero do bife e corri à frente da TV, na esperança de que o gênio em questão fosse José Roberto Wright, pois tudo o que este fez e faz no futebol, e que jamais interessou à Polícia, interessa-me sobremaneira. ?Não gravei; porém, ou foi o ex-juiz ladrão ou o narrador Luís Roberto; um deles acaba de garantir que o ?sonho de consumo? do Corinthians é ganhar a Taça Libertadores!!! Sonho de consumo, considerado! Sonho de consumo! Precisamos botar isso na coluna!?. A frase legendava a notícia de um gol do chamado ?Curingão?, naquele momento a jogar contra o Fenix, do Uruguai.

Respondi que era melhor deixar pra lá, porque, se a besteira tivesse nascido mesmo da lavra do hoje ?juiz dos juízes?, não merecia atenção; afinal, o elemento nem jornalista é. ?Zé Roberto não é jornalista?! Claro que é, peixe, claro que é! Aliás, devemos considerar jornalistas todos aqueles que falam ou escrevem na mídia, principalmente agora que o diploma está indo pro brejo. Todos os comentaristas, os de arbitragem e os que pontificam aqui no Comunique-se, são jornalistas! E por falar no diploma, se abrirem uma cota para os animais de estimação, pretendo inscrever o Bush no vestibular de jornalismo; você sabe como ele adora o Jornal Nacional!?.

Bush é, evidentemente, nosso cão de guarda.

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Errei, sim!

?Mais uma do arquivo secreto do Estadão, devassado por espião desta coluna: ?Em São Paulo, a fauna silvestre está semi-extinta por completo??. (Agosto/95)”

 

TV PÚBLICA

“Por uma voz do Brasil na TV”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 24/02/03

“Assim como a guerra é importante demais para ser deixada nas mãos dos militares, também sempre acreditei que televisão era algo sério demais para ser deixada somente para os nossos empresários. Ainda mais considerando nossa velha tradição de ?relações perigosas? de nossos barões da comunicação com o poder político e econômico. Somados ainda a um desprezo histórico pelos princípios mais básicos da cidadania e dos compromissos com a educação. Bem sabemos que essas relações ?delicadas? com o poder, infelizmente, ainda estão baseadas em velhos conceitos como o direito inalienável a ?capitanias hereditárias?, subserviência aos valores culturais e aos investimentos externos e de relações de trabalho muito próximas do autoritarismo e do regime escravocrata. Em caso de crise, não há problema. Continua-se tudo do mesmo jeito, mas não se perde a oportunidade para demitir alguns desafetos e outros tantos considerados indiferentes ou ?tímidos?.

É uma receita antiga que inclui sempre os mesmos ingredientes em dosagens diferentes. Gestão empresarial na área de comunicação costuma estar fundamentada em muita arrogância, algumas pitadas de uma administração considerada quase sempre ?temerária?, pouquíssimo espírito público e, em caso de alguns fracassos ou trapalhadas aqui e acolá, apoio irrestrito do dinheiro público para os aliados políticos. Se a empresa de comunicação estiver localizada na capitania da Bahia, não esquecer de adicionar quantidades generosas de ?política do sarapatel?. Não tem erro. A televisão, o jornalismo e a política garantem sempre que o Brasil continue o mesmo. Ao atuarem sempre unidos, essas poderosas instituições nacionais impedem quaisquer possibilidades de mudanças de verdade. Mudanças brasileiras? Costumam ficar restritas à inofensiva atividade de algumas poucas empresas de transporte.

É nesse contexto que a nossa imprensa tem nos relembrado nos últimos dias de nossos velhos problemas em uma verdadeira avalanche de péssimas notícias de crise nas TVs por assinatura, demissões na TV Cultura de São Paulo e até mesmo em empresas altamente lucrativas como o SBT. Qualquer desculpa é uma boa desculpa para os nossos empresários de comunicação decidirem por políticas de demissões sumárias e aumento de índices de lucratividade. Os possíveis investidores externos que aguardam a oportunidade de bons negócios em nossos meios de comunicação costumam adorar tanto essas políticas ?sociais? como os inacreditáveis índices econômicos.

Para um país com baixíssimos níveis de auto-estima, que anseia mais uma vez, por soluções e mudanças milagrosas, a situação é, sem dúvida, delicada e merece alguma reflexão. Afinal, no Brasil, em termos de comunicação, há muitos anos confundimos meio com mensagem, TV pública de qualidade com TV educativa que não educa, direito à informação com autoritarismo, baixaria na TV com elitismo, qualidade com controle e rádio com televisão.

Senão, vejamos. Responda rápido: Em tempos de campanha nacional contra a baixaria na TV, qual é o pior programa da TV brasileira? Difícil, não? Afinal, são tantos exemplos de programas ruins, tantas baixarias no ar que nos vemos forçados a ter que pensar muito, antes de uma escolha definitiva e unânime. Também é verdade que, até hoje, ninguém conseguiu definir muito bem o que seja ?realmente? uma baixaria na TV, considerando o nosso histórico com muitos exemplos de programas ruins tanto no campo do entretenimento como no jornalismo televisivo.

Mas e no rádio? Responda rápido. Qual é o nosso pior programa? Aquele programa que ao ouvirmos somente as primeiras notas do tema de abertura, corremos de forma quase automática para desligar o aparelho, sempre o mais rápido possível? Adivinhou? Não foi difícil. Sem dúvida, é… ?A Voz do Brasil?, mais conhecida como a ?hora de desligar o rádio? e correr para a TV. Afinal, qualquer coisa é melhor do que uma hora de ?notícias do Planalto?, do poder legislativo, do poder judiciário e do poder de irritar e desrespeitar os direitos de escolha dos ouvintes brasileiros. Na Voz do Brasil qualquer um se habilita a dizer qualquer coisa para todo o país sem se arriscar a não ser ouvido. O ouvinte pode desligar o rádio mas não tem o direito a uma alternativa simples como trocar de estação. Não adiantaria nada mesmo. Apesar de todas as nossas ?mudanças?, as estações de rádio brasileiras continuam obrigadas a repetir durante a mesma longa hora o mesmíssimo longo programa radiofônico.

Não vou perder mais tempo discutindo aqui a possível importância estratégica desse tipo de proposta comunicacional para a preservação da democracia brasileira, a necessidade imperiosa de uma política de ?obrigatoriedade? para manter o país ?bem? informado que queiramos ou não, ou para que e para quem serve esse tipo de programação. Minha questão é bastante simples: se a Voz do Brasil é tão importante para o governo, para os políticos e, certamente, para os funcionários que a produzem, se ela é necessária ou até mesmo ?imexível?, por que, então, não temos também um equivalente da Voz do Brasil, o mesmo tipo de programa, no mesmo formato, todos os dias, na mesma hora, em outros meios de comunicação de massa como… as televisões brasileiras? Por que não?

Creio que temos um caso óbvio de discriminação e preconceito contra a poderosa TV brasileira. Se a Voz do Brasil é tão boa deveria ser transmitida também pela TV. Ou será que esse tipo de programa tem, necessariamente, que continuar a ser um privilégio restrito ao meio radiofônico brasileiro. Preconceito contra a TV?

Neste momento que enfrentamos tantas crises em nosso país e em nossa televisão, que lutamos a favor de mudanças e contra baixarias na TV, talvez também seja a hora de pensar em outras formas de ?baixarias? tanto no rádio como em televisões públicas, comunitárias, universitárias ou educativas. Baixaria na TV não é só palavrão, cenas de nudismo ou grosserias. Temos que, primeiro, parar e decidir o que é ?realmente? baixaria em um país com tantas notícias assustadoras todos os dias em nossos telejornais, em nossos radiojornais, mas nunca no jornalismo chapa-branca de programas como a famigerada Voz do Brasil.

Mas se vamos ser obrigados a ouvir esse tipo de programação por que não pensar alternativas mais educativas e menos inúteis? Vocês já imaginaram se, ao invés de sermos ?forçados? a ver novelas todos os dias, na mesma hora, em todos os canais, fossemos ?estimulados? a assistir regularmente bons programas de alfabetização para adultos, cursos profissionalizantes ou até mesmo bons telejornais produzidos por TV públicas que sejam mais do que meros cabides de emprego ou produtoras de programas que ninguém assiste? Assim como no rádio, provavelmente todos desligariam as TVs. Mas, assim como no caso da Voz do Brasil, talvez alguém, em algum lugar do país, por não ter alternativa, acabe aprendendo alguma coisa útil com a Televisão. Infelizmente, para muitos telespectadores brasileiros, programas informativos e educativos de qualidade na TV, em horário nobre, em todos os canais ao mesmo tempo, também seriam considerados como verdadeiras ?baixarias? na TV.

Mas se não tem outro jeito, se vamos continuar privilegiando o meio radiofônico com a programação obrigatória da Voz do Brasil, também deveríamos aproveitar o clima de ?mudanças? e exigir uma Voz do Brasil com imagem na TV. Nada mais justo. Um dia, a velha Voz do Brasil, finalmente, será reconhecida não pela qualidade ou valor jornalístico da sua programação. Ironicamente, garante somente o afastamento do público de rádio e contribui para o sucesso da ?baixaria? na TV brasileira em seu horário mais nobre.”

 

RÁDIO EM GUARIBAS

“A próxima prioridade: uma rádio”, copyright O Globo, 2/03/03

Os moradores de Guaribas estão em clima de ?Você decide?. A dúvida é o nome da emissora de rádio FM que estão criando: Rádio Confusões, em homenagem ao Parque Nacional da Serra das Confusões, no qual Guaribas está inserida, ou Rádio Esperança. Apesar de ainda não ter nome, a rádio será inaugurada este mês após investimentos de R$ 13 mil.

A idéia de criar uma rádio comunitária surgiu da própria população de Guaribas, que anunciou o desejo em pesquisa realizada pelo Conselho Gestor do Programa Fome Zero para saber quais as prioridades da comunidade. Na pesquisa, a rádio ganhou de questões importantes e urgentes como saúde e educação.

A escolha faz sentido: a comunicação telefônica é deficiente, o município é isolado. A cidade de médio porte mais próxima, São Raimundo Nonato, é separada de Guaribas por estradas de terra e cheias de buracos que são percorridas numa média de quatro horas.

– A rádio vai ser um grande instrumento para a comunidade – afirma Humberto Coelho Silva, diretor da Associação das Rádios Comunitárias do Piauí.

Ele diz que a rádio comunitária de Guaribas servirá para educação, ensinamento de medidas preventivas de saúde, discussão dos problemas dos habitantes e comunicação entre o Brasil e a cidade-modelo do Programa Fome Zero:

– A questão musical não vai ser prioritária na rádio de Guaribas. Quando tiver música, será a piauiense porque acho um escândalo uma rádio comunitária tocar ?Egüinha Pocotó?.”