Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Márcia Pimentel

JORNALISMO SEM DIPLOMA

“Diploma: corporativismo ou defesa da informação como bem”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 28/1/03

“A exigência, ou não, do diploma de jornalismo para o exercício da profissão tem dividido a categoria. Em meio a tantas discussões, não vi, até agora, tratarem da posição estratégica ocupada hoje pela informação e comunicação na manutenção da ordem hegemônica globalizada. Muito menos da função dos meios de comunicação como produtores de uma lingüística da realidade que dá validade e legitimação a esta ordem.

Para a sociedade brasileira decidir sobre a necessidade, ou não, do diploma de jornalista é necessário entender que a informação é um bem público e que, hoje, o real é o fato narrado pelos meios de comunicação. A responsabilidade do profissional de jornalismo não é pequena. Ele é o operário que produz a narrativa da realidade factual para a sociedade. Se nos aprofundarmos sobre essa questão, veremos que a decisão sobre o diploma será, em última instância, de caráter político.

O procurador regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, André de Carvalho Ramos, que conclui sobre a inexigibilidade do diploma, alega que a regulamentação de qualquer profissão ?somente poderá legitimar-se, num regime democrático, quando vise, realmente, a satisfazer o bem público?. E ele está certo, mas se equivoca quando deixa de perceber a informação como um dos mais preciosos bens de nossa sociedade pós-moderna. Ele também parece ignorar que a informação, nas mãos de um veículo privado, é mercadoria a serviço de seus interesses. Enquanto que, para a sociedade – que enxerga o real a partir da narrativa dos veículos (privados, no caso do Brasil) – ela deve ser um bem público que reflita os interesses, conflitos e convergências de todos os seus segmentos.

Se as pesquisas contemporâneas apontam a informação e a comunicação como os mais estratégicos bens para a organização e manutenção da hegemonia da atual ordem global, qual o motivo que está por trás da vontade de se querer esfacelar a regulamentação do profissional responsável pela mediação entre o fato e a sua narração para o público? Será que a sociedade brasileira deve delegar apenas aos veículos, que tratam a informação como um bem privado, a responsabilidade sobre os critérios de formação dos profissionais que devem tratar a informação como um bem público? Será que o jornalista não deve ser, cada vez mais, um profissional amarrado por um Código de Ética e que esteja preparado para enxergar o conjunto da sociedade e o contexto da informação e da comunicação na organização da ordem hegemônica? Não seria o caso da criação de um Conselho Nacional de Jornalismo (e seus subseqüentes Conselhos Regionais), com autoridade para punir aqueles que ferissem a ética profissional, ou cometessem dolosa imprecisão na apuração e narração da realidade?

Caberia aqui, também, uma discussão sobre as escolas de Jornalismo. Se elas não estão formando adequadamente profissionais (problema que, aliás, atinge igualmente a todas as profissões), a discussão é outra. E, pesquisando sobre a grade curricular de algumas de nossas faculdades, percebe-se que várias delas estão defasadas diante das mudanças na ordem contemporânea. Mas esta discussão renderia um capítulo à parte.

Voltando ao parecer do procurador André de Carvalho Ramos: ele afirma, dentre outras coisas, que a exigência do diploma de jornalista fere a liberdade de expressão e que, nos ?países civilizados? (cita a Europa e os EUA) ?a liberdade de expressão através da imprensa é um direito fundamental das pessoas? e que lá não existe a exigência do diploma. Ele confunde a liberdade de expressão com o exercício profissional. Uma coisa é a expressão. Outra, o exercício do jornalismo, que é a apuração, a compreensão contextualizada, o registro e a narração das diversas expressões. Mas não me deterei aqui, e sim sobre o modelo que ele optou ao utilizar o argumento de ?civilidade? que, por si só, não denota algo positivo. Ainda bem que a crítica ao modelo de ocupação da ?civilizada? Copacabana serviu para que outras cidades brasileiras, com crescimento mais recente, produzissem códigos de posturas mais humanizados. Mas a questão básica é que o procurador omitiu que, na Europa, o Rádio e a Televisão estão majoritariamente sob controle público e não privado, como ocorre no Brasil.

Com relação aos EUA, cito Michael Hardt e Antonio Negri, dois importantes teóricos contemporâneos, só para esclarecer a quem serve o modelo americano de informação e comunicação: ?a legitimação da nova ordem não nasceu de acordos internacionais preexistentes… nasceu pelo menos em parte das indústrias de comunicação?. Por acaso, as indústrias expoentes de comunicação estão aonde? É claro que a ordem hegemônica se interessa pela adoção do seu modelo. Cabe então a nós, brasileiros, lançarmos o nosso olhar não apenas para fora, mas também para dentro. Só assim, poderemos optar pelo modelo de profissional que melhor serve à nossa sociedade no atual contexto.

(*) jornalista e atriz. Atualmente iniciando o mestrado em Comunicação e Informação na UFF.”

 

ENTREVISTA / CHICO OTÁVIO

“Força de vontade, paciência e isenção?”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 29/1/03

“Chico Otávio chegou à redação de Comunique-se para participar do ?Papo na Redação?, nesta quarta-feira (29/01), com pontualidade britânica. Essa foi a primeira vez que um convidado vem até à redação para participar do bate-papo. Durante a conversa, o repórter especial do Globo falou sobre assuntos como jornalismo investigativo, obrigatoriedade do diploma, ética na profissão e caso Tim Lopes.

Chico Otávio disse que a experiência do bate-papo foi interessante: ?As perguntas foram muito bem elaboradas. As respostas custaram um pouco a sair. Estou mais treinado a perguntar do que responder, mas foi interessante estar do outro lado e observar a reação das pessoas?. O repórter também elogiou o trabalho do Comunique-se: ?O site tem uma contribuição importante, pois ajuda a aproximar pessoas que se distanciam por causa da rotina?.

Leia a íntegra do bate-papo com Chico Otávio:

[16:57:09] – Marcela Ximenes (Diretor – Redação – TV Bandeirantes – RO) pergunta: Vc sentiu-se acuado depois da morte de Tim Lopes?

Chico Otávio responde: Oi, Marcela! A morte do colega, é óbvio, preocupa, mas não me senti acuado. Considero um fato isolado e incapaz de deter o trabalho dos jornalistas. Houve uma resposta e os criminosos foram presos.

[16:59:24] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: Aqui na Amazônia temos um celeiro de boas pautas. Sobre a região, vc já teve a oportunidade de fazer matéria (s)? Qual (is)?

Chico Otávio responde: Sou apaixonado por assuntos ligados à Amazônia, calculo ter estado na região dez vezes, em viagens que me renderam várias séries de reportagens. A minha monografia de conclusão de um curso de pós-graduação é exatamente sobre a Amazônia e concordo com você: a região é um celeiro de boas pautas.

[17:00:47] – Márcio Kroehn (Estudante) pergunta: Chico, de todos os 6 prêmios Esso, qual foi a matéria que você gostou mais de trabalhar?

Chico Otávio responde: Bom, Márcio, acho que todas, mas como gosto muito do tema meio-ambiente tive uma satisfação maior em ter participado da equipe que venceu o Pêmio Esso nesta categoria, em 2002, com a série ?Planeta Terra?.

[17:02:57] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: E qual o assunto que mais lhe fascina por essas bandas (Amazônia)?

Chico Otávio responde: Meio-ambiente é um deles, mas já escrevi sobre vários assuntos entre os quais a Zona Franca de Manaus, o Projeto Jari, a estrada de ferro Madeira-Mamoré, os problemas de fronteira, narcotráfico, guerrilha, entre outros.

[17:05:27] – Fernando F. da Silva (Diagramador – Diário da Borborema – PB – Campina Grande) pergunta: Está sendo criada uma associação para representar os repórteres investigativos. Você acha necessário? Ou acredita que a sua empresa é que deve oferecer os meios para sua segurança e o desenvolvimento do trabalho investigativo?

Chico Otávio responde: Apoio totalmente Fernando, porque toda iniciativa que provoca um debate sobre o assunto é válida. A associação servirá principalmente para cuidar da defesa de nossa prerrogativas profissionais e contribuir na remoção de alguns obstáculos que atrapalham o chamado jornalismo investigativo, como o problema de acesso a documentos oficiais. Com relação à segurança, se o tipo de trabalho que você estiver fazendo exigir isso, a empresa deve oferecer os meios necessários.

[17:06:43] – Fundação Amaral Carvalho (Assessora de Comunicação – Fundação Amaral Carvalho/Jaú-SP)pergunta: Você poderia citar uma matéria que gostaria de ter feito?

Chico Otávio responde: Têm muitas que ainda estão engavetadas por falta de tempo e de oportunidade. Só não posso revelar porque algum concorrente pode pensar em fazê-las antes.

[17:08:45] – Flávia Domingues (Estudante – Iniciativa Jovem) pergunta: Como vc começou sua carreira?

Chico Otávio responde: Comecei como estagiário no jornal de bairros Bom Dia, da Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Entrei como arte-finalista, pois pensava em fazer publicidade. Porém, certa ocasião, o editor me convidou para reforçar a equipe que cobriria o Carnaval na região. Meus primeiros trabalhos foram sobre os bailes de Clubes e condomínios. Nunca mais parei.

[17:10:29] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: Algum desses assuntos referentes ao Norte do País lhe rendeu alguma premiação? Qual?

Chico Otávio responde: Eu fui premiado com essa de formação científica em 2002 e em 1998 fui finalista do Esso na mesma categoria e no Líbero Badaró com uma série sobre a exploração de madeira na Amazônia, para mim um dos melhores trabalhos que já fiz no Globo.

[17:13:55] – Ramon Gusmão (Estudante) pergunta: Chico, vc acha que o conhecimento em Direito é essencial para um repórter investigativo, levando em consideração a reportagem pela qual recebeu o Prêmio Esso, no ano passado?

Chico Otávio responde: Acho essencial qualquer setor da redação. Até mesmo na Editoria de Esportes, hoje se vê matérias sobre CPI da Nike e da CBF que exigem do repórter algum conhecimento de Direito. Nas editorias de Cultura e Entretenimento, aparecem as questões ligadas ao direito autoral e ao direito de imagem. Além disso, existe ainda a pressão da indústria do dano moral, que mudou a rotina de um repórter e o obrigou a tomar cuidados que antes não eram tão necessários.

[17:17:18] – Vitor Casimiro (Repórter – Educacional – PR) pergunta: O que você chama de meios necessários ao jornalismo investigativo? A propósito, quando acontece algo com um repórter investigativo culpa-se da situação do país à imprudência do repórter. E a empresa onde fica nisso?

Chico Otávio responde: Vitor, considero os meios necessários o amplo acesso à informação e a garantia para o exercício profissional. Na maioria das vezes, estes são problemas que aparecem num trabalho investigativo. Por isso, considero importante uma discussão voltada para essas dificuldades. Além disso, claro, o profissional precisa conhecer ?o caminho das pedras?: saber garimpar um documento no cartório, usar a tecnologia, entender de legislação. Neste aspecto, a troca de experiências, via associação, será fundamental.

[17:20:27] – Ramon Gusmão (Estudante) pergunta: Chico, a vontade de ser reconhecido, premiado, condecorado, isto é, a vaidade pessoal pela realização de trabalhos de grande repercussão não pode atrapalhar o real interesse do jornalismo, que é o interesse público?

Chico Otávio responde: Depende muito da reação de cada um. Prêmios sempre mexem com a vaidade das pessoas. Mas, se recebidos com maturidade, podem até servir para qualificar ainda mais o seu trabalho, o que acabará resultando num produto mais sintonizado com o interesse público.

[17:21:56] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: Chico, quanto às reportagens investigativas (denúncias) – qual o principal atributo que um repórter precisa para finalizar um bom trabalho?

Chico Otávio responde: Força de vontade, porque neste tipo de matéria as dificuldades são maiores, paciência e isenção para que você não cometa nenhuma injustiça.

[17:24:11] – Flávia Domingues (Estudante – Iniciativa Jovem) pergunta: O início de sua carreira foi fácil . Vc sentia segurança quando era estagiário ou a experiência só vem com o tempo? Dei-nos dicas.

Chico Otávio responde: Vida de estagiário nunca é tão fácil. Principalmente quando vai chegando o momento da profissionalização. Minha carreira é resultado da experiência que adquiri desde o início, na cobertura do Carnaval, numa pracinha de Jacarepaguá, até a cobertura das eleições presidenciais de 2002.

[17:25:35] – Ramon Gusmão (Estudante) pergunta: Chico, você acredita que o melhor para um jornalista, atualmente, é a especialização, sem deixar de lado a visão global que é indispensável?

Chico Otávio responde: Concordo plenamente Ramon. Só lamento que não exista tanta alternativa hoje fora das redações para especialização de um jornalista. Com as redações cada vez mais enxutas, é difícil você ter chance de se dedicar a uma determinada área de atuação porque a rotina não permite.

[17:27:00] – Márcio Kroehn (Estudante) pergunta: Como é o seu dia-a-dia? Telefone e redação? Ou rua e contatos?

Chico Otávio responde: A rua é o lugar mais fundamental para o repórter. Não gosto muito de passar o dia grudado no telefone, mas reconheço que muitas vezes é um meio necessário para o andamento da matéria, principalmente em temas que pedem muita informação.

[17:28:04] – Mario Mendonca (Profissional Contratado – Cbn/Pantanal) pergunta: Chico, a parte sacerdotal da profissão supera limites até mesmo de segurança pessoal. O que o jornalista deve fazer para preservando esses limites, preservar a sua segurança pessoal ? É possivel ??

Chico Otávio responde: A vida é preciosa e o jornalista não deve ultrapassar limites. Prudência nunca é demais.

[17:31:54] – Pâmela Oliveira (Estudante) pergunta: boa tarde, Chico , Além dos prêmios, quais as repercussões das matérias de denúncia que você tem feito? Você já sofreu ameaças? Em relação à matéria dos juízes, que te rendeu o último Esso, qual o resultado da denúncia? Você tem acompanhado?

Chico Otávio responde: Todas as matérias tiveram boa repercussão. No caso da LBV, por exemplo, as matérias serviram para esclarecer a imensa legião de doadores o destino que era dado ao dinheiro. No caso Riocentro, o exército mudou uma posição histórica e mentirosa a respeito do episódio. Com relação aos juízes, o processo é bem mais lento. Os três estão indiciados e respondem a inquéritos no Superior Tribunal de Justiça. Como têm de amplos direitos de defesa, usam o que é possível para protelar o caso. Esses inquéritos podem ser acompanhados pela internet.

[17:34:56] – Vito Aluizio Sepulveda Diniz (Assessor de Imprensa – Secretaria Municipal de Fazenda – RJ)pergunta: Boa tarde Chico. Tem-se falado muito na questão da ética no jornalismo. Recentemente tivemos discussões sobre o tema, com o caso ocorrido com um colega que deu repercussão nacional. Como avalia a ética, hoje, no jornalismo?

Chico Otávio responde: Recorro à Cláudio Abramo: a ética do jornalista é a ética do marceneiro, do cidadão comum. Não existem cuidados específicos e nem o jornalista deve se considerar um super-homem, acima do bem e do mal. Lamentavelmente, muitos erros acontecem por causa da pressa e da concorrência. Na minha opinião, os jornalistas deveriam debater mais os problemas que nos levam a cometer esse tipo de erro.

[17:38:51] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: Chico, o que vc acha da celeuma envolvendo a não obrigatoriedade do diploma para jornalistas?

Chico Otávio responde: Penso que a academia continua sendo o melhor espaço para a formação de jornalistas. Um termômetro disso pode ser observado nas grandes redações do país, que apostam cada vez mais nos quadros formados nas universidades. Tem gente que não pensa assim e acha que uma redação heterogênea, com médicos, advogados e engenheiros, seria mais produtiva. No passado, era assim e não me parece que se fazia naquela época um jornalismo melhor do que o de hoje. Com todo o respeito aos colegas do passado, eram até maiores os problemas ligados à ética.

[17:41:22] – Flávia Domingues (Estudante – Iniciativa Jovem) pergunta: Alguma vez vc já produziu alguma matéria com uma forte denúcia envolvendo alguém de grande influência e poder e acabou por ter essa matéria vetada por algum motivo. Como é essa relação entre a linha editorial do jornal e o repórter que tem o papel de ser um porta-voz da informação?

Chico Otávio responde: Nunca tive problema ligado a gente de influência. Meu trabalho, mesmo quando esbarrou em pessoas poderosas, sempre contou com o apoio irrestrito dos editores. Na minha redação, as exigências e eventuais interferências num trabalho deste gênero dizem repeito apenas ao cuidado na apuração. Nunca percebi a linha editorial avançar sobre a reportagem.

[17:43:27] – Edelman do Brasil (Profissional Contratado – Edelman) pergunta: Olá Chico! Como assessora de imprensa para grandes empresas, gostaria de saber se você costuma dar palestras para executivos, mostrando como funciona a apuração de uma denúncia e como são descobertos os escândalos nas empresas…Vc aceitaria um convite?

Chico Otávio responde: Claro, com prazer! Não há nenhum segredo no meu trabalho. Infelizmente, não tive tanta oportunidade de debater em empresas. Meu contato mais próximo foi a participação, como debatedor, num curso MBA de Marketing na Fundação Getúlio Vargas.

[17:46:05] – Wagner Alledo Filho (Redator – Gazeta de Bebedouro – SP – Bebedouro) pergunta: Nas pequenas redações, muitas vezes os repórteres não conseguem o ?respaldo? que precisam para produzir matérias de denúncias, embora às vezes tenham boas pautas. Matérias como as produzidas por você, que geram grande repercussão nacional, são exclusivas de ?grandes? veículos de comunicação?

Chico Otávio responde: Pelo que tenho percebido nas últimas premiações, as pequenas redações, principalmente de jornais regionais, têm demonstrado presença na linha do jornalismo investigativo. Mas concordo que as dificuldades são maiores, porque a pressão está muito próxima do ambiente de trabalho do repórter. Porém, sou otimista e vejo uma evolução muito grande no trabalho das pequenas redações.

[17:48:54] – Fernando F. da Silva (Diagramador – Diário da Borborema – PB – Campina Grande) pergunta: Chico, estamos numa iminente guerra entre EUA e Iraque. Se O Globo o convocasse para a cobertura, você iria? Mais: você acha que há alguma diferença entre o trabalho de um repórter de guerra e um repórter investigativo em locais como o Morro do Alemão, onde o Tim Lopes foi assassinado?

Chico Otávio responde: Iria com entusiasmo, mas como disse Lourival Sant?Anna, as oportunidades são raras para os jornalistas brasileiros, porque a imprensa nacional arrecada em reais e é obrigada a pagar em dólar por uma viagem com esse objetivo. Vejo uma diferença brutal entre ser correspondente de guerra e atuar como repórter em locais perigosos da cidade. Não estamos vivendo um clima de guerrilha urbana aqui.

[17:50:01] – Fernanda Miguel da Silva (Estudante) pergunta: Vc tem vontade de trabalha em TV?

Chico Otávio responde: Tenho muita vontade de trabalhar na TV, mas acho que a minha timidez pode atrapalhar um pouco. Também não sei quanto tempo levaria para me adaptar a esse tipo de jornalismo, mais ágil e dependente da imagem.

[17:51:37] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: Estou curiosa, qual foi o assunto abordado em sua monografia de conclusão de pós-graduação?

Chico Otávio responde: E uma abordagem histórica sobre as políticas públicas para a Amazônia, desde a colonização até a chegada do conceito de desenvolvimento sustentável.

[17:54:45] – Flávia Domingues (Estudante – Iniciativa Jovem) pergunta: Vc já recebeu algum tipo de proposta que para que alguma matéria não saísse por parte dos denunciados ou pessoas com interesse em abafar tal informação?

Chico Otávio responde: Nunca recebi nenhuma proposta, mas enfrentei as mais inusitadas formas de pressão. Houve casos em que, a pessoa denunciada vazou propositalmente a matéria para um outro veículo, mais confiável, para que ele desse a notícia na frente e esvaziasse o meu trabalho. O que lamento neste tipo de atitude é que o denunciado, em vez de defender-se, procura meios paralelos de obstruir o seu trabalho. Posso dizer que isso tem sido uma atitude muito comum no meu trabalho ultimamente.

[17:56:22] – Wagner Alledo Filho (Redator – Gazeta de Bebedouro – SP – Bebedouro) pergunta: Como é sua relação com as assessorias de imprensa? Você acha que essa é uma função jornalística ou que apenas utiliza ?ferramentas? do jornalismo?

Chico Otávio responde: É uma função jornalística que merece respeito. Os jornalistas precisam reconhecer que, nas duas últimas décadas, a profissionalização das assessorias contribuiu muito para a qualidade do trabalho da imprensa.

[17:58:39] – Daniella Duarte (Coordenador / Chefe de Produção – Infoglobo Comunicação – RJ) pergunta: As empresas de comunicação precisam dar lucro. O diretor de redação hoje em dia precisa ser, além de jornalista, um bom administrador. Você acha que esta condição limita o bom jornalismo?

Chico Otávio responde: De fato, diretores de redação precisam ter uma visão empresarial, porque estão muitas vezes gerindo unidades com mais de 300 profissionais. Porém, não acho que isso limite o trabalho dos jornalistas por ele comandados. Em muitos casos, essa capacidade gerencial até facilita a atividade do repórter.

[18:00:51] – Bruna Capistrano (Estagiário – Panrotas – RJ) pergunta: O que te despertou para o jornalismo investigativo?

Chico Otávio responde: Bruna, não me considero um jornalista investigativo. Na maior parte do meu tempo, o que faço é o bom e velho jornalismo diário, de coletivas, inaugurações, eventos, etc. Porém, em determinadas ocasiões, tenho chance de desenvolver um trabalho mais profundo. Nesse momento, sem dúvida, sinto bem mais prazer no que estou fazendo. Muitas vezes são matérias investigativas.

[18:02:45] – Jecyone Pinheiro (Produtor – TV Globo – PA – TV Liberal) pergunta: Vc tem experiência em outras áreas como o rádio ou assessoria de imprensa?

Chico Otávio responde: Já trabalhei, há muitos anos, na assessoria de imprensa do Sindicato dos Securitários do Rio. Era uma época em que o sindicalismo era bem mais atuante e gostei da experência. Em rádio, nunca tive oportunidade, mas confesso uma certa curiosidade de conhecer uma redação dessa área.

[18:05:18] – Daniela Leiras (Estagiária – O Globo) pergunta: Oi Chico, você acha que a cobertura realizada pela imprensa das últimas eleições presidenciais foi mais isenta que nos outros anos?

Chico Otávio responde: Lula disse isso! E concordo com ele. Na redação onde trabalho, por exemplo, a preocupação com o equilíbrio foi constante, a ponto de estarmos ligados o tempo todo no monitoramento feito por um site independente, do IUPERJ, que media o espaço dedicado pelos jornais diários a cada um os principais candidatos a presidente.

[18:08:18] – Paulo Castelobranco (Cronista – Brasilia em Dia) pergunta: A questão do narcotráfico é um assunto delicado para ser tratado de forma incisiva por um repórter como você? Você não acha que está na hora de serem aprofundadas as investigações jornalísticas sobre este assunto?

Chico Otávio responde: A imprensa, nos últimos tempos, sempre procurou investigar a fundo o narcotráfico. De fato, ainda não houve um grande resultado. Mas se somarmos as matérias mais importantes que saíram sobre esse assunto ultimamente, veremos o envolvimento de parlamentares, grandes empresários e até membros do judiciário envolvidos com a máfia das drogas. E isso não é pouco, se levarmos em conta que esse tipo de acusado não figurava o noticiário há 10 ou 20 anos atrás.”