Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Muito barulho por nada

AL-JAZIRA

Criada em 1996, a pequena emissora de TV do Catar se tornou mundialmente conhecida logo após o 11 de setembro, ao dar voz aos terroristas da al-Qaeda. Desde então, o argumento comumente usado para explicar a badalação em torno da al-Jazira é que ela tem liberdade para criticar líderes árabes e para discutir qualquer assunto. Mas esta é a história que muitos da mídia ocidental compraram, afirma Amir Taheri [The Wall Street Journal, 28/12/01]. Para este jornalista iraniano, um exame mais acurado mostra que o canal causa mais danos ao debate democrático do que as maçantes emissoras árabes de quem vem roubando telespectadores.

Sobre o suposto tratamento crítico dado a líderes árabes, Taheri diz que a al-Jazira é, pelo contrário, muito respeitosa com governos nada democráticos. A Arábia Saudita é sempre mencionada com reverência e a Síria foi criticada apenas uma vez, em junho passado, muito delicadamente; ainda assim, o caso levou à expulsão do correspondente em Damasco. Os únicos países árabes sistematicamente condenados pela rede são Argélia e Kuwait ? de acordo com o jornalista, o primeiro porque combateu terroristas islâmicos e o segundo por ter se recusado a ser engolido pelo Iraque.

Na opinião do autor, o segredo do sucesso da al-Jazira é dizer aos árabes o que eles já tomam por certo. A emissora favorece radicais islâmicos em seus talk-shows porque assume que o islamismo crescente no mundo árabe é secretamente apoiado pela maioria, e que esta é fortemente antiamericana. A principal falha do canal é não abrir espaço para a rica diversidade de opiniões da comunidade ? em que os islâmicos representam uma minoria ? e pretender "resolver" todos os assuntos que se propõe a discutir repetindo o slogan "o Islã é a solução". Temas centrais como desenvolvimento econômico, privatização e reforma educacional nunca são debatidos em termos políticos, e a rede não ousa pôr em pauta a ausência de eleições livres ou o status da mulher na sociedade islâmica.

O mundo áaacute;rabe anseia por um canal de notícias verdadeiramente independente e profissional, diz. Enquanto as emissoras estatais tremem de medo de discutir política, a al-Jazira mostra-se mais interessada em estimular paixões do que em encorajar um entendimento racional do assunto. Para Taheri, a solução tem de vir de estações privadas que competem para oferecer um debate realmente democrático.

PROTESTO DO ISLÃ

Arábia Saudita e Irã divulgaram manifesto conjunto no qual condenam o que consideram "campanha mal-intencionada" da mídia ocidental contra o Islã desde os atentados terroristas de 11 de setembro. No documento, de 31 de dezembro, ambos prometeram confrontar a imagem que o Ocidente veicula mostrando que o Islamismo prega a paz e a justiça.

Segundo a AP (1/1/02), o manifesto foi editado pelo Parlamento Iraniano e pelo Conselho da Shura saudita – assessores nomeados que auxiliam o rei em suas decisões, e é o que existe de mais parecido com um parlamento na Arábia Saudita. O texto, elaborado durante visita àquele país do presidente da assembléia iraniana, Mahdi Karrubi, segue a linha de pensamento de diplomatas e editoriais de jornais sauditas. "Os dois países consideram a campanha uma conspiração para desfigurar a imagem do Islã e enfraquecer as nações islâmicas e árabes", diz a nota.

Os sauditas vêm sofrendo críticas na imprensa ocidental por supostamente não estarem colaborando o suficiente com a campanha anti-terror liderada pelos EUA, porque, embora seja terra natal de pelo menos metade dos 19 terroristas até agora identificados, a Arábia Saudita não conseguiu prender ninguém ligado aos ataques de setembro. O governo Bush, entretanto, já manifestou sua satisfação com a cooperação do rei.