Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

My Brazilian Brazil, my ‘mulato’ inzoneiro

ESTRANGEIRISMOS

Antônio José do Espírito Santo (*)

Penso que há uma série de abordagens possíveis na discussão do assunto "língua e estrangeirismos", que é, a rigor, tão complexo quanto antigo, remontando à própria necessidade da fundação de uma mentalidade nacional, autenticamente moderna e brasileira que, infelizmente, não pode ainda ser observada entre nós.

Talvez, se visto com mais profundidade, o tema esteja ligado diretamente à baixa taxa de auto-estima da população brasileira, dominada que sempre esteve por estratégias ou modelos de desenvolvimento econômico elitistas, nos quais até hoje predomina a submissão de todos aos interesses de alguns poucos proprietários da maioria dos bens e riquezas existentes no Brasil, cujos interesses financeiros têm estado sempre voltados para fora do país.

O quadro, longe de poder ser resolvido com algum tipo de nacionalismo simplista, é marcado como se vê pela perpetuação daquela mesma velha e arcaica aristocracia do tempo do Império, camaleonicamente se eternizando por meio de diversos mecanismos de reciclagem de suas aparências, novo figurino, novos discursos, nova composição de lideranças, novas táticas de alternância de poder (entre os quais os golpes de estado) e outros artifícios do cinismo.

Um grande Puerto Rico

Um exemplo típico da decantada usura dessas nossas elites (no mau sentido ,é claro), talvez as mais estúpidas e ignorantes do planeta. Se é óbvio que estas nossas "elites" não se reconhecem absolutamente como brasileiras, é óbvio do mesmo modo supor que, controladoras que são de quase todos os meios de mídia e de difusão cultural, não seria de se estranhar que sua influência atinja a maioria da população, alienando-a. É necessário, portanto, identificar, sem xenofobia barata, quais são os mecanismos utilizados pelos agentes desta aculturação, deste esforço para contaminar com idéias e comportamento estrangeiros todas as demais instâncias do pensamento nacional ou da cultura brasileira.

Descobrir por seus mecanismos as reais intenções desta gente. Este deve ser o nosso objetivo. A hipocrisia social, disseminada por estratégias midiáticas, é talvez dentre estes mecanismos o mais utilizado. O eixo destas estratégias está com certeza na indústria cultural de massa. O exemplo mais claro disso é o racismo à brasileira, uma doença gravíssima, que abastarda e amesquinha a nossa sociedade e que, apesar disso, não é curada jamais porque a sua própria existência e virulência não são sequer admitidas pela mídia.

Talvez seja o caso, portanto, de se empreender uma grande campanha nacional de contra-informação, no âmbito dos amplos e modernos mecanismos de mídia e de difusão cultural de que já dispomos, que vise reconhecer e desmascarar um a um os sórdidos, embora sutis, mecanismos usados em nossa sociedade para nos submeter a todos aos interesses desta estúpida (porém eficiente) minoria e seus propagadores.

A que tipo de gente interessa no Brasil o uso de estrangeirismos ou, mais precisamente, de "americanismos" que, mais do que nunca, estão amesquinhando nossa personalidade brasileira, impedindo que atinjamos qualquer tipo de modernidade nacional autêntica?

Acho que deve ser com algo assim que devemos brigar, em 2003 e todo o sempre, por nossa sanidade cultural. Antes que viremos um grande Puerto Rico.

(*) Músico e pesquisador da UERJ, Rio de Janeiro

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