Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nelson de Sá

CRÍTICA DIÁRIA

"No ar", copyright Folha de S. Paulo

"A imagem é deles ? 24/08/02

– A minha imagem é minha!

Era Ciro Gomes, avançando contra o câmera do PT que gravou a presença dele, em ação de campanha, num prédio público do Ceará. A Globo reproduziu as imagens.

É começar o horário eleitoral que os candidatos, os ?homens públicos?, passam a pensar assim -que têm o domínio sobre suas imagens, que nada pode sair de seu controle.

Como se fosse um ator de novela, uma celebridade, sua imagem pública é sua para vender como quiser.

Ronaldo, o Fenômeno, foi filmado pelos marqueteiros de Ciro dando uma camiseta para Patrícia Pillar, mas proibiu a reprodução na propaganda. A imagem é dele. Ciro se imagina agora um Ronaldo.

Lula se imagina um Ronaldo. Ele tem Duda Mendonça para cuidar de sua imagem, assim como José Serra tem Nizan Guanaes e mais um batalhão de marqueteiros.

É disso que Boris Casoy falou, ao reagir à estréia do horário eleitoral, no início da semana, questionando o ?monólogo? dos candidatos.

Sustentada no horário nobre com dinheiro público, a imagem de Lula, Ciro, Serra é só deles, sem que o eleitor -que paga a propaganda- tenha direito a contraponto.

Sobra o monólogo de um para atacar o outro. Mas, como diz Franklin Martins, em referência aos últimos ataques recíprocos de Serra e Ciro:

– Espetáculo de acusações em que ninguém está preocupado em provar nada.

E é assim, informado por este ?túmulo da verdade?, para citar Boris Casoy uma vez mais, que o eleitor brasileiro vai às urnas -eleger mais um presidente da República.

Seguindo com Franklin Martins, comentarista das Globos, ele avalia que a decisão de Tasso Jereissati, de apoiar Ciro publicamente, ?é uma senha para que outros tucanos possam entrar na mesma picada que ele está abrindo?.

De fato, mas não apenas outros tucanos, outros políticos do PSDB. Por toda parte, Ciro já não é Collor -agora que Tasso está com ele.

Alexandre Garcia, com poucas horas de diferença do aviso do colega de Globo, dizia que Tasso formalizou o abandono de Serra ?incomodado pelas críticas tucanas contra seu amigo e companheiro Ciro?.

É assim, aqui e ali na opinião pública, que se inicia a cada eleição a debandada na direção do novo poder.

Lula Malufou ? 23/08/02

Duda Mendonça, quatro anos atrás, dividiu seus serviços entre Paulo Maluf e Miguel Arraes, então candidatos a governador, entre inúmeros outros clientes.

Não elegeu nenhum dos dois, mas deixou para a história da propaganda política a ?marca? Farmácia do Povo.

Foi um esforço para colar a imagem malufista à do socialista Arraes -que havia implantado a fórmula das farmácias de remédio barato.

O marqueteiro tentava adaptar para o país uma técnica que reelegeu Bill Clinton, a da ?triangulação?, que visa atenuar a cor política do candidato aproximando-o de posições opostas às suas.

Agora Mendonça dá mais um passo na geléia ideológica que se vai instalando no país.

O programa de ontem à tarde introduziu a ?marca? Farmácia Popular, com elogios à experiência de Arraes em Pernambuco, mas buscando aproximar-se da ?marca? malufista.

Lula e Maluf estão em aproximação de imagem desde a contratação do marqueteiro pelo PT, mas a ?dobradinha? só se mostrou recentemente.

Um dos primeiros sinais foi uma entrevista de Lula à rádio Bandeirantes, num horário de discurso altamente conservador da emissora. Lula cortejou livremente o eleitorado do antigo adversário, dizendo:

– O Maluf diz que amadureci e pode votar em mim. Antigamente eu recusaria, hoje não. Ele entendeu que votar em mim é a atitude sensata.

Quanto ao pepebista, ontem ele dizia que ?quem vota em Lula vota em Maluf?. Também mencionou Ciro e José Serra, mas eles chocam muito menos. Ou nada.

O certo é que Maluf já não se apresenta mais, na campanha, como antipetista. Pelo contrário -aqui e ali, encontra sempre um meio de elogiar Lula.

Quanto a José Genoino, bem, ele leva jeito de não estar entre as prioridades de ambos.

Começou com Jutahy Magalhães, o mais falante dos tucanos da campanha de Serra, que saiu dizendo que os astros da seleção podem não ter gostado do abuso eleitoral do jogo. Daí, talvez, a derrota.

Depois foi Lula quem falou do ?mau negócio? que é misturar seleção com eleição.

E começaram a pipocar os bastidores dos jogadores que se recusaram a cumprir as ordens de Ricardo Teixeira, de entrar nas campanhas de Ciro e Tasso Jereissati.

Mais do que a derrota, é aí que ?o tiro pode sair pela culatra?.

FHC e Tasso mandam beijos ? 22/08/02

Com tucanos como FHC e Tasso Jereissati por companheiros, José Serra não precisa de adversários.

A farsa da carta de Tasso, se afastando da campanha do PSDB, veio no tempo exato de sustentar outro espetáculo dele, o do jogo que armou com Ricardo Teixeira, da CBF.

Os telejornais mostraram Ciro Gomes, a quem Tasso mandou beijos em pleno Jornal Nacional, recebendo a camisa 23 das mãos do atacante Kaká -que cuidou de destacar o número de Ciro para as câmeras.

O jogador do São Paulo não sabe o que perdeu por se meter em política partidária. Ele pode ter afundado sua imagem, o que Ronaldo e outros evitaram, mas o candidato de Tasso deve ter somado vários votos no Estado que mais vem cortejando, São Paulo.

Por outro lado, enquanto armava a cena para Tasso, dizendo que ?a seleção é de todo mundo?, Ricardo Teixeira impedia, segundo relatos, a entrada de militantes de outros políticos no estádio.

Mas, vai saber, ?o tiro pode ter saído pela culatra?, como comentou o âncora Boris Casoy, sublinhando a derrota da seleção diante de um Ciro vestido com a camisa 23.

De sua parte, a Globo destacou o quanto pôde a ?decepção? com a seleção, a começar das manchetes do JN.

Tasso, do PSDB, prefere o ?amigo? a José Serra, do PSDB. FHC, também do PSDB, já começou a semana conversando a sós com Lula, do PT, e assim abrindo caminho para toda sorte de especulação contra Serra. Ontem, foi além.

Do Uruguai, o presidente ?elogiou a firmeza das posições de Tasso?, segundo a Globo, chegando perto de apoiar a decisão do cearense de trocar o candidato tucano por outro.

E não parou aí. De passagem, FHC fez uma crítica indireta mas bastante clara à campanha de Serra, dizendo ser contra ?ataques pessoais?.

Franklin Martins, enquanto assiste ao teatro da campanha eleitoral, não esquece assuntos tão ou mais importantes, ainda que subterrâneos:

– ACM sofreu uma importante derrota. Foi eleito presidente do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia o candidato independente, batendo o nome apoiado por ACM. A nova corregedora do TRE também não reza pela cartilha do carlismo, que há 40 anos controlava a Justiça Eleitoral da Bahia.

Não é pouca coragem, em se tratando do imperador.

O delírio e o túmulo ? 21/08/02

O que não faltou ontem foi opinião sobre a estréia da propaganda. O mais definitivo -do alto de sua experiência- foi Boris Casoy:

– Um monólogo chatérrimo, com apelo emocional. É o delírio dos marqueteiros e o túmulo da verdade.

E assim foram: monólogos apelativos, com ?conflito? entre o candidato e seu Gugu ou sua Patrícia Pillar. Mas é preciso avaliar, então segue.

Duda Mendonça tomou dois caminhos. À tarde, concentrou fogo numa única mensagem, emprego. Levou Lula a Angra dos Reis para dizer que, se eleito, as plataformas serão feitas no país por brasileiros empregados, e não em Singapura, como quer a Petrobras.

À noite, ficou mostrando João Sayad, José Alencar e vendendo a solidez, o equilíbrio do novo Lula. De quebra, lançou mais um primoroso clipe/comercial, com o sorriso aberto do petista e a frase sedutora:

– Chegou a hora, Brasil.

Com tempo e tudo mais em excesso, Nizan Guanaes e seus muitos colegas marqueteiros de José Serra foram para todo lado. O candidato falou em emprego, segurança pública, educação, saúde, exportação, sem esquecer a origem humilde.

Mas a opulência reluzente nas imagens e mensagens, apesar do protagonista sofrível, traziam a marca de Guanaes.

Um clipe/comercial revelou o poder de quem já elegeu duas vezes o presidente. Num abuso de superprodução, desfilaram artistas em suas personagens ?populares?, da televisão, da Globo ao SBT. Gugu louvou a ?coragem? de Serra, que até já ?escapou da morte?.

Causou impacto sobretudo à noite, quando do lado contrário surgiu não Patrícia Pillar, como ocorreu no horário da tarde, mas Ciro Gomes.

Um Ciro até falante, tratando os brasileiros por ?meus irmãos e minhas irmãs?, num eco de ?minha gente?, e cercado de imagens em verde-e-amarelo, como aquelas que elegeram um presidente em 89.

Mas ele tem pouco, pouco tempo, relativamente.

Guanaes e Serra sabem que o destino pode ser decidido esta semana. Na estréia, lembraram até palavrões de Ciro.

Enquanto falava a operários de estaleiro, no horário diurno, o confiável Lula se encontrava com banqueiros na Febraban, como mostrou, entre outros, o Jornal Nacional.

Foi elogiado, segundo a CBN, pelo ?discurso extremamente construtivo?."