Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá

ELEIÇÕES 2002

“No Ar”, copyright Folha de S. Paulo

“10/09/02 – O nascimento da tragédia

Falando ao site da Globo, Duda Mendonça garantiu que nem leva em consideração a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno:

– Chance zero.

Pode ser, o marqueteiro tem mesmo que se preparar para um segundo turno.

E ele, Duda, está aborrecido com a campanha petista até aqui, de comerciais e programas sóbrios demais. O que ele gosta é de musical.

É o que desde já promete para o segundo turno, retomando até o ?Lula lá? dos tempos em que o petista era um sonho, e não a realidade de hoje.

Para a tristeza do marqueteiro de Lula, a realidade pode estar dando certo demais.

Como está dando certo demais o trabalho do concorrente Nizan Guanaes, com José Serra.

O eventual segundo turno de ambos, Duda e Nizan, será uma disputa curiosa entre o baiano dionisíaco e o baiano apolíneo, na televisão.

Franklin Martins, comentarista das Globos, perdeu a paciência com o desespero de Ciro Gomes e equipe. Numa Globo, ele saiu dizendo:

– O baixo nível tomou conta da campanha. O candidato a vice Paulo Pereira da Silva passou de qualquer limite ao chamar a controladora Anadyr Rodrigues de mal-amada. Uma coisa horrível. O líder João Hermann foi no mesmo tom. Depois de chamar José Serra de bandoleiro e facínora, lançou insinuações de todo tipo contra o Tribunal Superior Eleitoral.

Em outra Globo:

– A Frente Trabalhista dá a entender que a ONU é que vai dizer se as eleições no Brasil são limpas. É uma piada. Pode acabar virando contra quem faz, porque é irresponsável. Passou a imagem de que somos uma republiqueta, que o Brasil não vale nada. É evidente que não é nada disso. A Frente Trabalhista, com truque, artifício de campanha, tenta passar a idéia de que há uma conspiração e por isso Ciro estaria com problema nas pesquisas.

Numa terceira Globo, por fim, sobre a pesquisa que, divulgada ontem, ainda conseguiu trazer Ciro à frente do tucano, mais Franklin Martins:

– É bom aguardar outras pesquisas…

A Frente Trabalhista fala em ?ditadura? porque foi derrotada em vários recursos na Justiça Eleitoral.

Mas nada se fala, nem mesmo o PT fala, Lula menos que todos, da prisão do líder dos sem-terra a cerca de um mês da eleição presidencial.

E se mostram as imagens no Jornal Nacional, mas político nenhum, Lula menos que todos, questiona ou sequer comenta os tiros contra o acampamento dos sem-terra.

6/09/02 – Serra com FHC

FHC falou no primeiro dia, semanas atrás, e depois sumiu da propaganda do tucano José Serra.

Dia após dia, o presidente e seu candidato só aparecem juntos na propaganda de Ciro Gomes, que quer vincular a imagem do adversário ao governo. Ontem mesmo foi assim, com um clipe de rap -grosseiro- sobre o desemprego e as promessas de ambos.

Mas de repente, espantosamente, FHC surgiu ao lado de Serra numa outra propaganda. Do PSDB.

É um comercial de José Aníbal. O presidente e o presidenciável aparecem entre os senadores com os quais Aníbal, que vai muito mal nas pesquisas para senador de São Paulo, quer se identificar.

Pelo jeito, alguém esqueceu de avisar ao presidente do PSDB do esforço de Serra de só tratar do futuro ?governo Serra?, não do passado.

Quanto à propaganda tucana, ela voltou inesperadamente à carga contra Ciro.

Na TV, à tarde, usou o próprio horário da Frente Trabalhista para, em resposta autorizada pela Justiça Eleitoral, deixar no ar frases como ?a verdade é um compromisso fundamental de José Serra? e ?nós continuaremos a usar o nosso tempo com equilíbrio?.

No rádio, prosseguiu o esforço de não deixar cair no esquecimento a ?brincadeira? de Ciro sobre Patrícia Pillar, ?brincadeira? que foi abandonada pelo Jornal Nacional e todos os demais noticiários.

Desta vez, a propaganda usou um protesto do Conselho da Condição Feminina para dizer que ?as mulheres brasileiras não aceitam as desculpas esfarrapadas de Ciro?.

Na TV, à noite, não se falou em Patrícia. Mas o programa foi todo para as mulheres -com a vice, Rita, em destaque. Nizan Guanaes, o marqueteiro, já está na fase de conquistar votos em nichos do ?mercado?.

Quanto a Ciro, ele continua às voltas com o vice que fez questão de manter.

Ontem, soltou nota acusando ministérios ?como o da Saúde, o do Trabalho e até a Corregedoria Geral da União? de serem ?usinas de falsas notícias e verdadeiras calúnias? contra Paulo Pereira da Silva.

Em 94, FHC trocou o vice ao primeiro sinal.

Nas manchetes do JN, Fátima Bernardes anuncia:

– O líder do MST José Rainha é preso.

No programa de Lula, lindas imagens da miséria no campo, mas nada de comprometimento com o MST. A reforma agrária só aparece na voz de um locutor, que garante:

– Uma reforma pacífica.”

05/09/02 – Mais frio, mais crítico

Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, falou que o eleitor está menos apaixonado, mais racional, e ecoou em Alexandre Garcia.

Um e outro devem saber, conhecedores que são das paixões irracionais dos brasileiros, de outras temporadas. No dizer de Garcia:

– O eleitor está mais frio, mais crítico em relação ao seu próprio candidato.

Deve haver razões as mais variadas para isso, mas uma delas pode ser lembrada desde logo. Jamais a Rede Globo fez uma cobertura de campanha presidencial com a proporção que faz este ano.

E jamais a Rede Globo foi tão agressiva, tão crítica, quanto nas longas entrevistas das últimas semanas no Jornal Nacional, no Jornal da Globo, no Bom Dia Brasil. Sobrou para os quatro presidenciáveis -diante do telespectador-eleitor.

A emissora, que sempre gosta de contar entre as suas glórias históricas o impeachment e as diretas-já, pode acrescentar mais essa. Politizou o eleitor brasileiro.

A campanha de José Serra nem começou a atacar Lula, pelo menos não da maneira organizada com que atacou Ciro Gomes, e o petista já parte para o confronto.

Os tucanos reclamaram da ?tabelinha? entre Lula, Ciro e Garotinho no debate da Record. De bate-pronto, Lula chamou Serra de ?chorão?:

– O candidato não quer o ônus da máquina do governo. Só quer o bônus.

Quanto a Ciro, como destacou o Jornal da Record, os repórteres ainda procuram tirar dele mais xingamentos ao tucano. Mas ele se recusa, cara amarrada, como se nem ouvisse.

A campanha de Ciro, se for descontada a emoção toda das estréias da indústria cultural, como no filme de ontem, amontoa más notícias.

Seus correligionários ficam responsabilizando um ao outro pelo tombo na intenção de voto -como Roberto Freire, ontem, com ACM. E seu vice, dia após dia, aparece na televisão ligado ou respondendo a denúncias de irregularidade.

Enquanto os outros três se ocupam uns dos outros, Garotinho está mais sorridente do que nunca. Garante à televisão, insistentemente:

– Vamos crescer e vamos para o segundo turno.

Faz até contas para provar, dizendo que vai herdar os pontos que Ciro e Serra vierem a perder. Portanto, como declarou ao Bom Dia Brasil, não é de seis pontos a diferença, mas de ?três, na verdade?.

E, claro, prosseguiu nos telejornais noturnos:

– Estou, com certeza, no segundo turno.

4/09/02 – Show de realidade

Em dia de opiniões sem fim sobre o segundo debate, Boris Casoy, o âncora que conseguiu evitar que Ciro Gomes e José Serra trocassem as ofensas pelos punhos, também deu a sua versão.

Para ele, ?o lamentável foi a troca de insultos?, é claro, mas o debate valeu, até porque é bem ?melhor do que o monólogo? do horário eleitoral.

O certo é que foi um programa e tanto, para a Record. Foi um ?Programa do Ratinho? com personagens e ?brigas? reais, como num ?reality show?.

Sobre quem ganhou ou perdeu, partidários de Serra e Ciro se lançaram a entrevistas óbvias na TV, com José Aníbal de um lado e Jorge Bornhausen de outro, por exemplo.

Casoy, depois de estar no fogo cruzado de Ciro e Serra, ouvindo grosserias, viu com bons olhos a participação de Lula -que, se fugiu das perguntas, pelo menos foi ao debate, o que outros líderes de pesquisas costumam evitar.

Ciro e Serra não ganharam, parece óbvio, com o bate-boca. A questão é ver quem perdeu mais com as agressões, relativamente, já que eles concorrem um com o outro.

Ciro estava mais próximo da histeria, mas pode-se dizer que, com o debate, pelo menos conseguiu abafar a declaração desastrosa que deu sobre sua ?companheira?, como ele chamou.

Serra repetiu, em boca própria, expressões usadas por Ciro, como ?aborto da natureza?. Ajudam a queimar o adversário, mas contaminam a ele mesmo, Serra.

O debate não deve ter afetado a pesquisa semanal do Ibope, fechada ainda na segunda-feira e apresentada ontem à noite no Jornal Nacional.

Mas os resultados poderiam servir de placar para o que se viu na Record: Ciro caiu, Serra não subiu. Somente os indecisos cresceram.

Serra e Ciro estão empatados agora em 17% -e bem perto de Garotinho, 11%.

A ?brincadeira? de Ciro com Patrícia Pillar virou tabu na TV toda, certamente para preservar a atriz, mas ninguém parece disposto a preservar o vice Paulo Pereira da Silva.

Ontem, longamente, uma vez mais, o JN bateu na ?suspeita de irregularidade no uso? de recursos públicos pela Força Sindical de Paulinho.

O programa de Serra voltou a atacar Ciro, relacionando-o a Collor em foto e atitudes. E Ciro voltou a atacar Serra, relacionando-o a FHC em imagens e declarações.

Longe disso, Duda Mendonça mostrou imagens emocionantes de Antonio Candido, de Celso Furtado etc. em apoio a Lula. Chico Buarque sorria.”

“Campanha Negativa”, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 4/09/02

“O debate entre presidenciáveis promovido pela TV Record, na noite de segunda-feira, marcou pelo menos duas mudanças em relação ao ocorrido em 4 de agosto na TV Bandeirantes. A rivalidade entre José Serra e Ciro Gomes tornou-se bem mais acirrada, tendo adentrado o terreno dos insultos; e houve uma nítida convergência entre os três candidatos de oposição nas críticas ao governo e a José Serra. Trata-se, evidentemente, de uma decorrência bastante compreensível da alteração repentina no quadro sucessório.

Está generalizado entre as assessorias dos presidenciáveis o diagnóstico sobre o que levou José Serra a praticamente anular, em poucos dias de campanha no rádio e na TV, toda a desvantagem que, nas pesquisas de intenção de voto, tinha em relação a Ciro Gomes. Os marqueteiros entendem que a exposição insistente de ataques à imagem do ex-governador do Ceará foi a responsável maior pela reviravolta. Daí parecem ter concluído que vale a pena utilizar a mesma estratégia de campanha negativa.

O interessante é notar que a aposta no conflito se desdobra diferentemente em cada candidatura, o que ficou patente no debate da Record. Luiz Inácio Lula da Silva e Anthony Garotinho como que estimularam a troca de farpas entre Ciro e Serra, confiando numa ?destruição mútua? que estimularia o desalento de eleitores tanto com o pepessista como com o tucano. Serra, que empatou com Ciro mas não o ultrapassou, manteve a linha de tentar mostrar as ?contradições? de seu oponente direto. Ciro Gomes, por seu turno, adotou de vez a tática de contragolpear Serra na mesma moeda.

Contingencialmente, o candidato do governo foi o alvo de várias linhas de tiro. Na lógica ?negativa?, quem ascende rapidamente, como ocorreu com Serra, se torna o alvo preferencial dos bombardeios. Resta saber até que ponto os eleitores vão responder favoravelmente à troca de ataques. A paciência do telespectador costuma colocar limites a esse tipo de estratégia. A campanha que primeiro perceber que essa fronteira foi ultrapassada tenderá, na reta final, a levar vantagem.”

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“Folha e UOL lançam projeto sobre políticos”, copyright Folha de S. Paulo, 6/09/02

“A Folha e o UOL (Universo Online) lançam na próxima segunda-feira, dia 9, o projeto Controle Público -um levantamento, disponível na internet, com os dados pessoais, eleitorais e patrimoniais de aproximadamente 6.000 políticos que participaram das eleições de 1998 e 2000 e participam da de 2002.

Seu site, www.controlepublico.com.br, estará no ar a partir do dia 11, quarta-feira.

O evento de lançamento será no auditório da Folha (al. Barão de Limeira 425, 9? andar, São Paulo), às 10h30 da manhã. Estarão presentes o presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, e do presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB-MG). Ambos falarão sobre a importância do acesso a documentos públicos.

A entrada é franca. Os interessados em participar devem fazer reservas pelo telefone 0/xx/11/3224-3473, das 10h às 17h.”

“Cartas do Leitor”, copyright Folha de S. Paulo

10/09/02

Eleição e Defesa

?Em relação à reportagem ?Lula estreita laços com militares? (Eleições 2002, pág. Especial 1, 5/9), assinada pelo jornalista Plínio Fraga, esclareço o que segue: 1) O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, não foi convidado para o encontro de Lula com militares da reserva, no Rio. E nem poderia sê-lo por se tratar de um ato eleitoral, do qual ministro nenhum pode participar, conforme previsto em lei. 2) O repórter cometeu um erro ao afirmar que o debate do pessoal da reserva com Lula será na Escola Superior de Guerra (ESG). Eventos político-partidários não podem ser realizados em órgãos públicos. Ao que me consta, o evento político será no hotel Glória. 3) O ex-ministro e general da reserva Leônidas Pires Gonçalves é, de fato, presidente de uma fundação, uma entidade civil.? Zenaide Azeredo, assessora de imprensa do Ministério da Defesa (Brasília, DF)

Resposta do repórter Plínio Fraga – O texto afirma que o ministro não seria convidado, como ratifica a carta. Sobre o local do encontro, leia a seção ?Erramos?, abaixo.

Maranhão

?Dirijo-me à Folha para manifestar surpresa e indignação em relação à reportagem ?Derrota no 1? turno ameaça o ?clã Sarney? (Eleições 2002, pág. Especial 8, 8/9), na qual o repórter Ranier Bragon faz referências inverídicas e nada éticas ao Sistema Mirante. Sem ouvir nenhum representante do jornal ?O Estado do Maranhão?, da TV Mirante e das rádios Mirante AM e FM, o repórter afirma, criminosamente, inclusive cometendo um grosseiro erro de concordância verbal: ?O rol de acusações dos adversários contra o candidato da Frente Trabalhista, que inclui também dispensa de licitação, favorecimento de empresas e desvios de repasses, são noticiados com destaque no sistema de comunicação Mirante, da família Sarney, que inclui a maior TV (retransmissora da Rede Globo), rádio e jornal (?O Estado do Maranhão’)?. Em primeiro lugar, todas as denúncias contra o candidato da Frente Trabalhista foram feitas por partidos no horário eleitoral gratuito, observando, segundo seus advogados, a legislação eleitoral. Vale acrescentar que a Justiça Eleitoral tem sido diligente, concedendo direito de resposta a quem é atacado injustamente. O Sistema Mirante não tem envolvimento na campanha eleitoral em curso no Maranhão. O jornal ?O Estado do Maranhão? publica somente fatos incontestáveis e denúncias documentadas, em linguagem jornalística objetiva e sem agressões verbais ao denunciado, concedendo espaço a todos os candidatos envolvidos na disputa majoritária. A TV Mirante, por ser concessionária de um serviço público e afiliada da Rede Globo, observa rigorosamente o que rezam a legislação federal e as normas da rede. O telejornalismo praticado pela emissora se resume à divulgação do dia-a-dia dos candidatos majoritários sem nenhuma informação adicional. Tanto que nenhum candidato bateu às portas da Justiça Eleitoral para reclamar reparo ou denunciar desrespeito às regras. O que está escrito na citada reportagem em relação ao Sistema Mirante é um rosário de inverdades, uma prova inconteste de que o repórter Ranier Bragon, de maneira partidária e irresponsável, limitou-se a ouvir fontes sem autoridade nem isenção e a especular sobre o que não viu nem ouviu. Tanto que não se deu ao trabalho de ouvir qualquer fonte autorizada da empresa nem recorreu à Justiça Eleitoral para indagar sobre os procedimentos dos nossos veículos ao longo da campanha.? Fernando Sarney, presidente do Conselho de Administração do Sistema Mirante (São Luís, MA)

Resposta do jornalista Ranier Bragon – O texto apenas afirma que as acusações contra o candidato adversário do clã Sarney são noticiadas com destaque no Sistema Mirante.

Campanha

?Em razão de nota publicada no sábado na coluna ?Painel?, que cita atividades da prefeita Marta Suplicy, faço as seguintes considerações: Na edição de domingo passado, 8/9, o ombudsman abordou, com muita propriedade e apontando vários exemplos, o quanto as últimas edições da Folha têm pecado contra a isenção na cobertura das eleições. A lista dos deslizes é extensa, mas acrescento mais um item, que, aliás, já considero um comportamento obstinado: questionar, na seção ?Painel?, a prefeita Marta Suplicy por sua legítima participação em apoio à eleição de Lula, de Genoino e dos candidatos do PT a cargos proporcionais. Enquanto isso, a mesma coluna faz vista grossa à campanha que o governador Geraldo Alckmin anda fazendo durante o expediente. Quarta-feira (4/9), por exemplo, o governador, candidato à reeleição, almoçou na padaria Nova Nazareth, no bairro do Ipiranga, justamente no horário de saída dos estudantes do colégio São Camilo. Pela manhã, ele participou de um encontro com cerca de 300 produtores rurais e representantes de agroindústrias e comerciantes no Centro de Exposições Imigrantes.? José Américo Dias, secretário municipal de Comunicação e Informação Social da Prefeitura de São Paulo (São Paulo, SP)”

6/09/02

?Há inverdades e incorreções em duas reportagens publicadas ontem na página Especial 4 (caderno Eleições 2002). Na primeira delas -?Ciro diz sentir vergonha de ser político?-, escreveu-se que ?Patrícia (Pillar), depois de verificar estar sendo observada pela imprensa, franziu o rosto, preparando-se para chorar?. Isso não ocorreu em nenhum momento. Patrícia Pillar não precisava verificar que estava sendo observada pela imprensa, uma vez que jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas passaram quase todo o tempo de duração do filme olhando para os políticos presentes ao evento, e não para a tela onde era projetado o excelente longa ?Uma Onda no Ar?. A foto publicada junto com o texto, na qual o candidato Ciro Gomes passa a mão no rosto enxugando uma lágrima, não foi tirada no momento da exibição da fita, como diz a legenda, e sim durante o belo, emocionado e enfático discurso de Viviane Senna. A empresária e presidente do Instituto Ayrton Senna chorou enquanto falava, emocionando a maioria dos presentes à sala de exibição. Ciro não foi o único a se emocionar. Na mesma foto citada, duas filas acima, uma das atrizes da fita também enxuga lágrimas depois de ouvir as palavras de Viviane Senna. Já a reportagem ?Ciro recebe passagens e adesivos em jantar? elenca ajudas financeiras e materiais que teriam sido recebidas durante um jantar com empresários em São Paulo. A série de fatos publicados não corresponde à realidade. No espaço de uma semana, foi a terceira reportagem da Folha especulando sobre atividades de arrecadação da campanha de Ciro Gomes. Aproveitando o momento, a Frente Trabalhista pergunta: por que jantares e eventos similares das demais candidaturas presidenciais não estão na pauta do jornal?? Luís Costa Pinto, coordenador de imprensa da Frente Trabalhista – Ciro Presidente (São Paulo, SP)

Resposta das jornalistas Patricia Zorzan e Andréa Michael – O comportamento da atriz Patrícia Pillar descrito na reportagem foi testemunhado pela Folha. As informações publicadas sobre as doações de material para a campanha de Ciro Gomes foram repassadas à reportagem pelo anfitrião do evento, Flavio Aronis. Quanto à legenda da foto, leia a seção ?Erramos?, abaixo.

Grande Aliança

?Sobre a reportagem ?Tira-teima? (Eleições 2002, pág. Especial 6, 4/9), gostaríamos de esclarecer o seguinte: Estão corretos os números sobre os gastos do Ministério da Saúde apresentados pelo senador José Serra no debate da TV Record no dia 2 deste mês. Na ocasião, Serra disse: ?Na verdade, o Ministério da Saúde tem um orçamento próximo de R$ 26 bilhões. Cinco bilhões de reais vão para o que se poderia considerar área não-governamental, só que metade disso, inclusive, é para a Santa Casa, para a Beneficência Portuguesa, para os bons hospitais filantrópicos do Brasil. O que dá de convênios com a área privada menos de 10%. Ciro (dirigindo-se ao candidato), R$ 10 de cada R$ 100 não é R$ 75?. Os dados apresentados pelo candidato conferem com os números oficiais divulgados no dia seguinte pelo Ministério da Saúde em entrevista coletiva do ministro Barjas Negri e em nota com o seguinte trecho: ?Em 2001, o orçamento do Ministério da Saúde foi de R$ 26,137 bilhões. Desse total, R$ 5,18 bilhões (19,8%) foram destinados ao pagamento de atendimentos prestados pela rede privada conveniada ao SUS. As santas casas e os demais hospitais filantrópicos receberam R$ 2,628 bilhões, ou 10% do orçamento,e os privados não-filantrópicos tiveram repasse de R$ 2,5 bilhões no ano?.? Rogerio Schlegel, assessoria de imprensa da Coligação Grande Aliança (São Paulo, SP)

Nota da Redação – Os dados apresentados pelo candidato tucano no debate conferem apenas com parte das informações divulgadas pelo Ministério da Saúde. A reportagem informou que o candidato usou o dado de que 9,78% do orçamento total do SUS é repassado a hospitais privados. O candidato omitiu, no entanto, que, dos recursos repassados a hospitais, 43,2% vão para a iniciativa privada.

4/09/02

Pesquisa

?Os leitores da Folha só teriam a ganhar caso Mônica Bergamo deixasse de produzir ataques gratuitos aos profissionais que fazem a revista ?Época?. Há duas semanas, ela criticou ?Época?, em tom de acusação, por divulgar uma pesquisa do Ibope que apontava para uma queda de Ciro Gomes e para uma subida de José Serra. Hoje, todos os institutos -inclusive o Datafolha- confirmam a tendência expressa pela revista com antecedência. A maioria já fala em empate técnico entre os dois candidatos. ?Época? não adivinha notícias nem pesquisas. Só aplica as regras do bom jornalismo para oferecer informações confiáveis. Mônica Bergamo teria evitado um vexame profissional se seguisse a norma básica de ouvir várias fontes antes de escrever uma reportagem. Num comportamento que trai a falta de isenção, ela limitou-se a colher declarações oficiais do presidente do Ibope, que, até por motivos legais -poderia ser processado por divulgar pesquisas não registradas-, jamais iria confirmar em público o que havia ocorrido em privado. Publicando uma informação falsa com surpreendente facilidade para um veículo com a expressão da Folha, Mônica foi capaz de escrever que a pesquisa divulgada por ?Época? ?simplesmente não existe?. Chegou a referir-se ao levantamento como uma ?suposta? pesquisa. Usando palavras alheias para tentar ferir minha honra, foi capaz de publicar uma declaração entre aspas em que o presidente do Ibope dizia que eu mentia ao apontar o instituto como fonte de nossas informações -para depois publicar, sem contestação, uma carta em que ele sustenta jamais ter empregado a palavra mentira durante a entrevista. A colunista também inventou desvios metodológicos só para acentuar possíveis distorções graves na amostra do Ibope -como ouvir menores de 16 anos, caso em que a Folha foi obrigada a admitir o erro. A colunista se teria saído melhor se tivesse ouvido outras fontes antes de publicar conclusões apressadas e erradas. Poderia ter ouvido dirigentes do PT e do PSDB a quem o próprio Ibope admitiu ter transmitido informações. Também poderia ter consultado duas colunistas que noticiaram a tendência antes de ?Época?. Ela ainda poderia ter procurado diretamente os repórteres de ?Época? que fizeram a reportagem. Também poderia ter ouvido fontes qualificadas da própria assessoria de Ciro Gomes que confirmam que o candidato ouviu de ?umas 70 pessoas? o relato de que o Ibope andava divulgando uma pesquisa com números apontando para a sua queda. Essa falta de cuidado prejudicou os milhões de leitores/eleitores da Folha, que têm o direito de saber o que se passa na campanha presidencial.?

Paulo Moreira Leite, diretor de redação da revista ?Época? (São Paulo, SP)

Resposta da colunista Mônica Bergamo – De acordo com o Ibope, a pesquisa publicada pela revista ?Época? era, na verdade, um trabalho interno do instituto sem validade para aferir intenções de voto, razão pela qual não havia sido registrada no TSE. Levantamentos registrados divulgados posteriormente, naquela semana, do Datafolha e do próprio Ibope, desmentiram os números publicados pela ?Época?. Em carta enviada à Folha e publicada nesta seção, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, admite que usou o termo ?mentira? para se referir a afirmações de Paulo Moreira Leite.