Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson Hoineff

CINEMA

"Os cinemas morrem como as cidades", copyright Jornal do Brasil, 24/09/02"A morte do Copacabana, um dos mais tradicionais cinemas do Rio, foi anunciada na semana passada. O cinema bem que tentou resistir. Há alguns anos foi transformado em igreja evangélica, mas pouco depois retomou sua função original. Agora, não deu mais para agüentar.

Com o fim do Copacabana, restam a um dos maiores e mais charmosos bairros do Rio apenas dois cinemas: o minúsculo Jóia e o Roxy, outrora glorioso, hoje um conjunto de três salas menores – e cercado por imensas grades para tentar conter a ação da pivetagem. Nada que lembre os áureos tempos, não tão distantes, do Metro Copacabana, do Art Palácio, do magnífico Rian de frente para o mar, do Caruso, do Alvorada (a primeira sala de arte do Rio) do Alaska e o Royal (depois Holliday), encravados na ”galeria do amor” cantada por Agnaldo Timóteo, do imenso Florida (hoje transformado em supermercado), do Condor (que virou loja de artigos domésticos), do Ritz, do Bruni Copacabana (que ao menos cedeu lugar a uma imbatível loja de discos), do Riviera (que virou boate gay), do Cinema I, berço de uma geração inteira de cinéfilos, que hoje assiste, vazio, ao próprio apodrecimento.

Um cinema morre não tanto pela especulação imobiliária, mas pela deterioração urbana da vizinhança. Ao morrer, promove o aceleramento dessa deterioração. É um triste círculo vicioso, do qual o Rio é PhD. Copacabana é um notável exemplo. Por suas ruas, onde há menos de duas décadas a vida fervilhava pela noite adentro, os cinemas, com suas sessões de meia-noite, eram os núcleos em torno dos quais se formavam os bares, as sorveterias, os pipoqueiros. O espaço hoje, vazio e lúgubre, pertence tacitamente aos assaltantes, serenos e absolutos no terreno conquistado, à espreita das vitimas desavisadas que ousem sair às ruas depois das sete da tarde.

O mesmo aconteceu na Cinelândia – que viu sucumbir o Metro Boavista, o Pathé, o Império, o Capitólio, o Plaza e o Vitória, todos por conta da deterioração do Centro – e também na Tijuca, até há pouco emoldurada por algumas das maiores e mais imponentes salas de cinema do Rio, o Metro Tijuca, Carioca, América, Olinda, Art, Bruni, Comodoro e tantos outros, hoje nostálgica da alegria emanada pelo anel de cinemas em torno da bela Praça Saens Peña.

Cinemas de rua são o termômetro mais preciso para se medir a saúde de um bairro. Isso vale para qualquer cidade do mundo. Em Paris, Nova York, Buenos Aires, são os cinemas de rua que servem de centro gravitacional para a população – e que indicam onde há vida fora dos casulos de shoppings que ingenuamente construímos para nos proteger.

Esse indicador tão preciso não traz boas notícias para os habitantes do Rio. Os grandes centros urbanos – Copacabana, Cinelândia, Tijuca – ficaram sem os seus cinemas e sem o movimento natural de sua gente. Tornaram-se mais feios, mais tristes, menos humanos. O espaço da diversão, hoje transformado em espaço do medo, é uma triste medida do terreno que perdemos para a intimidação de um poder e o descaso de outro.

É um filme de terror. E se a ele ficarmos assistindo em silêncio, esse espaço, tal como esta cidade, jamais será recuperado."

 

CONAR

"Conar é ringue para grandes empresas", copyright O Estado de S. Paulo, 24/09/02"A concorrência entre as grandes empresas está tão acirrada que o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) há dois meses está no centro de várias notícias de negócios. A Intelig provocou a Telefônica com o traje do Super-15; a Volkswagen pôs uma geladeira disputando corrida com um carro pelas ruas e a Brastemp reclamou; agora a Unilever, dona do sabonete Dove, cobra a suspensão de propaganda do sabonete Francis Hydrattaa, da Unisoap, segundo a qual o Francis fica inteiro enquanto outro derrete no banho. A Unilever considerou essa comparação ofensiva ao Dove. No início do mês, sem muito alarde, o Conar também recomendou a suspensão de campanha publicitária da bebida Tampico, da TBW, a pedido da Laranja Brasil, que representa o agronegócio citrícola.

Na campanha da TBW, Tampico é apresentado como suco de fruta, rico em vitamina C. Na representação ao Conar, a Laranja Brasil, por meio da banca de advogados Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Junior e Quiroga, argumentou que Tampico é um repositor energético, como indica o rótulo da bebida, e não suco rico em vitamina C.

O presidente da Laranja Brasil, Marcos Santin, comemorou o resultado: ?A decisão do Conar, além de inibir a concorrência desleal, defende o consumidor. A maior parte das pessoas que consomem sucos que não são sucos não tem consciência do que estão comprando.?

Quem imagina, porém, que aumentou o número de julgamentos no Conar, se engana redondamente. No primeiro semestre deste ano, foram 116 casos em comparação aos 162 casos do ano passado. O que chama a atenção, acredita o presidente do Conar e diretor de Relações com o Mercado da TV Globo, Gilberto Leifert, é o porte das empresas que acusaram campanhas de concorrentes. Também foram registradas queixas de consumidores. Foi o caso de anúncio da Coca-Cola, veiculado no período da Copa do Mundo, em que Pelé aparecia rezando. Alguns católicos consideraram uma ofensa à religião a oração do atleta em favor da seleção.

Os consumidores também reclamaram ao Conar de campanhas de fábricas em que as condições de pagamento ou a explicação sobre o valor da oferta de carros apareciam em letras miúdas. Por diferentes motivos, já foram parar no Conar este ano empresas como Alpargatas, AmBev, Brasil Telecom, Telemar, Intelig, Telefônica, Coca-Cola, Ponto Frio, Danone, Ford, Fiat, Renner, Unilever e Procter & Gamble.

É tanto processo que o Conar encomendou campanha publicitária à Talent para lembrar às agências que não vale jogo baixo na propaganda, e aos consumidores que, quando se sentirem lesados pela propaganda, recorram ao Conar. ?A nossa função é preservar a ética na propaganda por meio da auto-regulamentação do setor?, diz Leifert."

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"Internet não substitui revistas e jornais, diz Logan", copyright O Estado de S. Paulo, 24/09/02"O presidente e principal executivo da AOL Time Warner, Don Logan, foi aplaudido ontem, na abertura do Maximídia 2002, em São Paulo, por dizer o óbvio: a mídia impressa não vai perder seu lugar com as novas tecnologias de comunicação social, como a internet. ?Ninguém vai ao banheiro ou à praia com computador?. Ou seja, jornais e revistas têm espaço garantido nessa indústria, e o sucesso de cada um dependerá do conteúdo que oferecerem. Para Logan, os meios de comunicação têm que preencher as expectativas do público ao qual se dirigem e conquistar novos consumidores sempre levando em conta as inovações.

O executivo, que brincou com o fato de carreiras como a sua estarem em baixa hoje nos Estados Unidos, esteve no Brasil também para acompanhar o lançamento da revista Estilo de Vida, da Editora Abril. A publicação é resultado de acordo com o grupo que dirige e que edita a Style americana com a Abril.

Com a atriz Carolina Ferraz na capa, a nova revista foi apresentada ontem e chegará ao público no início de outubro. Para Logan, as revistas nacionais têm mais chance de sobrevivência que as regionais. ?Esses podem resistir, mas têm de se ajustar a um universo menor de anunciantes e custos.?

Hoje, o Maximídia, que é um dos maiores encontros do setor no País, promovido pela publicação especializada Meio & Mensagem, terá como foco a indústria de jornais e a abertura do setor de comunicação social ao capital estrangeiro."