Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Niza Souza

AO PONTO

"Novos assuntos para Jairo Bouer", copyright O Estado de S. Paulo, 1/06/03

"A diferença de idade nunca atrapalhou o perfeito entendimento entre Jairo Bouer e os adolescentes. Aos 37 anos e após quase quatro anos na MTV, o psiquiatra, que ficou famoso com seus conselhos sobre sexo para os jovens na TV, deixou a emissora no final de fevereiro e já está de volta à telinha. Amanhã, às 21h20, ele estréia o programa Ao Ponto, no canal Futura, com uma missão mais abrangente, mas dirigida ao mesmo público jovem. Além de falar sobre sexo, a proposta é levar informações sobre outros temas, também decorrentes da adolescência.

O programa terá duração de apenas 10 minutos, mas vai ao ar de segunda a sexta-feira. ?O formato curto é proposital, para chamar a atenção da galera e conseguir mantê-la até o final?, explica Bouer. O projeto inicial conta com 30 programetes, que já foram gravados e estão sendo editados. O apresentador, no entanto, não descarta a possibilidade de produzir uma outra safra para a série. ?Já temos uma lista com mais 30 temas para serem discutidos, mas ainda estamos negociando.?

Um mês antes do início das gravações, o canal colocou chamadas no ar pedindo a participação do telespectador, que pôde mandar suas dúvidas via e-mail. Segundo Bouer, a estrutura do programa será bastante flexível. Além das dicas sobre o assunto abordado, haverá entrevistas, notícias e uma pequena reportagem. ?É a primeira vez que consigo fazer um programa mais amplo.?

Nessa primeira semana, o programa falará sobre camisinha, pílula, ejaculação precoce, cigarro e gravidez na adolescência. Na quinta-feira, para falar sobre tabagismo, o entrevistado será o VJ e ex-fumante Thunderbird. Na sexta, a convidada especial será a também VJ Soninha, que ficou grávida aos 15 anos. Outros temas dessa primeira fase: insatisfação com o corpo, sexo casual, álcool, atividade física, cidadania, maconha, tatuagem e piercing, TPM, métodos anticoncepcionais, aids, traição, impotência, homossexualidade, encanações de meninos, êxtase, espinhas, obesidade, sol, primeira vez, orgasmo feminino, HPV, amores na internet e machismo.

Debate – Bouer estreou na TV pela Cultura, há cinco anos. Um ano depois, foi para a MTV para participar do Erótica. Em quatro anos de casa, passou ainda pelo Todo Mundo, 20 e Poucos Anos e Peep.

No canal Futura, além de Ao Ponto, Bouer se encaixou em outro programa, o Tá na Roda, que será apresentado pelos atores Débora Falabella e Thiago Fragoso. Ainda em fase de gravação, o programa de debate com jovens terá duração de 30 minutos e deve ir ao ar em agosto."

CRÍTICA / TV

"Heloísas incendiárias dominam a semana", copyright O Estado de S. Paulo, 1/06/03

"Essa foi a semana das Heloísas na TV. Enquanto a incendiária senadora Heloísa Helena mostrava seu lado doce na sala de visitas do Saia Justa e era lançada à Presidência da República pela lunática Fernanda Young (com o entusiasmado apoio de Rita Lee e Marisa Orth), a Heloísa de Mulheres Apaixonadas sofria alucinações ciumentas com o ex-marido (que havia esfaqueado dois capítulos antes) e capotava o carro que dirigia desvairadamente.

Personagens fortes de dois mundos diferentes – o da política e o da ficção de TV – essas Heloísas são mulheres apaixonadas. A Helena pela causa da oposição a seu partido. Por isso ela está presente no noticiário cotidiano que cobre a confusão no PT, que discute sob holofotes a expulsão de rebeldes.

A Heloísa da novela é tão apaixonada que ficou doente. Interpretada pela talentosa Giulia Gam, a ciumenta criada por Manoel Carlos tem roubado as cenas da novela das 8 da Globo e se tornado assunto nacional. Por isso, não é exagero creditar às estripulias da doida de amor a excelente marca de 50 pontos de média no Ibope (na Grande São Paulo).

Assim como a Heloísa senadora, a da novela é uma obstinada que defende sua causa às últimas conseqüências sem se lixar para a sensatez. Estáaacute; claro que, ao construir a personagem, Manoel Carlos se incumbiu da missão de discutir o ciúme que certamente afeta boa parte de seu público. A mensagem (faz parte do estilo do autor) é que o ciúme é uma doença que corrói as pessoas e destrói o amor.

Tanto que, coitada da Heloísa, todos os personagens da novela – inclusive os parentes que a amam – chamavam-na de louca bem antes de ela esfaquear o marido. Conta apenas com a solidariedade e apoio da amiga telefonista (personagem de Xuxa Lopes). Esse anjo da guarda a encaminha para uma associação – nos moldes dos Alcoólicos Anônimos – que lida com mulheres que amam demais.

É claro que a nossa atormentada Heloísa ainda vai aprontar muito, mas, em algum momento, tudo indica que será reabilitada. Afinal, as mensagens existem para mostrar sempre uma luz no fim do túnel.

Relevando os exageros a que é submetida pelo texto, Heloísa é a melhor personagem de Mulheres Apaixonadas. Seu contraponto é a professorinha Raquel (Helena Ranaldi), que apanha calada do marido violento. (Essa também vai virar a mesa uma hora, uma vez que se trata de novela e de outra ?mensagem? de Manoel Carlos).

Heloísa é interessante porque expressa, em enésima potência, o terror da rejeição, que se abate sobre os apaixonados. O medo de traição e o desejo de perpetuar o relacionamento amoroso são sentimentos universais, que afetam até os mais equilibrados seres humanos. Quem nunca teve vontade de ?matar? o marido/a esposa no momento de uma discussão pesada? Ou esfarrapar o guarda-roupa do outro para vingar-se de uma atitude dolorosa?

Na verdade, as loucuras de Heloísa são a concretização de fantasias que já fizeram (ou fazem) parte do repertório de apaixonados. É por isso que ela consegue chamar a audiência para a novela das 8. Heloísa é catártica, é ótima."

ENTREVISTA / GRAZIELLA MORETTO

"Graziella: uma ?normal? fora de série", copyright O Estado de S. Paulo, 1/06/03

"Ela fala de artes, política e atualidades com a mesma segurança com que discursa sobre maquiagem e chapinha nos cabelos. Graziella Moretto, de 31 anos, que vem roubando a cena no seriado Os Normais, da Globo, e lotando os intervalos comerciais como garota-propaganda de uma operadora telefônica, fala pelo cotovelos e está longe de cansar seu interlocutor. Conta que tudo conspirava contra a carreira de atriz: uma mancha de nascença no rosto, língua presa, problemas de transpiração nas mãos, pés e axilas… ?É muita teimosia?, explica Graziella.

Em julho, estará de novo em cartaz no cinema, como a feiticeira Hipácia, no filme inspirado no infantil Ilha Rá-Tim-Bum, da TV Cultura. E se prepara para ser mãe após o fim de Os Normais, no segundo semestre. Passou três meses da gravidez com enjôos. ?Não como carne vermelha há 15 anos, mas tive desejo de uma picanha.?

A atriz, que morou três anos e meio em Nova York, é velha conhecida no meio publicitário. Um teste na O2 para o filme Domésticas, de Fernando Meirelles, mudou sua vida. Foi no set que conheceu Guilherme Ayrosa, seu marido. Na seqüência, Meirelles a escalou para Cidade de Deus e Cidade dos Homens.

Estado – Você estourou após ?Os Normais??

Graziella – Estourar tem um significado quando se trata de um ator que do nada se torna protagonista de uma novela e passa a ser ultraquerido pelo público. Fui indo passo a passo. Construí uma carreira no teatro, passei pela publicidade, pelo cinema e fiz participações eventuais na TV, até chegar a um personagem que me aproximou mais do público.

Estado – Mas hoje você é mais abordada na rua…

Graziella – Sou mais reconhecida, sim, mas também quando estou maquiada. No dia a dia, sou desleixada. Muita gente nem me reconhece. Tenho uma enorme mancha vermelha de nascença no rosto e que não aparece com a maquiagem. Tenho medo dessa coisa de ?estourar? e até um pouco de preconceito. Quando penso em estourar, vem à minha cabeça a imagem do ego inflando e explodindo.

Estado – Medo do que exatamente?

Graziella – Ainda tenho dificuldade com entrevistas. Sei que é interessante para o público, mas, como nunca saberão de fato como eu realmente sou, tenho medo de ser considerada melhor do que sou. Tenho um amigo de teatro que fala: ?quando você trabalha na Globo, até a sua mãe te trata melhor?. Não me iludo. É muito fácil ser reconhecida na rua quando o seu comercial passa no intervalo de um jogo de futebol. Emocionante para mim foi quando um cara me elogiou, em uma fila de banco, por causa do Cidade de Deus, filme que fiz uma pequena participação.

Estado – Você tem uma veia cômica inegável. O Fernando Meirelles disse que você melhorou em 80% o personagem da Roxane em ?Domésticas? porque deu um tom divertido à empregada ranzinza. Quando lhe telefonei para marcar a entrevista quase ri ao ouvir sua voz…

Graziella – Acho ótimo porque senso de humor é um dom divino, tem de vir de fábrica. Outras coisas se aprendem. Tenho usado a comédia para mostrar minha indignação. Na Terça Insana, meus personagens são engraçados, mas carregam mensagens. A Thayanne Caroline é uma garota que começou a trabalhar aos 6 meses e aos 9 anos está desempregada. A mãe dela conseguiu uma liminar na Justiça para ela colocar silicone e posar nua. A Carmelita é uma socialite engajada em projetos sociais, como levar manicures à favela. A Sandy faz tantos shows que não sabe onde está.

Estado – Gosta de trabalhar na TV?

Graziella – O Telecurso foi meu primeiro contato com a linguagem da TV. Depois fiz participações, comerciais, o Ilha Rá-Tim-Bum e a novela Estrela Guia. Foi quando comecei a entender o que era a TV. É uma indústria, sim, apesar de ter produções artesanais como Os Normais. É preciso dosar concentração, energia e prontidão, uma palavra-chave em TV. Eu não tinha acertado o meu passo com a televisão e acho que ainda não acertei. Percebo isso trabalhando com pessoas que dominam o veículo, não só o Luiz (Fernando Guimarães) e a Fernanda (Torres), mas o Selton (Mello), que é um fenômeno. Aliás, não posso olhar para a cara dele que começo a rir. Fico pensando: ?ele não está interpretando. É muito naturalista?.

Estado – Você também é assim?

Graziella – O Luiz e a Fernanda brincam que nós não interpretamos e que eles trabalham em dobro.

Estado – Ao que assiste na TV?

Graziella – Adoro sitcom e humorísticos. Assisti Armação Ilimitada, TV Pirata e o programa do Golias na Record. Não sou de acompanhar novela, mas gostei de Vale Tudo. Sou fã do Gilberto Braga e espero ansiosamente sua próxima novela. Também assisti Por Amor, dos Estados Unidos – minha mãe e irmã me mandavam fitas com os capítulos e com o Casseta & Planeta. Gosto muito do Manoel Carlos. Só não aceitei o convite para Mulheres Apaixonadas para não forçar a barra de ser mãe da Regiane Alves, que tem uns 25 anos, e eu, 31.

Estado – Gosta de novela?

Graziella – Meu problema é começar freira e terminar assassina. Em Os Normais, cabe essa mudança porque há coerência a cada episódio. Acho complicado mudar o personagem em função do ibope. Acho também que o formato precisa ser modernizado. Não é à toa que Betty, A Feia, que subverte a ordem, emplacou. Minha mãe adora essa novela.

Estado – O que acha dos reality shows?

Graziella – Pirei com A Casa dos Artistas. Saí de casa no dia da final para não ver. Sabia que aquilo estava revolucionando o modo de fazer TV e me questionei: ?O que vou fazer agora? Não me encaixo nesse novo mundo.? Depois vi que isso é menos uma vertente para o futuro e mais uma curiosidade humana descartável. A realidade não é mais interessante que a ficção.

Estado – Por que foi morar em Nova York?

Graziella – Comecei a fazer teatro amador com 13 anos. Estudei Artes Cênicas e Letras (grego e português) na USP, mas me formei na Escola de Arte Dramática da USP. Mesmo depois de formada, me sentia despreparada. Precisava estudar mais. Como tinha vontade de morar fora, resolvi ir para Nova York. Fui com 23 anos e voltei com 27. Fiquei sabendo de um laboratório de Shakespeare no prestigiado Public Theatre, prestei e passei. Fui a primeira estrangeira. Também estudei no Actor?s Center.

Estado – O que fazia para pagar os estudos?

Graziella – Estava lá como turista. Vivia legalmente, mas trabalhava para me sustentar. Fui modelo para artista plástica, babá, garçonete e telefonista de uma imobiliária. O pior emprego foi o de telefonista. Pensei: ?telefonista gringa? Isso não vai dar certo?. Eu era um fracasso. Toda segunda-feira, depois que saíam os classificados de domingo, era um horror. O telefone não parava de tocar. Eu me embananava toda… Também voltava ao Brasil de férias, ficava um mês e fazia alguns trabalhos publicitários. Fiz muito comercial na O2 e foi lá que surgiu o teste para Domésticas.

Estado – Muito enjôo por causa da gravidez?

Graziella – Fiquei três meses atracada à privada e emagreci 4 quilos. Vou ter uma menina em outubro. Milhares de coisas que leio nos livros não chegam aos pés do que é uma gravidez. Vamos ser realistas: minha musculatura está sendo desfibrilada, o útero aumentará 20 vezes de tamanho. No final da gravidez, o estômago estará entre os seios. Estou em obras de expansão. Sofro no Paraíso (bairro onde mora na capital)."