Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

No mais absoluto silêncio da imprensa

DURAÇÃO DOS CURSOS

Victor Gentilli

Os psicólogos estão chiando; a Ordem dos Advogados do Brasil começa a chiar. As diretrizes curriculares para os cursos superiores (licenciaturas e bacharelados) foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação no decorrer dos últimos dois anos sempre ignorando vários trechos dos documentos originais encaminhados pelas Comissões de Especialistas ao Conselho Nacional de Educação. Silêncio total da imprensa.

Agora que já está tudo regulamentado, as entidades vão se dando conta de que se as escolas montarem projetos para cursos de duração e carga horária inferiores às definidas durante o debate, estão teoricamente dentro da lei. Em outras palavras, pode haver um curso de Direito com três anos de duração. Eis a chiadeira da OAB.

A imprensa começa a tratar do caso, mas o jornalismo declaratório permite apenas que se conheça as versões dos reclamantes e do MEC. O ministro Paulo Renato afirmou que não há motivo para preocupação, pois o CNE estaria produzindo um documento específico regulando a carga horária e a duração dos cursos e que até lá nenhum curso pode contar com carga-horária total inferior a 2.800 horas.

Mas a pressão dos grupos privados é muito forte, e a imprensa ignora ou finge ignorar. Ora, se o próprio empresário maior do ensino, João Carlos Di Gênio, diz que a capacidade de o setor privado absorver alunos já foi alcançada e agora é a vez do setor público crescer, é porque o ensino privado busca alternativas. Hoje, os maiores problemas chamam-se inadimplência e evasão. Evidentemente vinculados. Primeiro o aluno deixa de pagar, depois abandona o curso. Com duração menor, o problema é atenuado, os alunos recebem os diplomas fresquinhos saídos das fábricas em menos tempo e menor custo e novos alunos ingressam, ajudando até mesmo as estatísticas oficiais.

Eis o que a imprensa deveria contar, mas não conta. Os grandes do ensino são grandes anunciantes.