Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Não é manipulação

QUALIDADE NA TV

CARTAS

RELIGIÃO NA TV

Vera Silva, parabéns por seu estilo e clareza mas, como profissional de comunicação e freqüentadora de cultos evangélicos, cumpre esclarecer alguns pontos mencionados em seu artigo "Religião na TV, manipulação psíquica".

"Precisamos voltar ao tema das religiões na TV. Eu não tenho TV a cabo e a grande maioria dos brasileiros também não. Assim, vemos TV aberta. E o que vemos na TV aberta? Um domínio assustador de programas religiosos, em que multidões são filmadas chorando, dançando, enquanto um cantor gospel canta e dança ou um pregador lê e interpreta a Bíblia em compridos sermões. Nada diferente dos shows-da-vida."

Tenho que contestar essa afirmação pois, nos chamados shows-da-vida, o que se vê são pessoas brigando em público e expondo suas mazelas somente para gerar mais violência ou divertir os sádicos que assistem àquele tipo de programa.

"Vemos também pessoas contando como conseguiram se equilibrar financeiramente ou salvar seus casamentos na igreja. Essas pessoas contam seus dramas íntimos, mostram resultados de exames etc. Uma espécie de programa-do-ratinho-linha-direta-religioso. É o predomínio da chamada TV-verdade até nas religiões."

O que se mostra na igreja são problemas reais que tiveram solução. É claro que nem todos ainda foram resolvidos, mas aqueles que foram bem sucedidos não têm vergonha de contar na televisão. Bem diferente dos "ratinhos", em que os problemas são expostos debaixo de gozação.

"O que impressiona é que estes programas não têm patrocinador, em geral. São horários comprados pelas igrejas ou pelos pastores que as conduzem, mantidos, portanto, com o dízimo dos crentes. Há horários em que quase todos os canais VHF e UHF estão apresentando um programa deste tipo. A Igreja Católica e a Igreja Universal têm seus próprios canais, não obstante se apresentarem também em outros canais, até mesmo na TV pública."

É bom que os patrocinadores sejam os próprios crentes, assim se evita a manipulação.

"Não estranho os programas religiosos. As religiões são parte de nossa busca espiritual, mas a forma que estes programas adotam é preocupante. Porque se apresentam como alternativa saudável (?) para o excesso de violência, sexo e música de má qualidade na TV, mas usam a mesma forma massificadora e alienante do que dizem combater."

Não há nada de alienante em pessoas orando e cantando juntas, os cultos são uma opção contra a violência, sexo e música de baixo nível. Para quem freqüenta os cultos não há nada de massificante, mas sim pessoas que pensam e sentem parecido em relação a Deus. Não é um sacrifício como você possa pensar. Comece visitando uma igreja pequena e forme sua opinião, ok?

"As pessoas dão testemunho público de suas misérias e de sua salvação. Dizem que agora têm dinheiro, a paz voltou ao lar, os filhos deixaram as drogas, tudo em razão de estarem indo à igreja e dando o dízimo. O agente da mudança é colocado no estar na igreja, seguindo a orientação do pastor da igreja ou padre, tradutores dos mandamentos de Deus. A diferença plástica entre um programa-do-ratinho e estes é que pastores e padres sempre mostram os fiéis no depois, o antes é simulado como no linha-direta. Assim, o sofrimento é considerado extinto, sem mais nenhuma relação com aquela pessoa. Uma simbólica nova vida, através do acreditar no que o pastor falou. Não me admira que um número enorme destes religiosos esteja atuando em cargos eletivos. Simbolicamente, eles mostraram que têm poder para transformar a realidade."

Aqui cabe uma correção: os padres são nomeados como representantes de Deus na Terra, portanto com poder para perdoar (sic) pecados, absolver culpas etc. Já os pastores são apenas intérpretes da palavra de Deus. Nosso compromisso é diretamente com Deus, somente Ele pode perdoar pecados. Na igreja evangélica, o pastor age como orientador. Por isso não cultuamos os santos, devemos honrar direto a Deus. Os pastores aconselham, mas não têm poder para absolver pecados nem determinar "penitências". Tudo o que fazemos é voluntário e de coração, não há coação de espécie alguma. Quanto ao dízimo, como nós cremos na Bíblia e esta fala sobre o dízimo (10% da renda), inclusive sabemos que a igreja tem que funcionar (contas de água, luz, telefone, salário dos pastores), ajudamos com esse valor. Quem não pode dar o dízimo faz uma oferta de qualquer valor. Quem não puder, não oferece dinheiro algum. Cabe acrescentar, o que temos não é nosso, Deus nos emprestou para vivermos melhor. Somos apenas mordomos do que Deus nos confiou, mesmo porque quando morremos não levamos nada conosco.

"As músicas são bem dançantes, cantadas por pessoas risonhas e de boa voz. O tratamento acústico é muito bom. Os fiéis dançam, cantam, choram controlados pela música que ouvem e pelas palavras de ordem do cantor ou do pregador. Apenas as letras das músicas e a muita roupa que usam diferenciam o profano do sagrado. Mas sempre a música, usada para conduzir à emoção por movimentos e ritmos repetitivos. Nenhuma diferença, portanto. Até a venda de CDs é do mesmo jeito."

Outra correção: há mais coisas que diferenciam o profano do sagrado além das roupas e das letras usadas nos cultos: a intenção do louvor é exaltar as qualidades de Deus e suas maravilhas em nossa vida, diferente portanto das "popozudas" e outras que tais… todos sabem que a música rege nossas vidas desde que nascemos, portanto nada mais natural do que utilizá-la com fins religiosos. A venda de CDs reverte no funcionamento e manutenção da igreja.

"Outro aspecto preocupante são os chamados empresários que estavam falindo e com a igreja e o dízimo estão bem de vida novamente. Os pastores abençoam os contracheques, os contratos, as empresas e o dinheiro flui. Mágica, não? O Deus que eles apresentam faz chover dinheiro. Imaginem o efeito disto num povo sem dinheiro numa economia cheia de problemas! É um marketing danado de bom. Ninguém se importa de contestar este tipo de testemunho, em que o antes não aparece, igualzinho àquelas propagandas em que os atores dizem que são médicos para vender remédios ou dizem que usam leite-de-aveia para vender cosméticos."

Não digo que Deus faz chover dinheiro, mas sou testemunha viva dos milagres financeiros que ele já fez em minha vida e na de pessoas que conheço bem de perto, e olhe que eu não precisei dar dízimos milionários ou grandes quantias. Vou te revelar o segredo: basta apenas acreditar que Deus pode fazer maravilhas financeiras, entre outras. Essa idéia é tão simples e funciona tão bem que é difícil as pessoas aceitarem. A maioria gosta de coisas mirabolantes, complicadas. Deus não é complicado, Ele é especial. Não se pode esperar que seu poder seja limitado. Não limite Deus na sua mente, que Ele não limitará os milagres Dele em sua vida, ok?

"É claro que não há tiros, sangue, morte, sexo e similares, mas a figura do salvador humano, que nos tira a ação pessoal, a reflexão, a vivência autônoma está lá do mesmo jeito que nos programas não-religiosos. Aquele salvador humano que ia nos separar das raças impuras, como Hitler, ou aquele outro que ia expulsar os marajás, como Collor, ou aquele outro que vai denunciar a falta de ética do governo, como o ACM, ou aquele outro que vai acabar com os infiéis, como o Saddam Hussein, ou aquele outro que vai garantir a democracia no mundo bombardeando os infiéis, como Clinton, Bush etc. etc., os exemplos são muitos."

O salvador humano não é aquele que nos tira a ação pessoal, pois existe o livre arbítrio. O que fazemos é confiar nele para "desempatar" as situações de conflito. Já pensou ter alguém para resolver o impossível, quando suas próprias forças e esforço se esgotaram e você não vê saída? Falo tudo isso por aquilo que vi pessoalmente, não por folclore ou pelo que falaram.

"É preciso discutir não somente os programas, mas também os aspectos da manipulação psíquica a que são submetidos os telespectadores, principalmente, as crianças e os adolescentes."

Quanto à manipulação psíquica, não creio que exista manipulação maior do que os programas que jogam por terra os relacionamentos, ensinam crianças a serem rebeldes e tiram toda a esperança do adolescente. Continuo crendo que a igreja é uma opção saudável, sem hipocrisia, que busca o bem-estar psíquico e emocional de seus membros. Usando a mídia para isso, se os outros podem, por que não os evangélicos? Garanto que o produto final é bem melhor. Abraços e fique com Deus.

Dailla

Tenho que contestar essa afirmação pois, nos chamados shows-da-vida, o
que se vê são pessoas brigando em público e expondo suas mazelas somente para gerar mais violência ou divertir os sádicos que assistem àquele tipo de programa.

Em primeiro lugar, as pessoas chorando, dançando ou tendo demônios expulsos de seus corpos, enquanto um pregador fala ou lê a Bíblia, estão nos programas evangélicos expondo suas mazelas tanto quanto nos shows-da-vida. O fato de não brigarem não muda a característica de show, que obtém audiência e espera que as pessoas aceitem o que se apresenta como bom. Não se discutem aqui intenções, porque intenções pertencem ao interior das pessoas e não podem ser percebidas pelo telespectador.

Um exemplo: se uma pessoa está na miséria e o apresentador dá-lhe uma cadeira de rodas, para ela e para quem a vê na TV o apresentador é um santo, é bom, mesmo que suas intenções não o sejam. Portanto, não é possível discutir intenções, e sim efeitos sobre o telespectador. Os shows religiosos enchem as igrejas do mesmo jeito que enchem os auditórios e os números do Ibope.

Outro ponto é que não concordo que se chame de sádicas as pessoas que assistem aos shows-da-vida do mesmo modo que não concordaria em chamar quem assiste aos shows religiosos de santos.

O que se mostra na igreja são problemas reais que tiveram solução. É claro que nem todos ainda foram resolvidos, mas aqueles que foram bem sucedidos não têm vergonha de contar na televisão. Bem diferente dos "ratinhos", em que os problemas são expostos debaixo de gozação.

De novo se fala em intenções das pessoas. Num programa deste tipo sempre aparecem denúncias de pessoas que ganham para neles aparecer, não que eu particularmente ache que isto ocorre nos programas religiosos, mas não podemos ignorar experiências anteriores neste tipo de programa, com religiosos muito famosos como Billy Graham, Jimmy Swaggart etc.

Este tipo de programa expõe e explora a fragilidade das pessoas em momentos em que o ser humano está mais vulnerável psiquicamente e sujeito a ser influenciado. Não acredito que a missivista pense que os evangélicos podem fazer uso desta fragilidade porque são "do bem" e os outros não.

Entendo que o desenvolvimento espiritual não passa por emoções descontroladas, mas sim por reflexão em busca da sabedoria.

É bom que os patrocinadores sejam os próprios crentes, assim evita-se a manipulação.

A manipulação ocorre sempre que alguém com maior poder de reflexão e menor senso de justiça seja apresentado como vindo de Deus ou do Bem para trazer a verdade ou o bem-estar. Sempre que isto ocorre, não importa quem paga a conta, muita gente trabalhou com o suor de seu corpo para alguém lucrar.

Qual é o objetivo destes programas evangélicos? Fazer prosélitos? Somente assim se pode explicar tanta monumentalidade e insistência.

Não há nada de alienante em pessoas orando e cantando juntas, os cultos são uma opção contra a violência, sexo e música de baixo nível. Para quem freqüenta os cultos não há nada de massificante, mas sim pessoas que pensam e sentem parecido em relação a Deus. Não é um sacrifício como você possa pensar. Comece visitando uma igreja pequena e forme sua opinião, ok?

A minha opinião é formada com conhecimento de como funcionam as igrejas pequenas e as grandes. Os primeiros 26 anos de minha vida foram vividos numa igreja evangélica. Entre parentes, clientes, amigos e conhecidos há os que são evangélicos, esotéricos, espíritas e católicos e, conseqüentemente, estou presente nos atos especiais de suas vidas que são comemorados em suas igrejas.

Desta forma, gostaria de continuar a discussão de forma não-pessoal, uma vez que minha crítica não deriva de preconceito, ódio ou ignorância.

A alienação a que me referi não está em se prestar culto ou em se louvar, mas no uso de práticas semi-hipnóticas para levar multidões a paroxismos emocionais. Os cantos e as orações, bem como os rituais de expulsão de espíritos e a dança repetida e secundada por palmas, provocam, em pessoas de frágil controle emocional ou sem treinamento de funções mais elaboradas de pensamento, descontrole da vontade, como se sabe e numerosas pesquisas comprovam. Esta técnica foi usada para controlar multidões por Hitler e outros, e não é recomendado que o seja por religiosos. Que os ratinhos a usem, para ganhar dinheiro, mas não alguém que se propõe a procurar a verdade.

Aqui cabe uma correção: os padres são nomeados como representantes de Deus na Terra, portanto com poder para perdoar (sic) pecados, absolver culpas etc. Já os pastores são apenas intérpretes da palavra de Deus. Nosso compromisso é diretamente com Deus, somente Ele pode perdoar pecados. Na igreja evangélica, o pastor age como orientador. Por isso não cultuamos os santos, devemos honrar direto a Deus. Os pastores aconselham, mas não
têm poder para absolver pecados nem determinar "penitências".

As divergências neste caso são muito poucas, pois exorcizar demônios não é bem interpretar somente a palavra de Deus. Além disto, interpretar contém ler e dizer o que se entende sobre o que se leu. No caso do pregador, ele se apresenta como inspirado pelo Espírito Santo e nesta condição lê e interpreta a Bíblia. Para os fiéis, principalmente para os analfabetos reais ou funcionais, eles são representantes de Deus, ou não?

Tudo o que fazemos é voluntário e de coração, não há coação de espécie alguma. Quanto ao dízimo, como nós cremos na Bíblia e esta fala sobre o dízimo (10% da renda), inclusive sabemos que a igreja tem que funcionar (contas de água, luz, telefone, salário dos pastores), ajudamos com esse valor. Quem não pode dar o dízimo, faz uma oferta de qualquer valor. Quem não puder, não oferece dinheiro algum. Cabe acrescentar, o que temos não é nosso, Deus nos emprestou para vivermos melhor. Somos apenas mordomos do que Deus nos confiou, mesmo porque quando morremos não levamos nada conosco.

Não vou discutir questão de fé na Bíblia. O que discuti no texto foi o fato de nesse tipo de programa o telespectador ser levado a ter fé no que o pastor diz, no que as pessoas dizem. Isto leva as pessoas a colocarem sua fé nas pessoas. Elas são boas e, por isso, um grande número delas é eleita pelos fiéis. Desconfio disso, pois corporativismo é corporativismo venha de onde vier.

Além disso, não faria mal se os balancetes das doações fossem apresentados, bem como o uso que delas foi feito. Qual é a diferença entre os bens do Vaticano e os da Igreja Universal, ou entre os templos doados pelo Estado ao Vaticano e os lotes doados às Igrejas, as verbas alocadas para passeatas?

Outra correção: há mais coisas que diferenciam o profano do sagrado além das roupas e das letras usadas nos cultos: a intenção do louvor é exaltar as qualidades de Deus e suas maravilhas em nossa vida, diferente portanto das "popozudas" e outras que tais… todos sabem que a música rege nossas vidas desde que nascemos, portanto nada mais natural do que utilizá-la com fins religiosos. A venda de CDs reverte no funcionamento e manutenção da
igreja.

De novo lembro que a intenção não pode ser considerada, quando se analisa um programa que passa na TV, que é uma concessão pública, não podemos nos esquecer. Sendo assim, não há nenhuma diferença, a missivista mesma está confirmando isto.

Não digo que Deus faz chover dinheiro, mas sou testemunha viva dos milagres financeiros que ele já fez em minha vida e na de pessoas que conheço bem de perto, e olhe que eu não precisei dar dízimos milionários ou grandes quantias. Vou te revelar o segredo: basta apenas acreditar que Deus pode fazer maravilhas financeiras, entre outras. Essa idéia é tão simples e funciona tão bem que é difícil as pessoas aceitarem. A maioria gosta de coisas mirabolantes, complicadas. Deus não é complicado, Ele é especial. Não se pode esperar que seu poder seja limitado. Não limite Deus na sua mente, que Ele não limitará os milagres Dele em sua vida, ok?

Destaquei a afirmação acima porque ela confirma o que eu afirmei em meu artigo: é a fé que alguém possa ter, sua busca pelo melhor que fazem a mudança, não a igreja. A fé não depende de igrejas, nem de pregadores, ela é individual. O que afirmei foi que os pregadores usam os depoimentos como marketing, manipulando o desespero das pessoas, do mesmo modo que os apresentadores dos shows. A forma dos programas segue o mesmo padrão. As propagandas políticas também.

O salvador humano não é aquele que nos tira a ação pessoal, pois existe o livre arbítrio. O que fazemos é confiar nele para "desempatar" as situações de conflito. Já pensou ter alguém para resolver o impossível, quando suas próprias forças e esforço se esgotaram e você não vê saída? Falo tudo isso por aquilo que vi pessoalmente, não por folclore ou pelo que falaram.

O salvador humano é aquele que dita normas de comportamento para que alguém usufrua algo de bom e se coloca na posição de intermediário, pois é aquele que dita o que deve ser feito. Desta forma o livre arbítrio se exerce dentro do fazer aquilo que se disse que é certo. A reflexão passa, portanto, por um catalisador entre o homem e Deus, deixando de ser pessoal

Quanto à manipulação psíquica, não creio que exista manipulação maior do que os programas que jogam por terra os relacionamentos, ensinam crianças a serem rebeldes e tiram toda a esperança do adolescente. Continuo crendo que a igreja é uma opção saudável, sem hipocrisia, que busca o bem-estar psíquico e emocional de seus membros. Usando a mídia para isso, se os outros podem, por que não os evangélicos? Garanto que o produto final é bem melhor. Abraços e fique com Deus, Dailla.

Este tipo de programa é uma manipulação psíquica tão grande quanto a que a missivista citou. A diferença de novo seria colocada no interior de quem manipula e de seus objetivos. Como isso não é uma garantia, é preciso acabar com esse formato de programa, sob pena de deixarmos a mente das pessoas emocionalmente vulneráveis à mercê de outras pessoa via TV, com as bênçãos do Estado. V. S.