Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Não voltemos ao nhengatu

DESAFIO AOS LINGÜISTAS

Caia Fittipaldi (*)

Devo dizer, pra jogar limpo, que o que escrevi ? e deu início a esse quase-debate ? não é idéia apenas minha. Trabalho com um grupo de amigos que, depois da eleição do Lula, orgulhosa e prazerosamente nos batizamos Lingüistas Brasileiros para a Democracia (®).

Mas nem todos do grupo são lingüistas: há professores de Língua Portuguesa, um publicitário, uma professora de História doutoranda em Comunicação, dois músicos, uma psicanalista, dois geógrafos e mais algumas pessoas, menos regulares, vizinhos de bairro na Vila Madalena, em São Paulo.

O que interessa dizer já é que somos um grupo de cidadãos brasileiros pró-democratização de todos os saberes no Brasil. Somos pesquisadores muito laboriosos e diligentes, porque assim aprendemos a ser na universidade que conhecemos, antes de 1964 e imediatamente depois e que, depois, sumiu. Somos dedicada e seriamente democráticos e democratizantes.

E todos fizemos opções profissionais especialmente orientadas para nos afastar completamente da universidade brasileira que vimos ser construída no Brasil, durante as últimas três décadas.

Fomos formados em escola brasileira pública democratizante e, como intelectuais democratizantes, só sabemos pesquisar pesquisas que visem a instruir todos os demais brasileiros que, por impedimentos de classe, de história e até de destino, não consigam chegar à escola fundamental, a cursos profissionalizantes ou à universidade (como mande o sonho pessoal de cada um).

A reflexão, o ensino e a pesquisa que aprendemos a fazer são críticos e democratizantes e visam a atender ou a um projeto ou a uma utopia de reconstrução. Se a universidade brasileira que conhecemos não foi perfeita ? e ela não foi ?, ela pelo menos tinha ambição democratizante e, portanto, tinha futuro. A de hoje não tem nem passado.

Com mais tempo e mais história ? e com o que víamos acontecer, cada vez mais flagrantemente ?, fomos nos tornando cada vez mais críticos daquilo que a universidade brasileira se tornou, de 64 para cá, com o corolário do que nesse ano se armou na América Latina e que acabou de materializar-se, no Brasil, nos tristes oito anos de governo FHC-FMI.

Sempre soubemos, de qualquer modo, que não cab&iiacute;amos nos jornais brasileiros, e isso desde o início, quando a Folha de S.Paulo ainda existia. Muito menos cabemos agora, quando a Folha de S.Paulo ? que nunca foi muito democratizante, mas teve grandes momentos ? já perdeu totalmente, até, a decência democrática.

Por isso, até agora, trabalhamos e estudamos em silêncio, sempre bem longe da universidade brasileira, por sorte, mas sem descanso e diligentemente.

Trabalhar pelo Brasil

O que nos congregou desde o início, ainda nos anos 80-90, nos tempos do Curso de Lingüística da FFLCH-USP foi, exclusivamente, a indignação. O que nos manteve vivos foi uma esperança obsessiva. E sempre nos animou a irrestrita confiança (quase "fé") que aprendemos a ter nos seguintes meios e instrumentos:

1) Na política ? como o único instrumento com que os pobres podem contar, para construir antidestinos dignos e justos ? e na educação pública: como o único instrumento com que os pobres podem contar para construir antidestinos duradouros;

2) No Estado democrático ? como agente de democratização de saberes democratizantes;

3) Na universidade ? como agente produtor de saberes democratizantes;

4) Nos saberes críticos ? como único modo de os cidadãos construírem meios democráticos pelos quais possam fiscalizar todos os instrumentos e agentes acima listados, de modo a assegurar que todos, sempre, permaneçam democráticos e democratizantes e, assim, criar mecanismos eficientes de "controle social"; e, por fim,

4) Nas línguas locais ? como único instrumento pelo qual os seres humanos podem construir quaisquer saberes críticos.

Os Lingüistas Brasileiros para a Democracia sabemos que corremos o risco de estragar tudo, e responder ao Observatório com um manifesto grandiloqüente e que, à primeira vista, talvez pareça "difícil".

O problema é que não é fácil "resumir" quase 30 anos de estudos e leituras e bate-papos e muita cerveja sem, ao mesmo tempo, para resumir, escrever 500 laudas que mais serão romance que ciência. Na dúvida, optamos pela demonstração lógica mais estrita (e mais curtinha), que lhes oferecemos.

Com um pouco de leitura atenta, é fácil ver que, se os Lingüistas Brasileiros para a Democracia acreditamos firmemente em 1), 2), 3) e 4), definidos acima, tá na cara que acabamos por nos convencer de que o Brasil, para voltar a andar em direção à democracia, enfrenta hoje dois problemas que são, sim, de vida ou morte:

5) Problema: a sociedade brasileira não conta com bons saberes críticos sobre sua língua local ? sejam saberes históricos, sejam saberes normativos, descritivos, explicativos, nem, de modo geral, com bons saberes "lingüísticos"; e

6) Problema: o analfabetismo funcional no Brasil é tragédia nacional (e vergonhoso resultado do projeto de "iluminismo-sem-soberania-e-os-pobres-que-se-danem", que já maculou para sempre, irremediavelmente, o currículo do "príncipe dos sociólogos brasileiros", o professor-presidente doutor Fernando Henrique Cardoso.

Daí que, se a língua portuguesa do Brasil é o único meio pelo qual se pode esperar transformar em cidadãos leitores críticos e reivindicantes os milhões de brasileiros jovens, que hoje são leitores disfuncionais… nada mais evidentemente urgentíssimo e necessário, no Brasil, do que:

7) Eleger um governo democrático, que fosse pelos pobres (OK. Tá feito);

8) Aprovar o projeto Aldo Rebelo, esteja como estiver, com ABL e fiscal de língua e multa e tudo… porque aquele projeto de lei é a única arma que a sociedade brasileira conseguiu construir, como pôde, e que pode ser eficazmente democratizante, e instrumento pelo qual se poderá começar a pensar em construir uma política nacional democratizante para todos os idiomas, no Brasil (Tá andando, mas tá difícil); e

9) mandar a universidade brasileira, em todos os prédios nos quais se fale ou pense em língua portuguesa do Brasil, começar a trabalhar pelo Brasil, imediatamente, para descrever, explicar e resolver o problema do analfabetismo funcional no Brasil (o que já começamos a fazer, na primeira oportunidade que surgiu, e que foi a matéria d?o Observatório… onde toda essa conversa começou).

Escudo na calçada

A idéia de suspender os salários pagos com dinheiro público, claro, foi idéia de última hora… porque os Lingüistas Brasileiros para a Democracia pensamos que, se não temerem pelos salários e aposentadorias esse pessoal da universidade brasileira "oficial" "a-política" não se mexerá é nunca! E é importante fazê-los mexerem-se imediatamente. Ou ver logo quem não sabe mesmo é naaaaaaaada e não tem mesmo é nenhuuuuuuum saber democrático e democratizante aproveitável… e demiti-los e fazer concursos especialmente construídos para descobrir quem, no Brasil, está pensando em Brasil e coisa e tal.

Depois, então… será hora de recomeçar.

Por isso, e para isso, todos os Lingüistas Brasileiros para a Democracia, em peso, votamos no Lula e no Aldo Rebelo, em novembro passado. No Lula porque sempre soubemos que, se futuro ainda houvesse para o Brasil, ele teria de ser construído com os pobres do Brasil, fosse como fosse. Estamos inventando um jeito de criar uma medalha de "Lingüista-Brasileiro-para-a-Democracia-Honorário" para, por ela, homenagearmos toda a inteligência brasileira que resistiu, durante mais de 30 anos, à gelequificação da universidade brasileira.

Estamos vendo se, pra facilitar, damos um jeito de oferecê-las em Brasília, para aproveitar a feliz circunstância de quase toda a inteligência brasileira que resistiu, durante mais de 30 anos, à gelequificação da universidade brasileira estar quase toda reunida naquele prédio, já conhecido no Brasil como "Prédio da Transição" ou, mais carinhosamente, "A Transição".

Soubemos, por testemunho ocular de um integrante do Lingüistas Brasileiros para a Democracia, que, às vezes, alguns brasileiros pobres de Brasília juntam-se na calçada, à frente do prédio d?A Transição, numa espécie de vigília cívica. Os pobres reúnem-se ali, sim, com certeza, em busca do conforto espiritual que lhes causa sentirem-se próximos de quase toda a inteligência brasileira que resistiu, durante mais de 30 anos, à gelequificação da universidade brasileira. E que se emocionam, como órfãos adultos que de repente percebam que, sozinhos, sabe-se lá como, eles mesmos, e pobres e sozinhos, arranjaram um jeito de chegar lá. E chegaram.

Mas muitos daqueles pobres brasileiros estão na calçada do prédio d?A Transição, também, como escudo humano democrático. Porque até que se criem os meios para que todos os brasileiros pobres consigam defender-se também pelo saber e pelo discurso ? como se faz em democracias mais maduras, onde já houve tempo para construir regras democráticas "de língua", que asseguram regras democráticas "de conversação", vale dizer, "de parlamentação", e onde a universidade já tenha aprendido a servir aos pobres, mais do que a servir-se dos pobres ? os brasileiros pobres continuaremos obrigados a usar só a cara, para nos defender e defender a democracia brasileira e eleger presidentes pobres.

Sumo saber

Por isso, afinal, é que os Lingüistas Brasileiros para a Democracia votamos em peso no deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e muito nos orgulhamos de estar entre os quase 200 mil votos que o manterão, por mais quatro anos, na Câmara Federal.

Sobre o Projeto Aldo Rebelo, o que os Lingüistas Brasileiros para a Democracia podem ensinar aqui e agora ? e que já será saber muito mais democrático e democratizante do que os saberes "oficiais" de lingüística & língua portuguesa que circulam na sociedade brasileira ? é que é importante conhecer o Projeto Aldo Rebelo, de democratização da língua portuguesa no Brasil ? e criticá-lo e aprimorá-lo ? porque, até nos defeitos, o Projeto Aldo Rebelo é a cara do Brasil pobre.

Um projeto "de língua", nascido de dentro da sociedade brasileira, não poderia ser, de início, muito melhor do que foi o Projeto Aldo Rebelo. Mas ali está uma digna tentativa dos brasileiros pobres para se salvarem. O projeto visa a democratizar o acesso à língua falada e escrita, para todos os brasileiros pobres que não lêem nem falam inglês. Só por isso, se mais não fosse, o já seria importantíssimo e digno de atenção mais conseqüente da universidade brasileira… se ainda existisse universidade brasileira.

Embora a imprensa não tenha sabido repercutir para toda a sociedade a importância desses movimentos, a verdade é que o projeto foi muito bem acolhido pela banda-boa da lingüística brasileira "oficial" (que é bem pequena, mas existe, e mal sobrevive, nas faculdades, sob cerrado sítio da banda podre).

E isso, verdade seja dita, apesar dos vários defeitos do projeto, que são muito visíveis, mas são a parte menos importante, se se considera o Brasil pobre e a necessidade de garantir direitos lingüísticos também para os brasileiros pobres. Além do mais, todos os defeitos que haja serão facilmente corrigidos em breve.

O que há de mais historicamente importante no projeto ? e que nem nossa melhor imprensa democrática soube traduzir adequadamente para a sociedade brasileira ? está em ser o primeiro ato político democrático e democratizante, no Brasil, em 500 anos, que tem boa chance de provocar uma discussão que leve a sociedade brasileira, depois de discutir, a poder construir ? ela mesma, e assistida por uma universidade democratizante ? uma política brasileira mais avançada para os idiomas, que seja, ela também, democrática e democratizante.

Nesse ponto, os Lingüistas Brasileiros para a Democracia expressamente denunciam uma brabésima besteira "de universidade elitista-oficial-com-história-oficial-de-língua-e-tudo", que circula livremente no Brasil, e que há menos de um mês ainda andava aí, oferecida à sociedade brasileira, como sumo saber sobre "lei & língua".

Para o bem ou para o mal

Nos referimos àquela fantasia de ensinar que "ninguém legisla sobre língua, porque as leis nunca pegam" (do professor Sírio Possenti, em jornal de grande circulação nacional), e outra, mais lírica, segundo a qual "querer legislar sobre língua é como querer legislar sobre o vento: é perda de tempo e energia" (do professor Pasquale Cipro Neto, na TV Cultura-SP). Na-na-ni-na-não. Como piada, até que é boa; como "alta ciência sobre língua"… é besteira, e da grossa.

Um magnífico caso de legislação "sobre língua", que tem tudo a ver com o Brasil, foi uma lei do Marquês de Pombal e, justamente, para defender seu-dele amado Portugal. Vale contar, pelas suas muitas lições (tudo, aqui, outra vez, bom saber totalmente grátis e democrático e democratizante e totalmente criticável por quem queira criticá-lo). O Marquês de Pombal inventou e implantou ? verdade que por meios naaaaaada democráticos ? um meio de impedir que nós, hoje, em vez de falarmos português, falássemos… nhengatu. E a lei dele superpegou!

O nhengatu é aquela língua mista de português, espanhol, tupi e o escambau que foi falada em todo o continente americano e da qual muito se serviram os jesuítas, Anchieta e outros. O problema do nhengatu ? de fato, mais o problema do Marquês de Pombal! ? é que o nhengatu alastrou-se como enchente por todo o território americano, carregado por bandeirantes, piratas, ladrões, comerciantes, padres etc.

E à medida em que avançava a língua nhengatu mais frágil se tornava o controle que a Coroa portuguesa exercia sobre os territórios americanos (quer dizer, mais precária ficava a tal de "soberania portuguesa na América"). Num certo momento, a tal ponto alastrara-se o nhengatu que, se o Marquês de Pombal não inventasse alguma lei de "política para o idioma", o avanço do nhengatu acabaria com aquela linha imaginária imaginada pelo papa e riscada num mapa imaginado pelos políticos, e que ficaria conhecida como "Linha de Tordesilhas".

Ora… aquela linha totalmente imaginária era a única garantia (e precaríssima) com que podiam contar os portugueses, nos últimos anos do Império na América. Se perdesse o controle político-lingüístico sobre as terras americanas, Portugal perdia a parte mais rica do maior do latifúndio do mundo que ainda lhe cabia.

A lei do Marquês pegou, sim, muito bem pegada. Embora o Marquês tenha prendido um monte de gente, culpada, apenas, por não falar a língua "oficial". Queremos dizer: o Marquês errou pelo método antidemocrático de implantar uma língua que tinha valor estratégico para o império português. Mas não errou por ter usado, como instrumento político-estratégico, uma "lei de língua". E foi uma lei de língua, portanto, que deu ao Brasil a língua que temos hoje e que, por via indireta, manteve o idioma espanhol lá para os lados do Pacífico… e nunca mais saberemos se para o bem ou para o mal.

Na internet, e com cerveja

Esse tipo de poderosa intervenção do Estado no plano da língua existe, se faz e pega, e tudo! E muito pode ajudar, no Brasil, a preservar os direitos dos mais pobres ao próprio idioma local. Isso… a universidade brasileira "oficial", elitista e elitizante e antidemocrática, ainda ensina que… "não dá, não existe, não pega, não funciona…"

O Projeto Aldo Rebelo é democrático e democratizante, e pode colaborar para criar no Brasil uma nova universidade democrática e democratizante, exatamente porque obriga a traduzir para a língua portuguesa do Brasil toooooooodos os termos de especialidade, sobretudo nas áreas de saber de mais alto valor estratégico, em tempos de globalismo e globalização:

** ciência & tecnologia;

** economia & finanças;

** ensaios contemporâneos de crítica dos meios de comunicação; e,

** toda a reflexão crítica sobre globalismo e globalização, que se constroem hoje, em línguas de nações mais ricas do que o Brasil e nas quais o saber já está em ponto mais avançado de democratização e onde, afinal, já há eficientes mecanismos de "controle social").

Sem tradução para o idioma dos brasileiros mais pobres, todos esses saberes continuarão a ser semi-oferecidos e semi-escamoteados ao público leitor, no Brasil, se continuarem a ser introduzidos por aqui em inglês americano, sem qualquer tradução; ou se continuarem a ser muito mal traduzidos.

Quanto à mensagem da professora Lucia Quental, PhD-em-Lingüística-confessa, da UFRJ… Nem sabemos o que dizer. Os Lingüistas Brasileiros para a Democracia temos, há eras, todos os dados que ela oferece em sua argumentação (são dados de 2000), tirados exatamente das mesmas fontes (teste Pisa, do Inep, e o trabalho do professor Creso Franco).

Aliás, aprendemos tudo aquilo (e mais!) na Biblioteca de Pinheiros e na internet, em casa, de graça e tomando cerveja. Que PhD, sô?! (Cada idéia…)

Pensando no nó

Pra terminar ? e para, depois, ninguém chiar ?, é bom todo mundo lembrar que os pobres brasileiros conquistaram, sim, o poder de governar por medida provisória (não é lá muito democrático, mas… guerra é guerra).

Os lingüistas brasileiros para a democracia que colaboramos com Aldo Rebelo entendemos que:

1. longe de ser atitude de chovinismo, a atenção com as traduções, no Brasil, é manifestação de interesse em preservar os direitos civis de todos os brasileiros, sobretudo, claro, dos brasileiros mais pobres que não podem conhecer (sequer!) o inglês dos shoppings de Miami; e que,

2. longe de ser atitude de xenofobia, a atenção ao idioma local, no Brasil, pode ser meio eficiente para que o Brasil resista melhor ao globalizamento selvagem pelo idioma inglês americano, que claramente avança sobre a América Latina, sobre a Ásia e sobre a África, não como veículo de cultura ou de valores democráticos, mas como ativo instrumento do que se conhece hoje como "imperialismo lingüístico", em todas as nações que estão postas como mercados-alvo de globalizamento pelas finanças planetárias (menos no Brasil, onde nossos lingüistas de universidade "chapa-branca" nunca nem ouviram falar nem de imperialismo, nem de globalização, nem ? muito menos! ? de "imperialismo lingüístico").

Por tudo isso, os Lingüistas Brasileiros para a Democracia apóiam o Projeto Aldo Rebelo que visa, especificamente, a promover o desenvolvimento de estudos democráticos e democratizantes de língua portuguesa, no Brasil ? que ainda não há ? e a promover a democratização dos saberes, em geral, na sociedade brasileira.

Por tudo isso, e para colaborar para construir condições de governança democrática no Brasil e para colaborar com o governo do presidente Lula da Silva, os Lingüistas Brasileiros para a Democracia construíram quatro perguntas, nas quais têm certeza de que se manifesta uma ansiedade ainda "sem voz", mas que atinge toda a sociedade brasileira e para as quais os nossos especialistas "de universidade" elitista e elitizante ainda não despertaram nem dão quaisquer sinais de se interessarem por explorar e (ou) discutir com a sociedade brasileira, em geral:

** Como é que se governa sem "discurso nacional" (ou local), na área globalizada do mundo global?

** E para piorar… com uma imprensa que não construiu ainda nem o primeiro parágrafo de um discurso democratizante?

** E, para piorar o resto… sem língua local socialmente descrita, explicada e ensinada, quando se sabe, em todo o mundo, que a língua local (a "primeira língua" das comunidades de falantes) é o único instrumento capaz de construir falantes-leitores críticos, capazes de criticar o local e o global e de exercerem efetivo controle social sobre o Estado, a universidade, a imprensa e todas as demais instituições da democracia)?

** E… com leitores disfuncionais?!

Os Lingüistas Brasileiros para a Democracia, o Movimento Nacional de Defesa da Língua Portuguesa, o deputado Aldo Rebelo e outros brasileiros empenhados estamos tentando pensar exatamente nesse ponto desse nó.

(*) Lingüista, tradutora e assessora técnica do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), para questões de políticas para o idioma

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