Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nota do Sindicato dos Jornalistas do DF

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FITAS & ROLOS

A Diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal entende que o episódio das fitas contendo a gravação de conversas entre procuradores da República, o senador Antonio Carlos Magalhães e o jornalista Fernando César Mesquita, envolvendo, mais uma vez, denúncias de atos ilícitos cometidos por membros do governo federal, choca a sociedade ? sempre assombrada com a crônica prática de corrupção ? e, além disso, traz à tona uma controvérsia sobre o direito dos cidadãos à informação, que vem sendo reiteradamente desrespeitado neste país.

Denúncias de corrupção, feitas por autoridades contra autoridades ? ambas do alto escalão e do círculo restrito do poder ?, não podem de modo algum permanecer sigilosas.

Nossa história recente ensina que tenebrosas transações foram feitas, no interior da administração pública, com recursos públicos. Portanto, em detrimento das necessidades de uma população cada vez mais carente de serviços de saúde, educação, transporte, segurança etc. Revelar publicamente informações sobre irregularidades, como fez o procurador Luiz Francisco de Souza, é cumprir com o direito do cidadão à informação, pois, normalmente, permanecem em círculos restritos do poder, até como instrumento de barganha e chantagem, sem que o contribuinte seja esclarecido, como reza a legislação.

A atitude do procurador Luiz Francisco de Souza, de gravar e passar as informações à imprensa, revela destemor e o compromisso com o inquestionável direito da população ao acesso transparente aos atos da administração pública que ela sustenta. Nosso reconhecimento se estende aos jornalistas Andrei Meirelles, Mino Pedrosa e Mário Simas Filho, pela percepção profissional sobre o elevado interesse público do episódio.

Por isso mesmo, rechaçamos a tentativa de parcela da mídia de desviar o foco do que deve ser apurado, para lançá-lo sobre quem quer revelar as denúncias, evocando uma suposta, abstrata e corporativa ética profissional. Esse procedimento coincide com certa sintonia com uma pouco democrática indisposição dos partidos governistas para admitir a abertura de uma CPI ? instrumento normal da vida parlamentar em regime democrático ? e apenas serve para confundir a opinião pública.

Nem é preciso discorrer sobre a dependência editorial-financeira de parcelas expressivas da mídia brasileira diante do poder do Estado.

O Sindicado dos Jornalistas do DF conclama os procuradores, parlamentares e a todos os funcionários públicos, sejam motoristas ou secretárias, que, dispondo de informações sobre irregularidades na administração pública, façam a devida denúncia. Para tanto, colocamos a TV Comunitária ? instalada na sede do Sindicato ? à disposição de todos, inclusive do senador Antonio Carlos Magalhães. A TV não hesitará em divulgar informações relevantes sobre os sistemáticos assaltos aos cofres públicos neste país.

Finalmente, conclamos todas as forças democráticas a uma campanha popular pela instalação de uma CPI que apure todo o rol de denúncias de corrupção que permanecem açoitando a sociedade, tal como a descomunal miséria sócio-econômica que ela alimenta. Conclamamos também aos partidos comprometidos com a ética na política a buscarem transpor o isolamento do Parlamento, abandonando práticas injustificáveis como o voto secreto, e organizar ? junto com os sindicatos, a OAB, a CNBB, os intelectuais e os artistas ? um movimento nas praças e nas ruas para exigir que os congressistas respeitem o direito do povo de ver esclarecido todo o episódio.

Brasília, 16 de março de 2001

A Diretoria

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