Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Notícias da feira

A Fenasoft já foi promovida a “uma das maiores feiras de informática do mundo”. Feira, que Aurélio definiu como “lugar público, muitas vezes descoberto, onde se expõem e vendem mercadorias”, é uma maravilha, mas é feira. A Fenasoft vende-se como “evento”, com direito a ampla cobertura destinada mais a divulgar a feira (capítulo “comunicação social”) do que a investigar, pesquisar e informar (capítulo jornalismo).

O oba-oba da Fenasoft-97, movido a verbas promocionais, se impôs despudoradamente na quarta semana de julho: jornais publicaram cadernos diários de anúncios, emissoras de rádio e televisão mandaram repórteres encher lingüiça.

Na tarde do último dia do “evento” ouviu-se no rádio uma notícia singela: um “consumidor” comprou num estande mercadoria que não lhe foi entregue, porque só havia estande, não havia loja, nem depósito, não havia empresa estabelecida… Truque velho como os dos mercadores de Alicante. Mas uma verdadeira notícia. No ano que vem os jornais poderão acrescentar, à lista de procedimentos necessários para ir à Fenasoft, o item “verifique se o vendedor está lá para vender ou para dar golpe”.

Feirantes e editores enchedores de lingüiça, craques em tratar o cliente como otário, continua havendo e haverá sempre. Pena rarear quem seja capaz de, como Rubem Braga, ir à feira e pedir a ajuda do poeta Drummond para “entender as coisas de barro e de palha, a glória dos tomates, o espanto de pedra no olho dos peixes eviscerados, e o constrangimento amarelo desses abacaxis sem sabor que amadureceram no meio do inverno”.

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