Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

NOTÍCIAS POPULARES

"‘NPÂ’ imprime seu estilo popular pela última vez", copyright Valor Econômico, 22/01/01
"Depois de 37 anos de irreverência e inovação na linguagem jornalística brasileira, o diário paulistano ‘Notícias PopularesÂ’ circulou no sábado pela última vez. O jornal, que sofria com prejuízos, estava com média de circulação de apenas 20 mil exemplares por dia.
Com o fechamento, o grupo Folha da Manhã está estudando uma solução para os 40 profissionais que formavam a equipe do ‘NPÂ’. ‘Vamos avaliar nos próximos dias como poderemos absorver o maior número de pessoas em outras áreas da empresaÂ’, explica Adriano Araújo, diretor geral dos jornais ‘AgoraÂ’ e o extinto ‘NPÂ’. Ainda assim, o número de demissões deverá ser expressivo. Ele acrescenta que a decisão de descontinuar o produto tem como objetivo concentrar esforços no ‘AgoraÂ’, que foi lançado há pouco menos de dois anos e já alcança tiragem média diária de 118 mil exemplares. Ontem, o veículo lançou sua primeira edição dominical no interior do Estado de São Paulo, com conteúdo focado na região. ‘Queremos ser líderes aos domingos no interiorÂ’, diz Araújo.
O avanço regional é acompanhado de uma grande campanha publicitária nos mercados de Campinas e Ribeirão Preto, com a veiculação de oito comerciais de TV e ações promocionais.
O ‘AgoraÂ’ também renovou com a Federação Paulista de Futebol o contrato para ser o jornal oficial Campeonato Paulista. Araújo promete anunciar nos próximos dias a contratação de um cronista esportivo de destaque na mídia. Além disso, o jornal vai investir em uma forte cobertura do carnaval paulistano.
Lançado em 15 de outubro de 1963, o ‘NPÂ’ representou um marco no jornalismo brasileiro. Com manchetes criativas e impactantes, modernizou a linguagem dos jornais populares. Na tentativa de sustentar a venda nas bancas, apostou em diversas linhas editorias.
De fortes imagens de violência, passou, no início da década de 90, a focar o noticiário em prestação de serviços ao trabalhador. A estratégia não deu certo e o ‘NPÂ’ voltou a investir no jornalismo policial, desta vez mesclado com fotos sensuais de mulheres e cobertura da vida das celebridades. Entre idas e vindas, o ‘NPÂ’ tornou-se um dos marcos do cotidiano da cidade de São Paulo e de seus personagens nas últimas quatro décadas."

Folha de S. Paulo


NOTÍCIAS POPULARES

"‘NP’ imprime seu estilo popular pela última vez", copyright Valor Econômico, 22/01/01

"Depois de 37 anos de irreverência e inovação na linguagem jornalística brasileira, o diário paulistano ‘Notícias Populares’ circulou no sábado pela última vez. O jornal, que sofria com prejuízos, estava com média de circulação de apenas 20 mil exemplares por dia.

Com o fechamento, o grupo Folha da Manhã está estudando uma solução para os 40 profissionais que formavam a equipe do ‘NP’. ‘Vamos avaliar nos próximos dias como poderemos absorver o maior número de pessoas em outras áreas da empresa’, explica Adriano Araújo, diretor geral dos jornais ‘Agora’ e o extinto ‘NP’. Ainda assim, o número de demissões deverá ser expressivo. Ele acrescenta que a decisão de descontinuar o produto tem como objetivo concentrar esforços no ‘Agora’, que foi lançado há pouco menos de dois anos e já alcança tiragem média diária de 118 mil exemplares. Ontem, o veículo lançou sua primeira edição dominical no interior do Estado de São Paulo, com conteúdo focado na região. ‘Queremos ser líderes aos domingos no interior’, diz Araújo.

O avanço regional é acompanhado de uma grande campanha publicitária nos mercados de Campinas e Ribeirão Preto, com a veiculação de oito comerciais de TV e ações promocionais.

O ‘Agora’ também renovou com a Federação Paulista de Futebol o contrato para ser o jornal oficial Campeonato Paulista. Araújo promete anunciar nos próximos dias a contratação de um cronista esportivo de destaque na mídia. Além disso, o jornal vai investir em uma forte cobertura do carnaval paulistano.

Lançado em 15 de outubro de 1963, o ‘NP’ representou um marco no jornalismo brasileiro. Com manchetes criativas e impactantes, modernizou a linguagem dos jornais populares. Na tentativa de sustentar a venda nas bancas, apostou em diversas linhas editorias.

De fortes imagens de violência, passou, no início da década de 90, a focar o noticiário em prestação de serviços ao trabalhador. A estratégia não deu certo e o ‘NP’ voltou a investir no jornalismo policial, desta vez mesclado com fotos sensuais de mulheres e cobertura da vida das celebridades. Entre idas e vindas, o ‘NP’ tornou-se um dos marcos do cotidiano da cidade de São Paulo e de seus personagens nas últimas quatro décadas."

"‘Notícias Populares’ circula hoje pela última vez, após 37 anos", copyright Folha de S. Paulo, 20/01/01

"O jornal ‘Notícias Populares’ está sendo publicado hoje pela última vez. A circulação havia caído a 20 mil exemplares diários.O Grupo Folha, que também edita a Folha, decidiu concentrar suas atividades em jornalismo popular no ‘Agora São Paulo’, lançado há um ano e dez meses, que tem hoje uma circulação diária de 118 mil exemplares. Estão previstas cerca de 40 demissões.

Segundo Adriano de Araújo, diretor-geral do ‘Agora’ e do ‘NP’, ‘houve um esgotamento do modelo do ‘NP’, simultaneamente ao acerto da fórmula do ‘Agora’.’

Lançado em 15 de outubro de 1963 pelo empresário Herbert Levy, para concorrer com a ‘Última Hora’, de Samuel Wainer, o ‘Notícias Populares’ passou ao controle do Grupo Folha em 1965.

Seu primeiro editor-chefe foi Jean Mellé, romeno naturalizado brasileiro. Sob sua direção, o ‘NP’ revolucionou o jornalismo popular com textos curtos, muitas fotos e manchetes de impacto: ‘Violada em pleno auditório’ (de 1967, quando Sérgio Ricardo quebrou seu violão no festival de música); ou ‘Nasceu o Diabo em São Paulo’ (de 1975, da conhecida série sobre o Bebê-Diabo).

Em 1986, sua tiragem média alcançou 113 mil exemplares diários. Caiu a 71 mil em 1988, voltando a subir em 1990 (104 mil), após uma ampla reforma. Além de sofrer resistência por parte das agências de publicidade, o ‘Notícias Populares’ perdeu circulação ao longo da década: 99 mil (1994), 74 mil (1996), 48 mil (1998), até chegar aos 20 mil."

"Fuzilado na Barão de Limeira", copyright Folha de S. Paulo, 29/01/01

"Nas primeiras páginas do romance A Invenção da Solidão, o autor americano Paul Auster faz uma espécie de inventário da insignificância humana. No livro, um homem visita a casa do pai, que acaba de morrer. Encontra anotações, fotos, meias, objetos pessoais do morto e reflete sobre a brutal desimportância daquilo. Era como se seu pai nunca tivesse existido. Um homem que se casou, teve filhos, trabalhou e comprou uma casa passava a ser irrelevante (talvez o fosse em vida).

Sentimento parecido devem ter experimentado as pessoas que visitaram, nos últimos dias, o salão onde até há pouco funcionava o Notícias Populares. O jornal não existe mais. A empresa que o editava (responsável também pela Folha e pelo Agora São Paulo) decidiu fechá-lo. A Redação foi desmantelada, carrinhos de supermercado levaram os computadores. Só alguns telefones ainda funcionavam. Em breve talvez seja como se o jornal nunca tenha existido. Mas não pode ser assim.

Tive o orgulho de ser editor-chefe do NP de 1991 a 1995. Embora ao longo dos anos tenha ocupado cargos mais prestigiosos, não reluto em dizer que meu tempo no NP foi o mais o mais rico de minha carreira. Ao lado de colegas brilhantes que vinham da Folha e de outros mais experientes que já estavam no jornal, embarquei na experiência quase suicida de fazer um jornalismo radicalmente popular, mas, por mais demencial que em certos momentos parecesse, sempre jornalismo.

A história recente do NP tem como ponto de inflexão o ano de 1990. Foi quando o jornal, que perdia circulação, fossilizado em apresentação e em conteúdo, passou por uma ampla reforma gráfica e editorial. Ganhou cor, textos mais modernos e recursos gráficos que o aproximavam dos tablóides britânicos, a principal referência dessa vertente jornalística. Cheguei ao NP com o novo projeto já em vigor.

Para esse jornal renovado, contrataram-se profissionais de origem mais burguesa -com tudo que isso implica de bom e ruim. Em pouco tempo, os burgueses perceberam: longe das diretrizes rígidas de um veículo mainstream como a Folha, a liberdade editorial era uma tentação. As fotos e a linguagem tornaram-se mais picantes. As vendas subiram proporcionalmente.

Houve a grita esperada. Moralistas, guardiães hipócritas dos costumes e, possivelmente, até pessoas bem-intencionadas protestaram contra a ousadia do jornal. Promotores da Infância e da Juventude entraram na Justiça para que o NP fosse vendido envelopado, todos os dias, mesmo que a capa trouxesse nada além da reprodução de um crucifixo de Giotto e o Evangelho de São Lucas no original grego.

O processo arrastou-se por anos, até uma vitória histórica no Tribunal de Justiça de São Paulo -a primeira a respeito dos limites da imprensa sob a luz da Constituição de 1988.

O jornal saiu triunfante, mas, com o tempo, a circulação sofreu. Ao ser fechado, o NP vendia muito pouco. Menos do que merecia. Bravo e desbocado, ele rejeitaria que este texto lhe prestasse homenagens lacrimosas. Tentarei evitá-las. Mas gostaria que o leitor soubesse dos profissionais aguerridos e do gosto pela notícia que sempre constatei nas equipes que passaram por ele.

No morticínio do Carandiru, no impeachment de Collor, na morte de Senna, no suicídio de Kurt Cobain e em tantos outras horas, viu-se em ação um grupo de jornalistas disposto a enfrentar de igual para a igual a concorrência, mesmo dispondo de condições técnicas e materiais cruelmente inferiores.

O NP sempre foi o underdog, jornalismo sem máscaras. Claro que não tivemos só acertos. Houve erros, alguns colossais. Deixo a nossos críticos (que não são poucos) a tarefa de listá-los. Ressalto que, mais do que o fim do jornal em si, os fatos indicam, a meu ver, um rumo burocrático para o jornalismo popular da maior cidade do Brasil.

A imprensa popular de sucesso, hoje, é moralista e rabugenta. Tudo o que o NP nunca quis.

Impossível negar que o jornalismo popular que triunfou em São Paulo tem um importante papel social imediato. A eleição de melhores vereadores, por exemplo, é decorrência direta das denúncias dessa imprensa. Mas acho que sua fórmula se sustenta num voluntarismo salvacionista, o mesmo tipo de indignação rasa que origina figuras como Jânio Quadros.

Longe de tudo isso, o NP era irreverente, mas sem nunca abdicar do jornalismo. Até nos últimos meses de vida, premiava a concorrência com furos, como o do namoro do jogador Ronaldo com Milene Domingues e, logo depois, o esfriamento das relações do casal.

O NP toma agora o rumo da história. É como diz Paul Auster, no final de A Invenção da Solidão: Foi. Nunca será de novo. Lembre. (Álvaro Pereira Jr., 37, foi editor-chefe do NP (1991-1995), do Fantástico e chefe de Redação da Rede Globo-SP. Mora em San Francisco (EUA) e colabora com a Rede Globo e a Folha)"

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