Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nova realidade, novos modelos

DIPLOMA EM XEQUE

Luiz Egypto

O curso superior é fundamental para o exercício do jornalismo. Um curso de Jornalismo tradicional, à base de 4 anos de graduação, não necessariamente.

Um curso de Jornalismo que se preze deverá ser estruturado com ampla gama de disciplinas optativas, claro viés humanista e forte conteúdo técnico (os adjetivos "claro" e "forte" não estão aí à toa). Entenda-se "conteúdo técnico" como a técnica de pesquisa e de apuração, e sobretudo redação e edição de textos e imagens. Além de repórteres é preciso formar editores, cuja função agrega ao processo de produção jornalística um diferencial importante nesses tempos de saturação informativa.

Um curso de Jornalismo pode também assumir os moldes de um pós-graduação lato sensu, destinado a alunos já formados e escolhidos por seleção rigorosa, oriundos de quaisquer áreas do conhecimento. Com essa especialização, eles se capacitariam formalmente ao exercício profissional. Três semestres são mais do que suficientes para o ensino da técnica, para montar as bases de uma crítica da mídia e para encaminhar a contento a discussão ética e deontológica.

Quanto à profissão, não é mais possível exigir diploma específico de Jornalismo para o seu exercício. Isso é reserva de mercado. Nos últimos 30 anos, a sociedade mudou muito e a mídia também. É preciso que profissionais de outros segmentos produzam conteúdos para a mídia ? matérias, artigos, eventualmente coberturas. Será preciso contar com eles no esforço de inclusão informativa, o qual implica acolher um número cada vez maior de produtores de informação.

Vedar o exercício profissional a quem não tem diploma de Jornalismo é uma posição insustentável, embora acredite que jornalistas bem formados, na graduação ou no pós-graduação, serão os que melhor vão praticar o jornalismo na mídia. Também por isso a existência dos cursos será sempre necessária, pois não existe espaço melhor do que a universidade para a formação crítica imprescindível (com todos os grifos) ao jornalista. É essa formação crítica que justifica o curso e o exercício da profissão. Empregador inteligente aceita prioritariamente jornalistas formados em Jornalismo.

A universidade está em crise. A universidade pública
vive um processo de desmantelamento e os supermercados do ensino
superior deitam e rolam, formando jornalistas às pamparras,
em geral descompromissados com a formação crítica.
O ciclo tornou-se vicioso e, neste ambiente, a legislação
profissional em vigor (expressa no decreto-lei 972, de 1969) não
se sustenta. Até porque é reconhecidamente ultrapassada.