Ana Lúcia Amaral
Procuradora regional da República em São Paulo
O fato mediático mais importante foi aquele não muito bem cuidado pela mídia. E se não fosse o Observatório da Imprensa eu não teria prestado atenção. Em suma, o mais importante foi aquele que a mídia brasileira não deu a importância devida. Refiro-me à tragédia do Timor Leste. Outros fatos, ainda que não muito bem tratados, apesar da intensidade da sua exploração – estou agora a me referir às CPI’s – foram importantes por terem mostrado que a imprensa, de um modo geral, pode e deve ser os olhos da sociedade. Deixando de lado as “opiniões” dos neófitos na defesa dos direitos à honra, à imagem, à intimidade dos cidadãos – que todos têm e não somente os bem-nascidos –, o fato é que a população, ainda que meio desconfiada, viu que é possível a norma penal sair da senzala e adentrar a casa-grande, para ser aplicada àqueles que se consideram com mais direitos do que os outros quando foram surpreendidos em falcatruas envolvendo o patrimônio público, que tratavam como se privado fosse. Quanto a esses fatos, a imprensa trouxe a público o que é do interesse público.
Carlos Salles
Promotor público
O lançamento do livro Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti, que deixou os jornalistas meio pelados.
Fernando Pacheco Jordão
Jornalista
O grande fato midiático do ano foi a cobertura que a imprensa deu às investigações sobre corrupção entre os vereadores de São Paulo. Elas não teriam ido adiante sem a pressão da mídia. Lembro-me de frase do ex-vereador Vicente Viscome, quando ainda não estava em cana: “Não posso nem sair na rua, no meu bairro, porque começam a me vaiar”. Isso graças à grande exposição que teve na mídia.
Gabriel Priolli
Jornalista
O fato midiático mais importante de 1999 foi a aprovação, em comissão da Câmara Federal, da proposta de emenda ao artigo 222 da Constituição, permitindo a participação societária de estrangeiros nas empresas de mídia impressa e de radiodifusão. Embora a mudança tenha que ser ainda ratificada pelo plenário da Câmara e, posteriormente, pelas comissões e plenário do Senado, tudo indica que a tramitação seguirá sem maiores percalços, dado o interesse do empresariado brasileiro na abertura do mercado de comunicação. Isso terá profundas implicações sobre a nossa mídia, podendo comprometer a soberania nacional no plano da cultura e da informação.
Guilherme Canela
Núcleo de Estudos Sobre Mídia e Política da UnB
Foi a inesperada união Globo-Folha, visto que a competição verdadeira entre estes dois gigantes da mídia nacional era o que restava de esperança para termos uma cobertura mais democrática
Isak Bejzman
Médico e jornalista
Um tanto quanto constrangido, porque sou parte deste processo, sinto-me mesmo assim à vontade para dizer que considero os avanços do Observatório da Imprensa o fato midiático mais importante de 1999. O programa de TV espraiou o espaço do OI na internet. Sem pejo e com tranqüilidade, vejo o OI como uma escola de leitura de mídia.
João Ubaldo Ribeiro
Jornalista e escritor
Como sempre, não sei responder direito a este tipo de pergunta, porque sou um desmemoriado que não presta atenção a datas e anos. Mas eu diria que foi o crescimento acentuadíssimo de “jornais” e “revistas” na internet, nisso compreendida a possibilidade de qualquer cidadão manter sua publicação – pessoal ou em grupo –, através de sites na rede. Vários amigos e conhecidos meus, que só dispunham das seções de cartas dos leitores, hoje são editores, redatores e repórteres. Se bem que a massa de informação e opinião se torne avassaladora, é inegável que se trata de um avanço na chamada liberdade de imprensa.
Luiz Egypto
Redator-chefe do Observatório da Imprensa
O aparecimento do livro Notícias do Planalto – a imprensa e Fernando Collor, de Mario Sergio Conti, tanto pelas informações que traz quanto pelos desdobramentos que provoca.
Marinilda Carvalho
Editora-assistente do Observatório da Imprensa
Meu fato midiático do ano é o programa Via Brasil, da Globo News. Em meio ao mar de banalidade, violência, baixaria, sensacionalismo, exploração da miséria e desrespeito ao próximo, Via Brasil é um retrato singelo e vibrante de um país que não dá bola para Fantástico, Ratinho ou Carla Perez.
Nesses programinhas deliciosos, simples, banhos de reportagem de meia hora – é possível sentir o prazer e o entusiasmo dos repórteres –, a gente vê um país com identidade. E capta afinal o conceito de nação que abnegados como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e tantos outros brasileiros relegados ao ostracismo tentaram resguardar.
Valeu, Via Brasil!
Nahum Sirotsky
Correspondente da RBS em Israel
A ascensão do semanário Época, demonstrando que, como aconteceu com o aparecimento do rádio, posteriormente da TV aberta e da TV paga, a resposta da mídia impresssa à internet está no talento e sensibilidade de editores para inovar. A história do desenvolvimento dos meios de comunicação, em geral, tem sido a do crescimento ou sobrevivência de veículos que atualizam sua linguagem e sabem se comunicar com o indivíduo de sua “época”. Isto se aplica tanto à comunicação em massa como aos chamados jornais acadêmicos.
Spacca
Ilustrador
O maior evento midiático do ano tem tudo para ser o mais discreto: o pacto Globolha. Se é verdade que a mídia tem mais autonomia para criticar e investigar o poder (no sentido restrito: o governo), é porque o poder de fato (o poder de quem pode) está com ela. Protegida pelo manto da invisibilidade pactual, a mídia poderá exercer mais tranqüilamente o seu duplo poder: de dominar a comunicação entre a produção e os consumidores, e de estabelecer o padrão de interpretação dos fatos. Domínio material e espiritual total, na era da Globolhização.
Esta edição do Observatório da Imprensa traz data dupla – 20 de dezembro de 1999 e 5 de janeiro de 2000. Nos quatro anos em que o O.I. aparece periodicamente na internet, o recurso à edição dupla tem sido a forma de a equipe garantir um pequeno período de folga, necessário ao recarregamento das baterias.
E como o final de um ano é época dada a balanços, saiba o leitor que durante 1999 (até o nº 80, de 5/12) o Observatório da Imprensa on line circulou na internet um total de 1.018 matérias, reproduziu 470 textos na seção Entre Aspas, publicou 853 cartas e acolheu 287 autores em suas páginas virtuais. Aos colaboradores do O.I., listados a seguir, nossos melhores agradecimentos. Apareçam sempre. (L.E.)
Adriano Rodrigues de Faria |