Alberto Dines
intenção pode ter sido boa, mas os resultados são desastrosos. A matéria de capa de Veja (17/6/98) sobre a onda de boatos que envolveu a atriz Gloria Pires, sua filha e o marido pode ter sido realizada com os melhores propósitos. Em última análise, funciona como chancela do boato.
Se a perfídia da fofoca baseia-se no seu poder de insinuar-se e multiplicar-se insidiosamente, a publicação escancarada aumenta, qualifica e pereniza a intriga.
Sobretudo porque, ao contrário da aparição do trio familiar no Faustão (em 7/6/98), a matéria da Veja não contém nenhuma indicação de que tenha sido autorizada pelas vítimas do mexerico. Eis porque:
* Não há uma declaração direta e explícita dos protagonistas à revista. As citações aspeadas são aleatórias, não respondem às indagações específicas dos repórteres. Exemplo: “‘Estou cansada desta história’, desabafa Glória” (p.112). Há outras no mesmo estilo.
* A foto da capa, ao contrário do que em geral acontece, não tem autoria. A foto da página interna, da mesma seqüência, está assinada por um fotógrafo que não pertence aos quadros da revista.
* Um matéria de capa onde se acusa frontalmente o jornalismo brasileiro exige uma manifestação institucional na Carta ao Leitor. Caso contrário, fica o leitor na dúvida se o objetivo era apenas pegar carona num caso sensacional ou botar o dedo no lado marrom da nossa mídia. Repórter e editores foram inequívocos quando afirmaram: “A principal brecha nos jornais para a divulgação de boatos são as colunas sociais” (p. 116). Ou quando nomearam os colunistas (de jornal e rádio) que deflagraram a bola de neve de maldades. Equívoca foi a ausência de um editorial da casa, assinado por quem de direito, para justificar a discutível exposição pública de um boato com o fito de enterrá-lo.
Em edição recente Veja denunciou como se emplacam notícias nas colunas sociais (ver remissão abaixo). Agora dispara dubiamente na indústria do boato. Boatu, do latim, é mugido de boi. Numa revista com um milhão e duzentos mil exemplares equivale ao berro transmitido por um trio elétrico.
M.M.
stoÉ não explorou o boato. Abriu suas páginas para desmenti-lo. Ouviu Glória Pires, que, compreende-se, não quis falar, mas respondeu por fax. Explicitamente. E não dando um “desmentido implícito”, como escreveu Veja para disfarçar a ausência de manifestação da atriz.
IstoÉ também não deu foto de mãe-filha-e-padastro. Só de Glória e do marido.
Lição de Glória Pires é a resposta à pergunta escorregadia “Cléo tem namorado?”:
“Ela não é pessoa pública e não tenho permissão para falar de seus assuntos particulares”.
Glória e o boato, IstoÉ
“Radiografia da fofoca“, Roberta Paixão, Veja
Leila Reis, Entre aspas
Marcelo Camacho, Entre aspas