Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O carnaval nos jornais estrangeiros

PESQUISA

A pesquisa Imagens Midiáticas do Carnaval Brasileiro, realizada no ano passado pela Cátedra Unesco e pela Universidade Metodista de São Paulo, pretendeu identificar e analisar a idéia que a mídia constrói sobre o carnaval – o que poderia conduzir a uma percepção da identidade cultural brasileira na conjuntura de globalização.

O trabalho foi coordenado pelo professores José Marques de Melo, Joseph Luyten e Samantha Castelo Branco. O estudo está inserido em uma Rede Internacional de Mídia Comparada (Rincom), cujo objetivo principal é analisar o impacto da globalização nas culturas latino-americanas. A pesquisa envolveu 70 pesquisadores estrangeiros e brasileiros, que analisaram 83 jornais nacionais e internacionais, de circulação ampla e local. O período de coleta das informações foi de 27 de fevereiro a 11 de março de 2000.

Dados mostram que durante as festas de Carnaval o Brasil "parece parar" e existe uma apatia nas editorias de Política e Economia dos principais jornais do país. Segundo a pesquisa, o noticiário é direcionado à maior festa popular do país, ocupando cerca de 20% do espaço total dos veículos no período. Os dados ressaltam que os jornais geralmente parecem orientados pela mesma pauta.

Apesar da valorização do "carnaval ideal" que acontece na passarela da Marquês de Sapucaí, no Rio, ou nos trios elétricos de Salvador, os jornais selecionados mostram uma preocupação com a singularidade das festas de cada região. Uma particularidade que existe nas notícias é a idéia de unidade social, na qual as várias classes e raças se unem para aproveitar a festa popular. Os dados foram obtidos pela análise de 38 jornais brasileiros de cinco regiões do país.

Análise internacional

Além da análise nos veículos de comunicação nacionais, a pesquisa também preocupou-se em verificar a forma pela qual o carnaval é retratado em outros países. Para isso, analisou-se 49 jornais estrangeiros, divididos em três blocos: Europa Ocidental (Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália e Portugal), Estados Unidos, e América Latina (Argentina, Bolívia, Chile, México, Uruguai e Venezuela).

Um dos objetivos da pesquisa foi entender o que esses jornais representam para a construção do imaginário sobre o carnaval no Brasil, já que, na maioria das vezes, esses veículos são a única fonte de informação sobre o assunto.

Verificou-se na Europa a pouca importância dada ao carnaval brasileiro, com exceção de Espanha e Portugal. Países como França e Inglaterra não noticiaram a festa popular. Os jornais belgas e holandeses divulgaram pequenos fatos pitorescos e algumas vezes abordaram o assunto em tom pejorativo.

Devido ao puritanismo corrente nos Estados Unidos, esperava-se que a festa brasileira fosse vista como má conduta, mas as notícias apresentadas mostraram o contrário. Um exemplo foi a matéria de página inteira do The New York Times, intitulada "Carnaval é uma boa idéia para nós". "Apesar da frieza de um país notoriamente protestante e puritano, jornais norte-americanos estão, pouco a pouco, dando maior importância àquilo que se passa na América Latina em geral e no Brasil", concluem os pesquisadores.

Na América Latina o interesse pelos países vizinhos vem crescendo desde a formação do Mercosul. Em geral, a mídia latino-americana demonstrou ter mais interesse pelo Carnaval – exemplo disso é a Bolívia, que apresentou 72 matérias jornalísticas em nove jornais consultados. Na Argentina, no mesmo período, houve seis matérias em quatro jornais. O Rio de Janeiro é visto pela maioria dos países como a sede e o exemplo do típico carnaval brasileiro.

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