Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O duro ofício de jornalista

MUNDO ISLÂMICO

Ser jornalista em sociedades muito conservadoras e pouco afeitas à liberdade de expressão não é tarefa fácil. Na Arábia Saudita, no fim de maio, o editor-chefe do jornal Al-Watan, Jamal Kashoggi, foi demitido por ordem do ministro da Informação do país. Ele havia publicado editoriais e charges criticando religiosos muçulmanos. “Ele fez coisas que não se fazem normalmente como editor-chefe”, comenta um ex-colega, editor-administrativo do jornal Arab News. Kashoggi, como aponta o libanês Daily Star [11/6/03], não é um jornalista qualquer. É um dos poucos editores-chefes em seu país que ascenderam por mérito, ganhando experiência jornalística. Já cobriu diversos assuntos em diferentes países, como Afeganistão, Argélia, Kuwait e Sudão. É forte defensor de reformas na Arábia Saudita, advogando melhor educação da população. Ele acredita que a adoção de parâmetros ocidentais de modernização não significa necessariamente o abandono da cultura islâmica, idéia que defendia no Al-Watan, para desgosto do clero conservador. Depois dos atentados de 11/9/01, nos EUA, destacou-se por assumir posição tolerante e contrária ao terrorismo.

Continua preso no Marrocos Ali Lmrabet, editor da revista em língua francesa Demain, e de sua versão em árabe, Douman. O tribunal de apelações que cuida do caso decidiu não libertá-lo, apesar de estar muito fraco devido à greve de fome que iniciou em 6/5/03. Llmrabet é acusado de “insultar a pessoa do rei”, “atentar contra a integridade do território nacional” e “atentar contra a monarquia”. Seus advogados, Ahmed Benjelloun e Abderrahim Jamaï, se retiraram de audiência no tribunal no dia 10/6/03 depois que diversos requerimentos que fizeram foram rejeitados. O juiz não permitiu, por exemplo, que a defesa usasse uma fotografia da qual se fez uma montagem que, por sua vez, constitui peça da acusação. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras [10/6/03], que exige a libertação de Llmrabet, ele foi hospitalizado em 26/5/03, após três semanas sem comer.