Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

DANIEL PEARL

"Corpo achado não é de jornalista do ?WSJ? seqüestrado", copyright O Estado de S. Paulo, 4/02/02

"Citando fontes da polícia paquistanesa, a rede americana de TV ABC chegou a informar ontem que o corpo do jornalista Daniel Pearl, do Wall Street Journal, tinha sido encontrado com várias perfurações de bala em Karachi, sul do Paquistão. Mas a informação foi desmentida horas depois pelo Departamento de Estado, segundo o qual o cadáver encontrado não era de Pearl, pois amigos não o haviam reconhecido.

Ainda sem informações seguras sobre o destino do jornalista, seqüestrado dia 23, o ministro do Interior paquistanês, Moinuddin Haider, anunciou ontem a prisão de três pessoas – uma em Lahore, no leste do país, e duas na capital, Islamabad – relacionadas com os e-mails enviados na sexta-feira a jornais americanos. Um ultimato dos seqüestradores de Pearl venceu pouco antes do envio das mensagens.

Um dos correios eletrônicos enviados naquele dia informava que o jornalista, de 38 anos, tinha sido morto pelo autodenominado Movimento Nacional pela Restauração da Soberania do Paquistão. Outra mensagem, destinada ao Consulado dos EUA em Karachi, afirmava que o grupo exigia US$ 2 milhões de resgate e a libertação do ex-embaixador do Taleban no Paquistão Abdul Salam Zaif, em troca da liberdade de Pearl. Ambas as mensagens foram consideradas falsas."

 

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"Jornal acredita que repórter ainda esteja vivo", copyright O Estado de S. Paulo, 3/02/02

"O diário Wall Street Journal, para o qual o jornalista americano desaparecido Daniel Pearl trabalha, disse ontem acreditar que o repórter ainda esteja vivo. ?Com base em informações procedentes do Paquistão, acreditamos que ambas as mensagens recebidas ontem (sexta-feira) sobre Danny são falsas. Continuamos a acreditar que Danny ainda está vivo?, indicou o jornal em um comunicado.

O destino de Pearl, desaparecido desde o dia 23, ainda era incerto depois que um e-mail enviado aos meios de comunicação indicara que ele havia sido executado – após o vencimento do prazo dado pelos seqüestradores para que suas exigências fossem atendidas – e de um telefonema pedindo o pagamento de US$ 2 milhões e a libertação do ex-embaixador taleban no Paquistão Abdul Salaam Zaeef.

?Pedimos que libertem Danny. Se isso não for possível, que demonstrem que Danny ainda está vivo. Eles podem fazer isso nos enviando uma foto dele, segurando um jornal de hoje. Continuamos ansiosos para manter negociações que levem à libertação de Danny?, dizia o comunicado do editor-chefe Paul Steiger.

A polícia paquistanesa intensificou ontem as buscas a Pearl depois do recebimento de uma nova mensagem por correio eletrônico indicando que ?talvez? ele estivesse vivo. Na nova mensagem enviada ontem do mesmo endereço das anteriores – a cuja cópia a agência France Presse teve acesso -, os seqüestradores diziam: ?Pearl talvez esteja vivo, façam esforços reais para libertá-lo.?

O grupo, que se identificou como Movimento Nacional para a Restauração da Soberania do Paquistão, havia exigido a libertação dos paquistaneses presos na guerra do Afeganistão.

Centenas de policiais paquistaneses inspecionaram centenas de cemitérios em busca de evidências sobre o paradeiro do repórter, mas até a manhã de ontem não haviam encontrado nenhuma pista que respaldasse a versão de que ele havia sido executado.

Durante a tarde e a noite de sexta-feira a polícia revistou os cerca de 300 cemitérios de Karachi, cidade de 12 milhões de habitantes no sul do país, depois que as redes de tevê CNN e Fox receberam um e-mail afirmando que o corpo de Pearl estaria em um jazigo de Karachi.

Os administradores dos cemitérios receberam ordens para não permitir enterros e informar a polícia sobre qualquer ocorrência suspeita.

A polícia paquistanesa efetuou ontem novas prisões relativas ao caso, incluindo a do pai e outros parentes do principal suspeito do seqüestro, que já está detido e foi interrogado pelo FBI – o xeque Mubarak Ali Shah Gilani, fundador de uma obscura seita islâmica que Pearl pretendia entrevistar."

 

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"e-mails anunciam execução de jornalista", copyright O Estado de S. Paulo, 2/02/02

"A rede de tevê CNN informou ontem ter recebido uma mensagem eletrônica dos supostos seqüestradores do jornalista americano Daniel Pearl, dizendo que ele já havia sido executado. Contudo, um outro suposto representante dos seqüestradores do repórter do diário Wall Street Journal telefonou ontem ao consulado americano em Karachi e exigiu US$ 2 milhões em 36 horas e a libertação do ex-embaixador taleban no Paquistão Abdul Salaam Zaeef, em poder das autoridades americanas, informaram fontes policiais paquistanesas de alto escalão, acrescentando que a polícia acredita ser o telefonema verdadeiro.

?Vimos as recentes informações e esperamos que não seja verdade?, disse Steve Goldstein, porta-voz da Dow Jones, empresa proprietária do Wall Street Journal, referindo-se ao e-mail enviado à CNN, no qual os seqüestradores diziam estar ?sedentos pelo sangue? de outro americano.

O Departamento de Justiça e outras agências governamentais americanas confirmaram ter recebido uma cópia do e-mail; a Casa Branca indicou não estar em condições de confirmar as informações de que o jornalista havia sido executado.

O grupo, que se identificou como Movimento Nacional para a Restauração da Soberania do Paquistão, tinha enviado na quinta-feira outro e-mail aos meios de comunicação estendendo em mais um dia o prazo dado para que paquistaneses presos na guerra do Afeganistão fossem libertados.

Na mensagem, os seqüestradores haviam advertido que se suas exigências não fossem cumpridas o jornalista seria morto e os americanos sentiriam ?o gosto de sangue e destruição que nós sentimos no Afeganistão e no Paquistão?.

Antes de a CNN ter recebido o novo e-mail, o presidente americano, George W.

Bush, declarara estar muito preocupado com a vida do jornalista. Bush revelou, após um encontro com o rei Abdullah II, da Jordânia, que o FBI, a polícia federal americana, estava trabalhando com a polícia paquistanesa para rastrear as mensagens enviadas pela Internet pelos seqüestradores.

O chanceler do Paquistão, Abdul Sattar, declarou ontem que os registros dos telefonemas feitos de um celular pelo xeque Mubarak Ali Shah Gilani – que está detido e é o principal suspeito do seqüestro – haviam indicado uma possível implicação da Índia no caso. O governo indiano qualificou a acusação de ridícula.

O repórter, de 38 anos, foi seqüestrado no dia 23 na cidade paquistanesa de Karachi quando tentava obter uma entrevista com o xeque Mubarak, fundador de uma obscura seita militante islâmica."

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"?WSJ? orienta equipe a nada declarar", copyright O Estado de S. Paulo, 2/02/02

"Fontes da redação do Wall Street Journal, consultadas ontem pelo Estado em Nova York e em sucursais no exterior, receberam recomendações de seus editores para que evitassem comentar o caso do seqüestro de seu colega Daniel Pearl no Paquistão. Havia o temor de que alguma declaração tornasse impossível a abertura de negociações com os seqüestradores e aumentasse os riscos para o refém.

Ontem, dia do vencimento do ultimato dado pelos seqüestradores, não houve expediente na redação do jornal, que não circula aos sábados, em Nova York.

Segundo uma fonte, os colegas de Pearl acompanhavam o caso de seu seqüestro ?com apreensão e em suas casas?.

?Fomos o jornal que mais sofreu com os ataques de 11 de setembro (a sede do WSJ ficava próxima das torres gêmeas) e agora sofremos com esse caso de um colega seqüestrado?, disse ao Estado outro jornalista, que pediu para não ter seu nome divulgado.

Segundo essa fonte, a estratégia da direção do jornal vinha sendo a de tentar convencer os seqüestradores de Pearl de que não tinham como forçar o governo americano a aceitar as exigências. O editor-gerente Paul Steiger ofereceu, em troca da libertação de Pearl, espaço no jornal para que o grupo de seqüestradores ?publique sua história?. A direção do WSJ também tentava transformar as exigências num pedido de resgate monetário."

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"?Astros? da imprensa fazem apelo", copyright O Estado de S. Paulo, 2/02/02

"Os principais jornalistas das redes de tevê americanas mobilizaram-se ontem para pedir pela vida de seu colega Daniel Pearl, repórter do Wall Street Journal. Christiane Amanpour, da CNN, Tom Brokaw, da NBC, Peter Jennings, da ABC, e Dan Rather, da CBS, são alguns dos 50 jornalistas que firmaram o documento organizado pelo Comitê para Proteger os Jornalistas.

No texto, eles também reivindicam ?o direito dos jornalistas no mundo de desenvolver seu trabalho sem converter-se em alvo de acusações ou ameaças?.

O apelo dos jornalistas seguiu-se ao do ex-campeão mundial de boxe Mohammed Ali, que na quinta-feira pediu aos seqüestradores que mostrassem ?compaixão? e o libertassem. ?Não perdi a esperança que Alá tem em nós para que mostremos compaixão e clemência nas circunstâncias mais difíceis. Nós, os muçulmanos, devemos dar o exemplo?, disse Ali, que se converteu ao islamismo nos anos 60 e sofre mal de Alzheimer.

A mulher do jornalista, Marianne, grávida de seis meses do primeiro filho deles, também havia manifestado esperança de que ele fosse libertado. ?Não durmo há seis dias, mas não estou desesperada?, havia dito antes do novo e-mail dos seqüestradores. Marianne, jornalista free lance de nacionalidade francesa, estava com o marido no Paquistão antes de ele ser seqüestrado e desmentiu que Pearl, de mãe cubana e pai holandês, seja do serviço secreto de Israel como o acusaram."