Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2002

"O mercado responde a Lula",
Editorial, copyright O Estado de S. Paulo, 24/09/02
"

Os fatos mais uma vez desmentem o candidato petista à Presidência
da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele insiste
em negar que o tumulto cambial no Brasil tenha relação
com sua candidatura. Na sexta-feira, disse numa entrevista que o
presidente da República, o ministro da Fazenda e o presidente
do Banco Central teriam de explicar por que o dólar vinha
subindo. Naquele dia, a moeda americana caiu, depois de quase uma
semana de alta. Qual a explicação? Segundo uma pesquisa
do Ibope, divulgada à tarde, o candidato do PT havia perdido
pontos. Ontem, o dólar voltou a disparar e fechou com 4,99%
de alta, valendo R$ 3,575, o valor mais alto desde a edição
do Plano Real. Oscilações são normais, mas
não um salto tão grande. A explicação
era evidente para todos e repetida, sem restrição,
no mercado financeiro: a pesquisa Datafolha, publicada no domingo,
mostrou o candidato petista com 44% das intenções
de voto, muito próximo, portanto, de uma vitória no
primeiro turno. Alguém estranha, ainda, que o dólar
suba ou desça, no Brasil, segundo as pesquisas mostrem avanço
ou recuo da oposição?

É claro, e ninguém nega, que outros fatores também afetam o mercado cambial.

Ontem, bolsas caíram em todo o mundo. Persistem as preocupações com a economia americana e com o risco de guerra entre Estados Unidos e Iraque. O preço do petróleo subiu. A procura de dólares continuará intensa, no Brasil, para a liquidação de contas, neste fim de ano. Mas a maioria desses fatores era conhecida na semana passada. Mesmo com a piora do humor no mercado internacional, faltaria algo para fazer o dólar subir cerca de 5% diante do real. O fator adicional, diga o que disser a cúpula do PT, só pode ser a pesquisa eleitoral conhecida no domingo.

Ontem mesmo já se discutia, no mercado, qual será a reação à nova pesquisa Ibope, esperada para hoje. Se confirmar a tendência apontada na sexta-feira, com Lula em queda e grande possibilidade de segundo turno, o setor financeiro terá um problema: como avaliar a oposição entre os números do Ibope e os do Datafolha? Se, ao contrário, os novos dados indicarem a ascensão de Lula, o dólar poderá subir novamente. Não são palavras de candidatos ou dirigentes da coligação governista, mas de operadores e analistas do mercado financeiro.

Quem chama a atenção para os temores criados pela candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva não é o governo. Ao contrário: as autoridades têm repetido, tanto no Brasil quanto no exterior, que o mercado brasileiro tem sido afetado por fatores econômicos externos e que ninguém deve temer o resultado das eleições. O presidente da República e seus auxiliares admitem, naturalmente, que o quadro eleitoral esteja causando algum receio entre os investidores e financiadores, mas procuram mostrar que nada justifica as preocupações. Foi uma resposta desse tipo que o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, obteve do presidente Fernando Henrique Cardoso, numa conversa por telefone, no sábado passado. Há exagero no mercado, afirmou o presidente, repetindo uma frase do chefe do Banco Central, Armínio Fraga.

Que mais os dirigentes petistas poderiam esperar das autoridades? Que assustassem
os banqueiros e investidores? Não poderiam fazê-lo
e, além disso, é verdade que a reação
do setor financeiro vem sendo exagerada. Mas essa reação
não provém do nada. O mercado foi assustado, sim,
pelas tolices que disseram e fizeram, há mais tempo, líderes
da oposição. Dirigentes petistas, hoje, reconhecem
que foi uma tolice o partido haver apoiado, em 2001, a idéia
de um plebiscito sobre a dívida externa. Prudentemente, afastaram-se,
neste ano, do plebiscito sobre a Área de Livre Comércio
das Américas (Alca). Reconheceram, implicitamente, que a
defesa dos interesses brasileiros, nessa e noutras negociações
internacionais, dependerá de ações políticas
e técnicas muito mais sofisticadas. Além de tudo,
os petistas mais de uma vez se comprometeram a preservar a estabilidade
monetária e a cumprir os compromissos financeiros. Se as
preocupações permanecem, só se pode culpar
o próprio PT. Seus dirigentes parecem haver esquecido, com
demasiada freqüência, a pretensão de chegar ao
governo da República. Pena é que todo o Brasil pague
por esse erro, suportando os efeitos da instabilidade cambial."

 

"Lula no alvo", Editorial copyright Folha de S. Paulo, 20/09/02

"Uma das regras da campanha eleitoral no período mais recente tem sido a de que o candidato que sobe nas pesquisas se torna o alvo principal dos ataques dos outros presidenciáveis. Impulsionados por sondagens internas que indicariam a possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno, os outros três principais candidatos atacam a chapa petista. O governista José Serra o faz com virulência particularmente acentuada.

Contribuiu decisivamente para a aceitação generalizada das estratégias ditas negativas a chamada desconstrução da candidatura de Ciro Gomes levada a termo pela chapa serrista na fase inicial da propaganda gratuita de rádio e TV.

Uma das principais questões debatidas pelos analistas eleitorais é acerca da possibilidade de repetição do fenômeno, desta feita contra Lula. A favor da possibilidade dessa repetição está o fato de que, como o objetivo imediato dos adversários é o de evitar uma vitória do PT no primeiro turno, basta um pequeno desgaste de Lula ou até mesmo o congelamento de seu atual patamar de intenções de voto para que a estratégia surta efeito. Como o tempo de propaganda dos adversários, notadamente o de José Serra, é proporcionalmente muito maior do que o de Lula, é mais difícil para o PT se defender dos ataque múltiplos.

A resistência da candidatura do PT a ataques, contudo, ainda não foi testada neste pleito. A distribuição dos eleitores que manifestam voto em Lula é bastante homogênea nos diversos estratos do eleitorado, com exceção para a maior resistência que encontra no público feminino. Tampouco se sabe se ainda resta disposição no telespectador de aceitar campanhas ?negativas?, que vêm dando a tônica da campanha governista desde o início do programa gratuito.

Alvejar Lula tornou-se, para Ciro Gomes, Anthony Garotinho e, mais fortemente, para José Serra, a última estratégia de campanha antes do primeiro turno. Se falhar, dificilmente poderá ser substituída por outra com chances de êxito até o 6 de outubro."

***

"Haverá segundo turno?", Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 22/09/02

"Os resultados da pesquisa Datafolha que este jornal publica hoje inaugurarão uma semana em que a dúvida enunciada acima ganhará total proeminência na discussão de analistas políticos, de agentes do mercado financeiro e da opinião pública, de maneira geral.

Prosseguiu o movimento de ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva que já fora constatado na pesquisa passada, realizada no dia 9 de setembro. O petista atinge 44% das intenções de voto, contra os 40% que detinha na pesquisa anterior. Como os seus adversários somam 48% da preferência, configura-se uma situação, no limite, de empate técnico para definir a chance de Lula tornar-se presidente sem necessidade de segundo turno. Na sondagem anterior, a distância entre o petista e o conjunto dos demais presidenciáveis era de 11 pontos percentuais. Caiu, pois, sete pontos.

A duas semanas do dia do pleito, não se pode dizer que a tendência de subida de Lula seja um fato inexorável dessa reta final. Ainda haverá eventos importantes, até lá, que poderão alterar a decisão de voto do eleitorado. A propaganda gratuita no rádio e na TV segue até o dia 4; na véspera, 3 de outubro, está programado um debate entre presidenciáveis na TV Globo. O tempo de propaganda gratuita da campanha de Lula é muito menor do que o do conjunto de seus adversários, todos eles interessados em evitar uma vitória do PT já em 6 de outubro.

A questão que fica, porém, para os adversários do petista, é a de qual estratégia adotar para frear a sua ascensão. Há fortes indícios de que a tática de atacá-lo não se revelou eficaz, pelo menos até agora. O candidato que mais se valeu desse estratagema, o governista José Serra, além de ele próprio não ter crescido e de não ter evitado que Lula subisse, viu a sua taxa de rejeição aumentar de 31% para 34%. José Serra tornou-se, entre os quatro principais concorrentes, o mais rejeitado pelos eleitores -rejeição que fica mais alta (43%) na faixa de maior renda.

Já uma discussão que volta, a partir de agora, é sobre, em havendo um segundo turno, qual será o adversário de Lula. A campanha de José Serra logrou desbancar Ciro Gomes do alto patamar em que se encontrava e atingir a vice-liderança. Mas não conseguiu consolidar uma distância confortável sobre o terceiro colocado. Dos votos que Ciro perdeu, apenas parte migrou para o governista. O beneficiado desse fenômeno parece ser Anthony Garotinho, que, com a sua oscilação para cima (de 14% para 15%) e com a oscilação para baixo de Serra (de 21% para 19%), aparece em empate técnico com o tucano.

Tudo somado, esta pesquisa do Datafolha parece revelar que se alastra na população um sentimento de oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso e, por consequência, ao candidato imediatamente identificado com os oito anos de sua gestão. O desejo de mudança pode ser o elemento a conferir uma propulsão extra às intenções de voto em Lula e, mais discretamente, em Garotinho. Também pode ser o fator que está impedindo Serra de romper a barreira dos 20%. As próximas duas semanas, que prometem ser de intensíssima batalha política, elucidarão de vez essas questões."