Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

O general e Herzog

Praticamente não há referência a jornalistas no livro Ernesto Geisel, depoimento dado aos competentes Maria Celina D’Araujo e Celso Castro. Não deixa de ser curioso. Jornalistas, afinal, são protagonistas da cena política. Em 460 páginas, Geisel apenas menciona Assis Chateaubriand, Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Lacerda e Samuel Wainer.

E Vladimir Herzog. Não propriamente como jornalista. Como vítima da repressão. Eis o que declarou o general Geisel (págs. 370/1):

"Não sei se o inquérito estava certo ou não, mas o fato é que apurou que o Herzog tinha se enforcado. A partir daí o problema do Herzog, para mim, acabou. (….)

O senhor aceitou o resultado do inquérito. Mas ficou convencido dele?

É possível que aquilo tivesse sido feito para encobrir a verdade. Mas o inquérito tem seus trâmites normais, suas normas de ação, e eu não ia interferir no resultado. Não ia dizer: ‘Não, não concordo com esse resultado’. O inquérito não vinha a mim, era resolvido na área administrativa. Eu não o examinei, não me preocupei se estava certo ou não. É preciso ver o seguinte: o presidente da República não pode passar dias, ou semanas, com um probleminha desses. É um probleminha em relação ao conjunto de problemas que ele tem."

Esse foi o condutor da abertura.