MEMÓRIA / NIOMAR BITTENCOURT
“Niomar Bittencourt, Proprietária Do ?Correio Da Manhã?, 87 Anos”, copyright O Globo, 1/11/03
“Durante boa parte de sua vida, Niomar Moniz Sodré Bittencourt levou como um elogio o fato de ter sido chamada de ?homem? por um general em 1967, em pleno regime militar. Afinal, isto devia-se à sua firme defesa da democracia, que levaria ao fim o jornal que dirigia, o carioca ?Correio da Manhã?. Mas Niomar fez isto e muito mais pelo Rio e pelo Brasil. Basta lembrar que em 1948 ela estava no grupo que criou o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio.
Era baiana de Salvador, filha de Antônio Moniz Sodré de Aragão, advogado, jornalista e deputado estadual. Veio estudar no Sacré-Coeur e no Sion, escolas de elite do Rio, então Distrito Federal, e com apenas 14 anos escrevia novelas, contos e crônicas. Casou-se com Paulo Bittencourt, diretor do ?Correio? e filho do fundador do jornal, Edmundo Bittencourt. Com a morte de Paulo, em 1963, Niomar tornou-se proprietária e diretora do diário, e teve atuação destacada na queda do governo constitucional, em 1964. Artigos como ?Basta? e ?Fora? ajudaram a tirar o presidente João Goulart do poder, mas o que veio a seguir foi o regime militar, para decepção de Niomar.
A nova posição, com críticas contundentes à usurpação do poder pelos militares, chegou logo aos leitores e a partir daí o confronto só se aprofundou. O ?Correio da Manhã? passou a sofrer pressões econômicas e políticas, até que em janeiro de 1969 Niomar teve os direitos políticos suspensos pelo Ato Institucional n? 5, sendo em seguida presa com colegas jornalistas. Foi absolvida em 1970, mas o ?Correio? deixaria de circular em julho de 1974. A perseguição sofrida durante a ditadura foi oficialmente reconhecida num jantar no MAM, em 1985, quando o então presidente, José Sarney, pediu desculpas a Niomar em nome da República.
A atuação da jornalista e empresária no MAM foi igualmente decisiva. Além de fundar o museu com o marido, Paulo, e um grupo de entusiastas liderados por Raymundo de Castro Maya, Niomar foi sua diretora-executiva por dez anos, presidente de honra e membro dos comitês de acervo. Participou ainda da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RJ.
Duas grandes tragédias marcaram sua ligação com as artes: o incêndio do MAM, em 1978, e o de seu apartamento na Avenida Rui Barbosa, no Flamengo, quando perdeu quadros de sua coleção particular: Mondrian, Chagall, Picasso, Portinari, Volpi e outros. A perda maior foi de um Mondrian avaliado em US$ 2 milhões.
D. Niomar morreu ontem no Rio, de falência múltipla dos órgãos, aos 87 anos. O corpo será velado hoje, das 8h às 13h, no Cemitério São João Batista, e depois será cremado no Caju. Deixa um filho, Antônio Moniz Sodré Neto, três netos e seis bisnetos.”
EDITOR CONDENADO
“Siegfried Ellwanger indenizará Jair Krischke”, copyright Espaço Vital <http://www.espacovital.com.br/>, 4/11/2003
O editor de livros Siegfried Ellwanger está às voltas como nova condenação judicial ? desta vez na área cível, com reflexos financeiros. A 10? Câmara Cível do TJRS reformou sentença de primeiro grau e julgou procedente uma ação reparatória ajuizada pelo líder do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Lima Krischke. Ele foi um dos fundadores do Mopar ? Movimento Popular Anti-Racismo, que apresentou representação criminal contra Ellwanger, por crime de racismo.
A representação se transformou em inquérito policial, depois em ação penal e, por fim, culminou com a condenação de Siegfried Ellwanger no TJRS, referendada recentemente no STF, em caso que virou manchete nacional. Enquanto a ação penal andava, Ellwanger editou e lançou cinco livros de autoria do escritor pelotense Sérgio Oliveira: Sionismo x revisionismo, Fantasia x realidade, O cristianismo em xeque, Discurso em defesa da liberdade de expressão e O livro branco sobre a conspiração mundial.
Em diversos trechos de quatro desses livros, Jair Krischke é apontado como ?estando a serviço da ?B?nai B?rith? ? uma espécie de maçonaria judaica. Krischke também é referido como ?narcotraficante, narcoterrorista e guerrilheiro de esquerda?. Para ver-se reparado pelo dano moral, Krischke ajuizou ação reparatória, que teve sentença de improcedência na 10? Vara Cível de Porto Alegre. Seguiu-se apelação, subscrita pelo advogado Carlos Josias Menna de Oliveira. Acórdão da 10? Câmara Cível do TJRS, a partir de voto do relator Paulo Antonio Kretzmann, reconhece que ?a culpa é grave, já que as assertivas repercutidas tinham endereço certo?.
A reparação será de R$ 10 mil ? com condenação solidária do autor e do editor. A Câmara não exacerbou a expressão financeira da condenação ?porque as condições financeiras das partes não são invejáveis, pouco passando do remediado ? logo, poder de fortuna não se vislumbra?. O julgado também avaliou que o sofrimento de Krischke não pode ter sido extremo.
Escreve o desembargador Kretzmann que ?Krischke, por viver nesse meio dos direitos humanos, não pode ser considerado um debutante inocente. Sua atividade propicia todo o tipo de contrariedade social, veiculada pelos mais diversos meios de diversas formas. Ora é odiado, ora é idolatrado. Portanto, sua dor psíquica, sua dor da alma não pode ser tida como extrema. Faz parte de seu tipo de vida?. (Proc. n? 70004864005)”
JORNAIS / CIRCULAÇÃO
“Feitiço das bancas e circulação dos jornais”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 31/10/03
“Voltamos ao tema bancas, para uma passeada por alguns números da circulação dos jornais, em setembro. É sempre uma oportunidade de refletirmos sobre o que está efetivamente acontecendo com nossos principais jornais, os quais, entra ano e sai ano, não conseguem fazer com que as tiragens cresçam na mesma proporção da população. Aliás, estaria até bom se, mesmo não crescendo, as tiragens ficassem estabilizadas, coisa que infelizmente não tem acontecido nem no Brasil, nem em grande parte do mundo, onde os jornais e revistas vão perdendo fôlego e espaço para televisão, rádio e, sobretudo, internet – no caso do Brasil, também para a falta de investimentos em educação e cultura.
Numa passeada pelo IVC de setembro, observando a totalização da circulação dos 16 mais importantes jornais do País, temos a Folha de S.Paulo como campeã, com uma circulação total de 9.303.055, vindo, em segundo lugar, O Globo com 7.490.768. Seguem-se: 3? – O Estado de S.Paulo, com 7.142.521; 4? – Extra, com 6.782.087; 5? – O Dia, com 5.826.336; 6? – Correio do Povo, com 5.401.886; 7? – Zero Hora, com 5.191.137; 8? – Diário Gaúcho, com 3.204.409; 9? – Agora São Paulo, com 2.285.784; 10? – Diário de S.Paulo, com 2.273.763; 11? – Gazeta Mercantil, com 2.177.959; 12? – Jornal do Brasil, com 2.137.587; 13? – Estado de Minas, com 2.134.230; 14? – Lance, com 1.838.535; 15? – Jornal da Tarde, com 1.768.968; e 16? – Correio Braziliense, com 1.531.691.
Nosso maior jornal, a Folha de S.Paulo, tem uma circulação média, de segunda-feira a sábado de 299.473, e de 311.294 aos domingos. Pouco?
Então observem a soma da média de circulação desses mesmos jornais aos domingos (dia em que as tiragens são maiores): pouco mais de 2 milhões e duzentos mil exemplares. Isso mesmo, juntos, nossos 16 maiores jornais não tiram, num domingo, nem 2,5 milhões de exemplares.
Como pensar em crescimento de faturamento, em ampliação de mercado de trabalho, em fortalecimento da cidadania, com tão pouco leitores de jornais num país como o Brasil?
A saída, claro, são os investimentos, tanto públicos quanto privados, mas todos sabemos que não há dinheiro suficiente para tudo o que precisa ser feito. Mesmo assim, é preciso bater permanentemente nessas teclas, para que haja um engajamento geral na busca de soluções para situação tão pífia quanto essa que vivemos. Claro que o desafio da fome, da desnutrição, da má distribuição de renda, da saúde e tantos outros são prioritários, num país com tanta desigualdade e com população tão carente como o Brasil. Mas há também que cuidar da cultura, da educação, da melhoria da conscientização, coisas que tem o jornalismo como ponta de lança e os jornais na linha de frente.
Bancas
Como, em artigo anterior, comentamos a questão das bancas, da briga diária pelo leitor que não quer saber de assinatura, vale um passeio pelos números do IVC, no caso do mercado paulista, para vermos que quando há boas idéias e investimentos no campo editorial a reação também é positiva. Sempre lembrando que estamos nos referindo às médias mensais de circulação líquida paga do IVC.
Temos num patamar muito próximos o Diário de S.Paulo e o Agora São Paulo, com uma disputa acirrada na tiragem total, vencendo o Diário aos domingos (103.582 contra 100.766 – e 46.467 do JT), e o Agora de segunda a sábado (72.469 contra 71.830 – aí com o JT mais próximo com 60.828).
Num corte para a Região Metropolitana, onde estão concentrados os principais investimentos feitos pelo JT, os números são os seguintes: o Agora lidera aos domingos (85.727 contra 79.873 do Diário de S.Paulo, ficando o JT com 46.467) e também nos dias úteis (62.719,contra 57.132 do Diário e 53.472 do JT).
O Jornal da Tarde, com o lançamento do caderno de esportes, obteve a liderança de circulação paga às segundas-feiras na Região Metropolitana de São Paulo, com média de 64.709, contra 64.105 do Agora São Paulo e 53.550 do Diário de S. Paulo. E manteve também a liderança na mesma Região Metropolitana, às quartas-feiras, dia em que circula com o imbatível Jornal do Carro: média de 70.117 do JT, contra 63.790 do Agora São Paulo e 57.262 do Diário de S.Paulo.
Na concorrência direta, como se vê, os jornais efetivamente têm um olho na sua tiragem e outro no da concorrência e esse é um monitoramento permanente. Ganha-se aqui, perde-se ali, e cada um vai buscando fórmulas de ampliar mercado e de se consolidar. O Grupo Folhas, um pouco mais lá atrás, extingüiu o Notícias Populares e transformou a Folha da Tarde no Agora São Paulo. Um pouco depois, as Organizações Globo compraram de Oréstes Quércia o Diário Popular, transformando-o no Diário de S.Paulo. Fizeram mais, trocaram o comando editorial, com o objetivo de uma virada no mercado, através de uma oxigenação na equipe. Agora chegou a vez do Grupo Estado pôr lenha nessa fogueira, tentando fazer do Jornal da Tarde o líder em circulação na Região Metropolitana de São Paulo, o que já conseguiu, às segundas e quartas-feiras. Enfim, paradas as empresas não estão. Todas elas sabem que para ganhar mercado há que se investir sobretudo no próprio jornalismo, em equipe, em idéias, em reportagem, na busca da informação exclusiva e diferenciada. Nisso, no entanto, ainda estão muito tímidas.
Até quando?”