Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Grande Irmão da propriedade cruzada

GLOBO & BIG BROTHER

A Rede Globo está apostando todas suas fichas em Big Brother. Compreende-se: quer vingar-se do êxito comercial de Casa dos Artistas e, principalmente, desforrar-se da grande imprensa que tanto incensou os triunfos do SBT. Para isso usa todo o poder de fogo do arsenal dos veículos coligados para promover estas primeiras semanas da pseudotelenovela.

Isto compreende-se menos: não está longe o dia em que alguma comissão parlamentar ou conselho ministerial começará a discutir a questão da propriedade cruzada dos meios de comunicação e este caso pode fornecer provas concretas de cartelização. Basta colecionar as inserções e, depois, examinar as respectivas faturas de pagamento para comprovar um caso explícito de concorrência desleal.

Mas o que está além da compreensão ? porque o conglomerado é comandado por gente competente e experimentada ? é a sem-cerimônia com que o seu principal veículo impresso está promovendo a nova atração como se fosse matéria jornalística.

Desde o lançamento do programa, O Globo vem publicando com grande destaque reportagens no primeiro caderno ? normalmente destinado a notícias nacionais, políticas e urbanas ? que não passam de disfarçados releases da nova atração. Algumas dessas matérias ganham destaque na primeira página como se o jornal não tivesse um compromisso com o leitor de valorizar apenas o que tem interesse público.

O jornal tem todo o direito de ressaltar a programação da Globo nas páginas ou em cadernos especializados de TV. No máximo, isso pode ser visto como falta de isenção na área televisiva. Já a inserção no espaço nobre de contrabando comercial é prática abusiva. Atenta contra a credibilidade das matérias nobres, compromete os critérios de edição e a própria lisura do relacionamento do jornal com o seu leitor.

A Globo tem todo o direito de badalar o seu Big Brother mas é perigoso encarnar o Big Brother orwelliano.