Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

O negócio da imprensa não é mais o leitor

NOTÍCIA E LIBERDADE

Gilberto Santos

Tenho sempre lido alguns artigos neste site. E sempre vejo que, muito além da metacrítica que, de certa maneira, acaba sendo a função do Observatório, aparece na verdade a própria função dos jornalistas-observadores numa tentativa heróica de situar o papel da imprensa, e da mídia como um todo, como um papel de informar com isenção e imparcialidade os fatos de nossa contemporaneidade.

Luta quixotesca, esta. Porque se em alguns momentos de nossa história (talvez se possa até dizer, da própria história de nossa civilização) a imprensa pareceu ter este papel de independência e imparcialidade, muito mais se deveu ao fato de que jornais, sobretudo os jornais de algumas décadas atrás, podiam ainda transitar por interesses econômicos e políticos conflitantes, ou poderiam até mesmo assumir a postura da defesa de idéias que se harmonizavam com determinados interesses econômicos e políticos, porém a sobrevivência do veículo não parecia depender exclusivamente dos seus anunciantes, o que lhe dava alguma margem de manobra para defender aquelas idéias dentro de alguns limites éticos, justamente em respeito àqueles que, diretamente, eram os responsáveis pela sobrevivência do veículo: os leitores.

Não seria ingênuo acreditar que uma imprensa conseguiria ser imparcial. Mesmo que um veículo de imprensa conseguisse a façanha de praticar a isenção por regimento, regulamento ou norma, ainda assim sua notícia estaria focalizada sob o ponto de vista do jornalista/repórter/editor que, por mais imparcial que seja, tem suas convicções. Se uma imprensa imparcial não é possível, uma imprensa livre poderia ser honesta. E eu penso, em última análise, que é a isto a que se refere o termo imprensa livre: à honestidade de assumir uma posição diante de um fato histórico, que é sempre um fato político, e ao mesmo tempo econômico, portanto social.

Falsa imparcialidade

Entretanto não podemos esperar que isto aconteça, que seja possível. Não hoje, quando os grandes veículos de imprensa são os mesmos veículos de mídia. Portanto, informar não é o negócio destes grupos, mas a venda de espaços publicitários. Daí, na minha opinião, o tratamento de lixo dado à informação. Some-se a isto o fato de que estes grandes grupos têm também as suas relações íntimas (quando não societárias) com outros grandes conglomerados econômicos, que por sua vez têm grandes interesses a defender em governos e parlamentos. Some-se também o fato de que, dado o estágio de globalização alcançado, estes grupos econômicos e seus interesses carregam o peso de verdadeiros Estados, na verdade, quase tudo, atualmente e cada vez mais, é política externa. Donde se conclui que em certas situações a imprensa vai estar defendendo “imparcialmente” inclusive interesses externos contrários aos interesses do leitor enquanto povo/nação.

Não é a toa que, dada a facilidade, milhares de pessoas têm lançado seu websites pessoais, têm editados seus blogs… todos querem dar notícias suas, notícias livres da interpretação e do filtro do grande veículo.

Rádios comunitárias, TVs experimentais, sites da internet… parece que a globalização não vai conseguir dominar a notícia. Os jornais já estão mortos. Os telejornais estão a caminho da extinção, e até os portais de informação estão com seus dias contados.A imprensa que deveria ser livre quis ser falsamente imparcial. Está se dando mal.