Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O ombudsman e o público Parte 2

O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA publica nesta edição a segunda parte da dissertação de Mestrado em Comunicação O ombudsman e o público, apresentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro em agosto de 1998 e que será útil aos leitores como fonte de informação e pesquisa.

 

Jairo Faria Mendes

4. O metadiscurso do ombudsman

O metadiscurso é parte integrante dos discursos. À medida que se fala também se explica o que se está falando.

” (…) em um enunciado, nem tudo é produzido sob a mesma freqüência de onda: o dito é constantemente atravessável por um metadiscurso mais ou menos visível que manifesta um trabalho de ajustamento dos termos a um código de referência. Esta possibilidade de associar, a todo instante, na seqüência do discurso, os enunciados e seus comentários remete evidentemente à propriedade que as línguas naturais possuem de se descrever sem passar por um sistema semiótico.” (Maingueneau, 1997, p. 93).

Várias estruturas lingüísticas são utilizadas para reproduzir o metadiscurso, como mostra Maingueneau: “Para falar com os políticos” (construindo uma imagem do locutor), “de alguma forma” (marcando uma inadequação de termos), “ou melhor” (corrigindo ou explicando), “no sentido X da palavra” (corrigindo antecipadamente um possível erro de interpretação).

Através do metadiscurso, é possível ao enunciador participar da semantização das palavras que compõem seu discurso.

“Presume-se, uma vez mais, que se possua uma concepção apropriada da discursividade: não apenas um bloco de palavras e de proposições que se impõe maciçamente aos enunciadores, mas um dispositivo que abre seus caminhos, que negocia continuamente através de um espaço saturado de palavras, outras palavras.” (Maingueneau, 1997, p. 93)

As colunas de ombudsman, além desta metadiscursividade constitutiva dos discursos (explicar a própria fala, à medida que ela ocorre), também realiza o metadiscurso em outro sentido: no fato de analisar um outro discurso. “Como diz Mário Mesquita, ex-provedor dos leitores do jornal português Diário de Notícias, o ‘ombudsman produz um discurso sobre o discurso’ visando ‘credibilizar o jornal através da reflexão sobre sua própria prática’” (citação extraída do artigo Conquistas e impasses, de Mário Vítor Santos).

Este metadiscurso é uma característica muito importante e atípica do discurso do ombudsman de imprensa. Ele fala dos discursos mediáticos, mas também é um discurso mediático. Até certo ponto, o ombudsman articula um discurso semelhante a uma análise de discurso (que claramente é um metadiscurso).

Como em todo metadiscurso, o ombudsman terá que fazer muitas referências ao seu objeto de análise (os media). Com isso, são muito utilizadas citações de fragmentos de falas, textos e, até mesmo, imagens divulgadas pelos meios de comunicação. As citações são feitas geralmente em discurso indireto. Mas, algumas vezes, o ombudsman reproduzirá literalmente estes fragmentos, utilizando as aspas para caracterizar isso, ou, no caso de imagens, simplesmente as apresentando.

Logicamente, como o ombudsman faz muitas referências à publicação, aparecerá muitas vezes a palavra “Folha” (em 87 textos, de 96 analisados), “jornal” (84 textos) e “imprensa” (47 textos).

É interessante observar que o ombudsman trabalha muito com as citações. Além das citações sobre seu objeto de análise (os media), ele também fará muitas citações sobre a opinião dos leitores, afinal o ombudsman é um ouvidor. As citações dos leitores costumam vir entre aspas (no discurso direto), enquanto as dos media geralmente vêm no discurso indireto.

As citações dos leitores, geralmente, têm uma relação de dependência das citações dos media. O ombudsman primeiro cita algo que foi publicado ou transmitido nos media, analisa isto e, no meio de seu comentário, inclui citações de leitores.

Algumas vezes as citações dos leitores aparecem em primeiro plano. Baseado nas manifestações dos leitores, o ombudsman realiza suas críticas, e nelas faz algumas referências aos meios de comunicação. Em algumas situações serão os leitores que alertarão o ombudsman sobre falhas no jornal ou nos media em geral. O que é mostrado, por exemplo, na coluna publicada em 3/6/90, quando o ombudsman concorda com as reclamações de um leitor árabe que diz que a Folha privilegia Israel e trata pejorativamente as nações árabes.

No entanto, são muito raras as vezes em que as citações dos leitores são privilegiadas em relação às dos medias. Na coluna publicada em 1/12/96, com o título “O leitor tem sempre razão?”, o ombudsman responde a reclamações dos leitores que não tiveram suas cartas publicadas no “Painel do Leitor”. Em outra coluna, publicada em 27/10/96, o ombudsman (em uma retranca) apresenta na íntegra uma carta da Assessoria de Imprensa da SPTrans (de São Paulo) e responde a ela.

4.1 A polifonia do discurso dos media

Considerando que todos os discursos são polifônicos, logicamente, serão encontrados elementos antagônicos em seu interior. Delimitando-se somente os discursos mediáticos esta polifonia e este antagonismo ficam mais visíveis ainda.

Isso acontece, primeiramente, por os media possuírem um processo de produção coletivo. Roberto Marinho não produz tudo que é transmitido pela TV Globo, pela Rádio Globo, nem escreve e edita tudo que é publicado pelo jornal O Globo ou pela Editora Globo, mas este trabalho é feito por centenas de pessoas diferentes.

O caráter polifônico do discurso mediático também fica mais evidente por sua interação com o mundo real, do qual se torna o principal palco de suas representações discursivas, sendo que, evidentemente, alguns discursos serão mais valorizados do que outros.

Nas inúmeras vozes que compõem o discurso mediático, destacam-se as do público, que não aparecem como um discurso único. O público é heterogêneo, variável, difícil de qualificar e quantificar. Mesmo definindo públicos-alvo para cada programa ou publicação, pessoas não incluídas nesta classificação também recebem estes produtos. As vozes do público são valorizadas pela necessidade de audiência ou leitores.

O jornalismo tem seu caráter polifônico bem claro. Por divulgar fatos, declarações, situações, ele aparece como um mosaico, em que inúmeras vozes se identificam e se manifestam. A polifonia na imprensa é tão clara que é comum (e recomendado) sempre utilizar o verbo dicendi, ou seja, transcrever falas. Além disso, é buscada a objetividade (e nunca alcançada), tentando reproduzir fielmente as principais vozes da sociedade.

Um outro sinal de polifonia nos meios de comunicação é a existência de espaços (neles mesmos) para criticá-los. Exemplos disso são as colunas de crítica de TV, media criticism e, principalmente, de ombudsman.

Como se disse anteriormente, nos discursos mediáticos existem vozes antagônicas. No jornalismo isso fica tão claro que é apontado como princípio ouvir “todos os lados da notícia”. Desta forma, no discurso jornalístico, o confronto de vozes antagônicas é regra, não exceção.

No entanto, estas vozes antagônicas não costumam trazer problemas para os meios de comunicação. Pelo contrário, trazem a impressão de isenção. Esta situação só muda quando o discurso mediático é o alvo deste antagonismo. Isso acontece quando a imprensa abre espaço para a crítica dela mesma, possibilitando a existência de um discurso questionando o processo de produção mediático. O principal espaço existente na imprensa para a autocrítica são as colunas de ombudsman.

Uma importante contribuição da teoria da enunciação foi a distinção entre três tipos de sujeitos presentes em todo discurso: o sujeito da enunciação (chamado de enunciador por Eliseo Verón), os sujeitos dos enunciados e o sujeito falado (destinatário, para Verón).

“Todo texto, visto como discurso, cria um lugar idealizado do emissor, denominado sujeito da enunciação por E. Benveniste (1966), e um lugar do receptor, igualmente idealizado, que denominei por paralelismo sujeito falado (Pinto, 1988). Outros sujeitos podem aparecer como personagens do texto, sendo denominados sujeitos do enunciado (Benveniste, 1966).” (Pinto, 1995, p. 148.)

O discurso dos meios de comunicação permite visualizar melhor este conceito. Principalmente quanto aos sujeitos dos enunciados, que, muitas vezes, são identificados, por causa do princípio jornalístico de sempre divulgar as fontes de informação.

Quanto ao discurso do ombudsman, existe um aspecto interessante a ser frisado. O fato de o sujeito falado se misturar bastante aos sujeitos do enunciado. O leitor comum e a redação não são só os receptores, mas também são citados nas colunas, muitas vezes através do discurso direto.

Os sujeitos de discurso também podem ser divididos de acordo com a atividade que desempenharem, como mostra Milton José Pinto em alguns artigos. Os sujeitos podem se apresentar como locutores, mostradores e sedutores.

“Outra problemática recentemente associada ao conceito de polifonia é a da especialização do sujeito, conforme a sua atividade seja de ordem verbal, produtor de fala ou escrita (locutor); seja de ordem cognitiva, suporte de conteúdos de percepção ou pensamento (mostrador); ou de ordem emotiva e passional, promotor de afetos (sedutor).” (Pinto, 1995, p. 149.)

Nos media, nos noticiários, enfatiza-se a função dos locutores e os mostradores. Apesar de o sedutor estar sempre presente, principalmente nas falas dos sujeitos dos enunciados (os media estão sempre à procura de declarações de carga emotiva). Já no discurso do ombudsman, o sedutor é privilegiado. É um espaço de crítica. E, além disso, também um espaço de interlocutoriedade, em que se busca intimidade com o leitor. Com isso, o sujeito sedutor acaba se destacando.

4.2 A voz do leitor no metadiscurso

Entre as vozes que compõem o discurso do ombudsman, logicamente, a de maior importância é a do leitor. Primeiramente, por o ombudsman ser o “representante do leitor”, e também por o leitor ser o “sujeito falado”, o receptor (o que ocorre com tudo que é publicado no jornal).

Em qualquer discurso mediático o leitor/ouvinte/telespectador vai ter uma grande presença no enunciado. O próprio slogan da Folha de S. Paulo, “De rabo preso com o leitor”, sugere isso, independentemente de sua veracidade. No entanto, nas colunas de ombudsman estas vozes serão mais privilegiadas ainda.

Então, esta particularidade do discurso do ombudsman, de privilegiar as vozes dos leitores, propicia o surgimento de um espaço mais claro de interlocutoriedade entre jornal/leitor/ombudsman.

No entanto, lendo as colunas de ombudsman da Folha de S. Paulo (o corpus da pesquisa) se observa que elas dão mais ênfase à crítica dos media (principalmente do jornal) do que à opinião dos leitores. A reprodução das manifestações dos leitores não é o principal conteúdo das colunas. Quando o ombudsman cita a opinião de leitores, geralmente ele escolhe uma entre dezenas ou centenas e, muitas vezes, aparenta instrumentalizar esta manifestação. Ou seja, escolhe alguma correspondência de um leitor que tenha uma opinião igual à dele e a reproduz. Outras vezes o ombudsman fala sobre a tendência das manifestações dos leitores ou sobre a opinião de grupos. A ombudsman da Folha, Renata Lo Prete, diz que procura reproduzir as manifestações dos leitores que representem a tendência, ou as opiniões que sejam muito originais.

As colunas de ombudsman, além de citações em que se pode identificar claramente as vozes dos leitores, também trazem estas vozes de forma menos definida. Nas críticas feitas pelo ombudsman (que ocupam quase todos os espaços das colunas), o leitor também terá uma boa presença.

Em alguns momentos o ombudsman irá contra os leitores e, em outros, a favor. Na coluna publicada na Folha de S. Paulo em 1º/12/96, com o título “O leitor tem sempre razão?”, o ombudsman diz que “o leitor nem sempre tem razão” e vai contra as reclamações das pessoas que enviam cartas para o jornal, que não são publicadas no “Painel dos Leitores”.

Como se sabe o sujeito falado sempre está presente em qualquer discurso. O que se discute, com relação às colunas de ombudsman, é sobre uma participação especial desta voz neste discurso.

A televisão tem sido apontada como um veículo de comunicação que cria um espaço de interlocutoriedade ao invadir a casa do telespectador e tornar-se algo bem familiar. Os apresentadores e personagens da televisão parecem falar cara a cara com o telespectador, criando um ambiente íntimo com este.

“Este espaço (televisão) – por natureza diferente do espaço cinematográfico – é produzido pela atuação do locutor/apresentador, mediante a sua interlocução. Pelo fato de se dirigir ao telespectador, o locutor/apresentador projeta um espaço na casa do telespectador, espaço este decorrente da interlocução verbal e visual, e, por isso, diferente do espaço atrás da câmara do cinema. O locutor/apresentador dirige-se ao telespectador pela palavra, ao mesmo tempo que o entreolha.” (Tilburg, 1994, p. 242 e 243)

Só a televisão “fala”. Poucas opções restam ao telespectador, as principais, trocar de canal ou desligar o aparelho. No entanto, a participação da televisão no espaço doméstico estimula a participação do público. Este se sente como um participante do processo.

A análise de cartas de fãs de telenovelas da Rede Globo, feita por João Luís van Tilburg, mostra que o telespectador se sente íntimo dos artistas, especialista em assuntos televisivos e, o mais interessante, cobra da emissora a obediência de várias regras.

“Parece-me existir uma relação direta entre o espaço de interlocutoriedade e subseqüente informalidade. As pessoas envolvidas – telespectador e artista – parecem se conhecer, o que cria, permite e incentiva um processo comunicacional que se caracteriza, por parte do telespectador, pela mutualidade. Uma adolescente, ao escrever a uma jovem atriz, qualifica esta mutualidade assim: ‘vejo você na televisão e sinto-me como se você me conhecesse’.” (Tilburg, 1994, p. 253.)

Uma prova da interlocutoriedade criada pela televisão é o grande número de cartas que chegam às emissoras. Principalmente, a artistas que são mais “identificáveis” com o público médio. Os vilões dificilmente recebem correspondências.

Claro que o que interessa a dissertação é o espaço de interlocutoriedade criado pelas colunas de ombudsman de imprensa. No entanto, o exemplo deste espaço na televisão pode ajudar melhor a compreender isso.

Os jornais perdem para a televisão (e até para o rádio) quando se fala em criação de espaço de interlocutoriedade. No jornal, o leitor não vê seu interlocutor, nem ouve a voz deste; no máximo fica sabendo o nome do autor de cada texto. O público se sente muito mais íntimo de seus interlocutores na televisão e no rádio. Afinal de contas, as pessoas se comunicam mais pela fala (e expressões faciais, gestos) do que pelo uso da linguagem escrita.

No entanto, as colunas de ombudsman tem características que as tornam importante espaço de interlocutoriedade. Primeiramente, pelas próprias características da função: o ombudsman se apresenta como representante dos leitores e tem como uma das suas atividades principais ouvir o público.

O ombudsman é alguém a que o leitor tem acesso e com quem tem afinidade. Ele se coloca no meio do caminho entre o leitor e o jornal. O grande número de correspondências que o ombudsman recebe é uma prova de que ele cria um espaço de interlocutoriedade na publicação. No último trimestre de 1996, o ombudsman Marcelo Leite recebeu 1.243 manifestações de leitores. No trimestre de abril a junho de 1996, recebeu bem mais: 1.955 manifestações.

A forma como o ombudsman escreve seu texto também contribui para a criação deste espaço de interlocutoriedade. Ele sempre evoca o leitor, estimulando-o a responder. As palavras leitor/leitores são muito usadas, na maioria das vezes com este objetivo de estimular o diálogo com o público (como será mostrado no próximo capítulo da dissertação). Algumas vezes o ombudsman usa a palavra “você” e até cobra reações do público.

Além disso, o ombudsman também reproduz trechos de correspondências de leitores ou as cita através do discurso indireto. Apesar de serem poucas as correspondências que serão citadas ou reproduzidas pelo ombudsman (um número insignificante comparado à quantidade de manifestações de leitores a este profissional), não deixa de ser uma forma de interlocutoriedade. As citações não representam a totalidade das manifestações dos leitores e nem a sua heterogeneidade, mas mostram a voz destes poucos leitores sendo tratada de forma especial.

5. Marcas lingüísticas do discurso do ombudsman

O discurso do ombudsman se diferencia de outros discursos presentes no jornal, como a notícia, o comentário, o editorial, as colunas (sociais, de variedades) e as resenhas. Aliás, entre todos estes gêneros jornalísticos podem ser observadas facilmente várias diferenças lingüísticas, o que não interessa discutir agora.

A coluna do ombudsman poderia ser classificada como um comentário (é assinada, dá ênfase à opinião, analisa assuntos atuais). No entanto, ela apresenta inúmeras diferenças lingüísticas com relação a outras colunas de comentários do jornal.

Uma particularidade do discurso do ombudsman, que representa um grande desvio com relação aos textos jornalísticos, é o uso da primeira e da segunda pessoa. No jornal, mesmo os textos opinativos são escritos na terceira pessoa. Já o ombudsman utiliza as três formas: a primeira, a segunda e a terceira pessoa. Quando usa a terceira pessoa, ele utiliza a palavra “ombudsman” (exemplo “o ombudsman recebeu…”). Distanciado do seu interlocutor, como se, em vez de estar se expressando, se referisse a outra pessoa. Mas para o leitor é bem claro que é apenas uma forma mais distante (ou mais jornalística) de o ombudsman falar.

Outra particularidade muito interessante do discurso do ombudsman é o uso das palavras leitor/leitores. Estas palavras são muito usadas por ele, em diversos tipos de situação. Ele parece estar sempre procurando aproximar-se do leitor e estimulá-lo a responder. Em quase todas as colunas de ombudsman aparecem estas palavras, geralmente usadas diversas vezes em um mesmo texto. Em algumas vezes o ombudsman trata o público de forma mais íntima, usando a palavra “você” (segunda pessoa). Isso ocorre em 12 dos 96 textos analisados. A coluna publicada na Folha em 20/10/96, que começa da seguinte forma: “Se você só lê a Folha…” , é um exemplo disso. Mas o ombudsman chega a usar a palavra “você” até mesmo nos títulos de duas das 50 colunas analisadas. Em 18/8/96, o ombudsman Marcelo Leite publicou uma coluna com o título “De que lado você está?” e, em 11/2/96, outra coluna intitulada “Onde você mora?”.

O texto do ombudsman é muito dinâmico, bem-humorado (ele usa muito de ironias), com muitos trocadilhos, frases curtas. Abaixo um parágrafo em que são usadas frases curtas:

“São ministros, deputados, governadores, todos alvos freqüentes de investigações. Mas também há professores, industriais, cientistas, dramaturgos. Nem todos se encaixam na rubrica “figurão”. Nesses casos, não se aplica a regra jacobina do máximo de 15 linhas, que vale para todas as outras cartas. Faz sentido. A pessoa ofendida ou prejudicada tem o direito de argumentar mais longamente, ainda que nos limites da seção.”

Podem ser apontados inúmeros exemplos do uso do humor nas colunas de ombudsman. Até mesmo no trecho reproduzido acima podemos encontrar a expressão “regra jacobina”, de tom claramente jocoso. Mas existem exemplos melhores. Na coluna de 29/12/96, em que o ombudsman Marcelo Leite fala do adiamento da transmissão de seu cargo a outro profissional do jornal, ele diz ironicamente: “A alforria ficava adiada por três ou quatro semanas…”

Nesta mesma coluna, podem ser tirados outros bons exemplos do uso de expressões humorísticas. Falando do ano que iria iniciar: “Faço votos de que 1997 marque o início da revolução substantiva na imprensa brasileira. Até agora, o que se viu foram adjetivos e advérbios.” Mais adiante, respondendo a um leitor que diz “(…) suas críticas parecem ser solenemente ignoradas?”, o ombudsman ironiza: “A primeira coisa que ocorre é que elas são ignoradas, sim, mas sem a menor solenidade. Seria só uma blague, rasa como todo trocadilho.”

Na coluna de 24/11/96, o ombudsman começa seu texto com uma ironia: “Existe um gênero jornalístico com audiência garantida, neste país de sub-remunerados: listas de salários exorbitantes, especialmente os pagos com dinheiro público. É a reportagem ‘pega-marajá’.”

Pelos títulos das colunas de ombudsman pode se observar como elas têm no humor uma de suas características: “Como usar um jornal” (24/11/96), “O biscoito fino e o chiclete” (17/11/96), “No ônibus com Maluf” (27/10/96), “QI de ostra e gráficos de Pinel” (8/9/96), “Chapas brancas e chapas negras” (23/6/96), “Subindo o Serra” (9/6/96), entre muitos outros.

O uso vocabular varia de termos populares ao uso de palavras bem herméticas. Na coluna publicada pela Folha de S. Paulo no dia 17/11/96, por exemplo, o ombudsman começa seu texto assim: “Esses enunciados pífios refletem, por um ângulo, a modorra…” Nas colunas do ombudsman Marcelo Leite publicadas na Folha em 1996 são encontradas palavras como conspurcar, átimo, canônica, fleuma e aventado. E é interessante que este mesmo ombudsman, em sua coluna publicada em 14/4/96, criticou a Folha por utilizar palavras herméticas.

O ombudsman também utiliza construções “cultas” como “se apressarão a concordar” (coluna de 22/12/96). Algumas vezes também são usadas conjunções proibidas nos demais textos jornalísticos como “porém” e “entretanto”.

Em algumas poucas vezes, o ombudsman utiliza vocabulário de uso restrito dos profissionais dos media. Mais uma marca que comprova que os jornalistas são vistos pelo ombudsman como um grupo de leitores especiais. Na coluna de 24/11/96, o ombudsman diz: “(…) será lícito supor que a Folha foi manipulada numa manobra ‘mediática’ do governo”, e, pouco depois, “Outra boa pauta sobre privatização…”

Para esta análise lingüística, foram selecionadas 50 colunas de ombudsman, publicadas na Folha de S. Paulo de 17/12/95 à 29/12/96, todas elas assinadas pelo jornalista Marcelo Leite. Neste período houve 55 semanas, mas em cinco delas (de 7/7/96 à 4/8/96) o ombudsman estava de férias, sendo publicado, no lugar de sua coluna, apenas um comunicado sobre a licença dele. Estas 50 colunas contém 96 textos (geralmente a coluna do ombudsman é dividida em retrancas).

Poderiam ser analisadas inúmeras marcas lingüísticas no discurso do ombudsman. Logicamente, foi preciso definir quais seriam estudadas. Optou-se por analisar o uso de alguns substantivos muito usados nas colunas e semanticamente muito importantes. Estes substantivos são as palavras leitor(es), ombudsman(en) e jornalista(s). Além disso, foi analisado como o ombudsman utiliza a primeira e a segunda pessoa.

Estes substantivos foram escolhidos por terem uma ligação muito grande com a atividade do ombudsman. A compreensão da utilização destas palavras nas colunas do ombudsman mostrará coisas importantes, como a relação que este profissional tem com o sujeito falado (o receptor), que seriam os leitores e os jornalistas (principalmente a redação da Folha). Já a utilização da palavra ombudsman e o uso da primeira pessoa revelaram como ele se apresenta ao público. Estas palavras e o uso da primeira pessoa também representam um desvio do discurso jornalístico (são formas não utilizadas no texto jornalístico).

Foram escolhidos basicamente substantivos por serem muito privilegiados em todos os textos jornalísticos. É interessante observar também que os substantivos, apesar de terem como sua característica básica nomear, não são totalmente neutros e objetivos. À medida que vão sendo utilizados, os substantivos vão ganhando também um sentido simbólico. Patricinha, Mauricinho, Ricardão, Matusalém não são somente nomes ou apelidos de pessoas, mas já adquiriram sentido simbólico tão grande que podem ser usados até como adjetivos.

“E é por força do uso, da prática vivencial que o substantivo, apesar de sua suposta neutralidade, dá margem a conclusões de âmbito extratextual e, portanto, discursivo. Como já foi dito, há vários métodos de se recorrer ao substantivo, mas todos valendo-se das potencialidades individuais, do seu valor caracterizador criado pelo uso.” (Barbara, 1996, p. 103)

Foi escolhido analisar termos-pivô, apesar das críticas que existem a este tipo de estudo. No início da Análise do Discurso, o estudo do uso das palavras foi bastante privilegiado. No entanto, esta tendência mudou, por considerar-se que estas análises não mostram a complexidade da formação do discurso.

“(…) os objetos com que o método dos termos-pivô trabalha são impróprios a uma abordagem verdadeiramente lingüística, visto que deles foram eliminados os traços das operações enunciativas (…)Quanto à gramática do texto, ela critica este método por não constituir uma definição apropriada do contexto discursivo: entender a proposição como contexto de uma unidade lexical é insuficiente à medida que os processos discursivos se desenvolvem em unidades lingüísticas mais complexas e mais vastas.” (Maingueneau, 1997, p. 133 e 134.)

No entanto, o próprio Maingueneau defende a importância dos estudos semânticos. Fazendo somente ressalvas, dizendo que eles são um método auxiliar e devem ser utilizados em situações especiais.

“Por mais que o analista afirme que o essencial não é a unidade lexical, mas as proposições e, além delas, o texto no qual ela intervém, nem por isso esta unidade perde seu estatuto singular.” (Maingueneau, 1997, p. 129.)

Na análise das colunas de ombudsman, o estudo das palavras leitor(es), ombudsman(en) e jornalista(s), além do uso da primeira e segunda pessoa, mostrou-se objeto importante para relevar questões básicas deste discurso. Primeiramente, por serem palavras de pouco uso no texto jornalístico, que procura ser impessoal e objetivo. E, principalmente, por estas palavras se referirem ao sujeito da enunciação (o locutor) e ao sujeito falado (o receptor). O resultado deste estudo foi bastante satisfatório e até surpreendente. Mostrou muitos traços enunciativos que não haviam sido observados na leitura das colunas.

Os dados abaixo mostram a freqüência em que aparecem algumas palavras nas colunas de ombudsman (os números apresentados representam a quantidade de textos que contém cada palavra):

Leitor, 62 vezes; Leitores, 61 vezes; Leitora, 2; Leitoras, 1; Jornalistas, 40 vezes; Jornalista, 20 vezes; Jornal, 84 vezes; Folha, 87; Globo, 20; Imprensa, 47; TV, 13 vezes; Rádio, 4 vezes; Internet, 9 vezes; Carta, 20 vezes; Cartas, 21 vezes; Correspondência, 2 vezes; Telefonema 2 vezes; Cinema, 2 vezes; Fax, 23; Telefonema, 2; Telefonemas, 1; Ombudsman, 65 vezes; Ombudsman, 3 vezes; Eu, 11 vezes; Você, 12; Vocês, 2; Qualidade, 20 vezes; Certo, 18 vezes; Erro, 31; Errado, 10; Engano, 1; Crítica, 36 vezes; Reclamação, 4; Pior, 17; Melhor, 30; Queixa, 3 vezes; Público, 37; Opinião, 31 vezes.

Apesar de as informações citadas serem meramente quantitativas, elas confirmam algumas análises feitas sobre as colunas. Uma delas é sobre a importância dada pelo ombudsman ao jornal em que trabalha. A palavra “Folha” aparece em 87 dos 96 textos analisados. A TV e jornal O Globo, muito citados nas colunas, são encontrados em 20 textos, menos de um quarto das vezes que o ombudsman comenta sobre a Folha.

Os dados acima também mostram que, entre os meios de comunicação, o ombudsman privilegia em suas críticas a imprensa (jornais e revistas). A palavra “jornal” aparece em quase todas as colunas e “imprensa” em cerca de metade dos textos.

O caráter interlocutório das colunas também é confirmado pela grande incidência das palavras “leitor” (62), “leitores” (61), “público” (37), “carta” (20), “cartas” (21) e “fax” (23). Outras palavras confirmam a atuação do ombudsman como crítico: “opinião” (31), “qualidade” (20), “errado” (10), “erro” (31), “qualidade” (20), “certo” (18), “pior” (17) e “melhor” (30).

5.1 As palavras leitor/leitores

O ombudsman se apresenta como “representante do leitor”, o que sugere que as palavras “leitor” e “leitores” terão muita importância em sua coluna. E realmente isso ocorre. Em 79 dos 96 textos analisados aparece a palavra “leitor” (ou “leitores”, “leitora”, “leitoras”), sendo que, na maioria dos casos, o vocábulo é usado mais de uma vez em cada texto. Nestes textos a palavra “leitor” aparece 133 vezes, sendo que somente na coluna publicada em 1/12/96 ela é usada 11 vezes e seu plural (“leitores”), 9. O plural “leitores” é utilizado 135 vezes nas colunas analisadas.

Esta palavra é usada pelo ombudsman como forma de chamar o leitor para o diálogo. Muitas vezes, ela poderia ser dispensada. Por exemplo, em vez de dizer “Se o leitor quiser mais informações…” (20/10/96), o ombudsman poderia usar “Podem ser encontradas mais informações…”, ou algo semelhante. Mas o uso constante da palavra “leitor” pelo ombudsman é compreensível.

O ombudsman procura deixar bem claro que existe um envolvimento entre ele e o leitor. Então, nos seus enunciados, ele vai colocar o leitor como “personagem principal”. Muitas vezes, o leitor vai ser mais destacado na construção das frases do que o próprio ombudsman. O leitor aparece na terceira pessoa do singular (mas como se fosse na segunda pessoa, afinal ele é o receptor, ou mais, o interlocutor). Algumas frases servem de exemplo: “O leitor foi teletransportado de um mundo povoado de anões morais para a imensidão do cosmos” (8/12/96) – neste caso o ombudsman parece estar contando uma estória envolvendo o leitor. “Qualquer leitor já viveu a experiência desagradável de perder o filme porque o horário no jornal estava errado” (3/11/96), “Foi o leitor da Folha, assim, que teve acesso à notícia mais importante do dia” (25/2/96), “Com a ajuda de um atento leitor, descobri…” (17/3/96) – e vários outros casos em que o leitor é colocado em posição central no texto, o que é muito comum nas colunas de ombudsman.

As palavras “leitor” e “leitores” são usadas, na maioria das vezes, em situações diferentes. O ombudsman prefere referir-se ao público utilizando o singular (“leitor”). A forma como ele se apresenta (representante do leitor) é um bom sinal disso.

Apesar de a coluna e o jornal serem lidos por um grande número de pessoas, o ombudsman prefere tratar o leitor individualmente, utilizando o singular. Na verdade ele é o “representante dos leitores” (já que é um grande e heterogêneo grupo de pessoas). Mas ao usar a palavra leitor (singular) ele se aproxima do receptor, como se o ombudsman escrevesse a cada leitor individualmente. Nisso, ele cria maior intimidade com o leitor e enfatiza o caráter interlocutório de sua coluna.

Então a palavra leitor aparece em frases como: “O leitor tem sempre razão?” (1/12/96), “…o leitor tem a impressão de que os jornalistas…” (10/11/96), “…a Folha deve educar o leitor a utilizar…” (13/10/96), “…mostra que o leitor é mais atento do que muita gente pensa…” (29/9/96), “…notei que o leitor não faz a menor idéia de como…” (12/5/96), “Peço a compreensão do leitor…” (3/3/96). Em todos estes casos a palavra “leitor” tem o sentido de “leitores” (ou seja, todas as pessoas que estão lendo a coluna e/ou o jornal).

Muitas vezes, o ombudsman se dirige ao público de forma bem direta (com a palavra “leitor”), chamando o receptor ao diálogo. A palavra “leitor” assume um sentido semelhante ao de um vocativo (apesar de não possuir esta função). Alguns exemplos são: “Além de correio, fax e telefone, o leitor pode…” (3/3/96), “Chamo a atenção do leitor para…” (3/3/96), “Se o leitor é fã de histórias em quadrinhos, esta deve ser …” (18/2/96), “Como o leitor pode ver no quadro abaixo…” (4/2/96), “Permita o leitor este pecadilho jornalístico…” (17/12/95).

Em três das 50 colunas analisadas, o ombudsman se apresentou como leitor. “Como leitor, a segunda fotografia não me sai da cabeça…” (16/6/96), “Como leitor, quero saber a quem interessa…” (26/5/96), “Como leitor, sinto que a argumentação dos editoriais…” (12/5/96). Ao se apresentar como leitor, logicamente, o ombudsman se aproxima mais ainda do público. Neste caso, a crítica que será feita é apresentada como a de um leitor, e não do ombudsman.

Algumas vezes, o ombudsman assume a postura de advogado e utiliza a palavra “leitor” como se tivesse sido delegado por este para defendê-lo. Então o ombudsman fala com a convicção de quem sabe o que os leitores querem e pensam. “(…) o leitor tem a impressão de que os jornalistas não sabem do que estão falando…” (10/11/96) – ele diz categoricamente quais as impressões do leitor, não usa o condicional. “A imprensa deve submeter toda e qualquer informação à crítica, de forma visível para o leitor” (10/11/96), “…o leitor deve ser informado, sim, sobre a falibilidade e limites da previsão” (13/10/96) – advoga pelo leitor. No entanto, algumas vezes o ombudsman vai discordar do leitor: “…nem sempre o leitor tem razão…” (31/3/96).

A palavra “leitor” também é usada para quantificar (sempre “um” leitor) ou para apresentar alguém (o leitor João). Em muitos casos, a palavra aparece para se referir ao “Painel do Leitor” (a seção de cartas do jornal). Algumas vezes, o vocábulo é usado para se referir a um grupo de pessoas. “Qualquer leitor de jornais…” (2/6/96), “Foi o leitor da Folha…” (25/2/96). Esta utilização não é muito comum nas colunas de ombudsman analisadas. Na maioria das vezes, o ombudsman utiliza o plural (“leitores”) para apresentar parcelas do público do jornal.

Desta forma, geralmente a palavra leitores vem ao lado de um adjunto adnominal que definirá um grupo de pessoas: “…a maioria dos nossos leitores…” (29/12/96), “…da dezena de leitores…” (15/12/96), “Os leitores-missivistas preteridos…” (1/12/96), “…é o que o ombudsman mais ouve desses leitores…” (1/12/96), “Instado por vários leitores…” (17/11/96). Poderiam ser apontados muitos outros exemplos, já que este é o uso mais comum da palavra leitores.

Nestes casos o ombudsman utiliza a palavra no plural, não por escolha própria, mas em obediência às regras de concordância. Isso mostra a opção do ombudsman em privilegiar o uso de “leitor” (singular), aumentando a proximidade com o leitor.

Em poucas situações, o ombudsman utiliza a palavra “leitores” para se dirigir diretamente ao público, chamando-o para o diálogo. A palavra assume função semelhante a um vocativo: “Os leitores devem se preparar…” (8/12/96), “…os leitores terão dificuldades para tirar conclusões…” (27/10/96), “Devo um pedido de desculpas aos leitor …” (26/5/96). Em alguns casos o ombudsman utiliza o mesmo tipo de tratamento, só que a grupo de leitores: “Para os leitores que procuraram o ombudsman em setembro…” (29/9/96), “Aos leitores que tentaram entrar em contato com o ombudsman…” (4/2/96). Apesar dos exemplos citados há pouco, o ombudsman prefere utilizar o singular (leitor) para buscar um maior diálogo com o público.

O ombudsman, em alguns casos, faz separações entre leitores e outras parcelas do público. Para isso, ele sempre usa o plural: “leitores”. “Para leitores e assinantes…” (1/12/96), “Tanto leitores de banca quanto assinantes…” (24/3/96), “Leitores e anunciantes são duas espécies para lá de conservadoras” (3/3/96).

5.2 As palavras jornalista/jornalistas

Como o próprio ombudsman Marcelo Leite diz, o sujeito falado das colunas de ombudsman são os leitores e os jornalistas (principalmente a redação da Folha): “Leitores e redação vão ter que me agüentar por mais três semanas” (29/9/96).

No entanto, o ombudsman utiliza a palavra jornalista(s) de forma bem diferente de leitor(es). Como foi visto há pouco, o ombudsman usa muito as palavras leitor(es) para criar uma relação de maior proximidade com este e estimulá-lo a responder. Também foi mostrado que o ombudsman prefere o singular (leitor) por ele favorecer a interlocução com o público.

Com as palavras jornalista(s) acontece o contrário. O ombudsman não procura ganhar a simpatia dos profissionais de imprensa. Ele critica e ironiza os jornalistas. Na maioria das vezes os descreve como pessoas incompetentes ou de pouca ética: “Essa credulidade de jornalistas quase custou a vida do suspeito…” (15/12/96), “…o leitor tem a impressão de que jornalistas não sabem o que estão falando…” (10/11/96), “…deveria servir de reflexão para jornalistas” (13/10/96), “…somente o farisaísmo explica que jornalistas” (13/10/96), “…displicência que muitos jornalistas dedicam às quantidades” (15/9/96), “Como a dúvida é o estado mais comum entre os jornalistas…” (1/9/96), “…o mandato questionador dos jornalistas não lhes dá o direito de sabotar a privacidade” (30/6/96), “O que os jornalistas precisam ter em mente é que há uma terceira parte envolvida, cujos interesses lhe toca representar: a coletividade” (21/4/96), “Ninguém agüenta mais ler e ouvir alguma coisa sobre o leilão dos objetos pessoais da mulher que ousou trocar a memória de JFK por Onassis. Só falta avisar os jornalistas” (28/4/96), “Pior ainda, jornalistas contribuem para a barbarização do debate político” (21/4/96), “Para que jornalistas pensem não duas, mas três vezes antes de publicar o que não deveriam” (21/4/96), “Como os jornalistas são muito mais complicados que a linguagem da qual se servem, além de viciados em tendências e antecipações, agora deram para criar o futuro do futuro” (25/2/96), “Jornalistas da Folha parecem dispostos a veicular qualquer dado, estatística ou estudo que lhe caia nas mãos, com pouco ou nenhum questionamento” (28/1/96), “Discutir coisas significa entrar no mérito, algo de que os jornalistas cada vez mais se afastam, por incompetência ou oportunismo” (28/1/96), “Jornalistas cortejam as fontes com chapéu alheio – o do leitor” (31/12/96), “Jornalistas desconhecem regras elementares de respeito” (17/12/95).

Ao contrário do que ocorreu com as palavras leitor(es), no caso de jornalista(s), o ombudsman prefere o plural. Mais um sinal de que o ombudsman não quer muita intimidade com os jornalistas. O ombudsman coloca o leitor numa posição bem acima dos jornalistas. No entanto, é bem claro que os jornalistas também são interlocutores com quem o ombudsman discute agressivamente, sendo que muitas vezes os profissionais de imprensa responderão de forma violenta.

Em 20 dos 96 textos analisados o ombudsman utiliza o singular (jornalista), enquanto o plural aparece em 40 textos. Em todas estas colunas a palavra “jornalista” aparece 28 vezes e “jornalistas”, 78.

O singular (jornalista), além de ser pouco usado, aparece muitas vezes no interior de citações entre aspas (geralmente de leitores). Sete vezes a palavra vem dentro de citações. Em uma outra ocasião o vocábulo aparece na resposta de um entrevistado (entrevista pingue-pongue).

Muitas vezes o singular é usado para a apresentação de algum jornalista. Alguns exemplos são: “(…) jornalista Philip M. Foisie propôs…” (29/12/96), “…escolheu o jornalista Marco Barreto…” (18/8/96), “A jornalista Vera Freire…” (10/3/96). Oito vezes a palavra é utilizada desta forma.

Nas outras 12 vezes que a palavra jornalista surge, sete vezes ela se refere a um jornalista (ou um grupo deles). Exemplos: “É o fotografo e é o editor que se vê na foto, não só o soldado, mero pretexto para a ‘sacada’ do jornalista.” (16/6/96), “…como resposta do jornalista reafirmando…” (21/4/96).

Nas outras cinco vezes, refere-se aos jornalistas em geral. “Para calar perguntas incômodas, vale tudo. Impedir o formular…” (20/10/96), “O jornalista deve ter plena confiança…” (31/12/95); são alguns exemplos deste uso.

Como foi mostrado anteriormente, o plural (jornalistas) aparece muito mais vezes do que o singular. Também é interessante observar que, ao contr&aaacute;rio do singular (jornalista), o plural poucas vezes aparece dentro de citações. Somente três das 78 vezes que a palavra jornalistas é usada ela aparece em citações entre aspas. Isso é um indício de que podem haver muitas diferenças entre o discurso do ombudsman e do segundo locutor (leitor, jornalistas, especialistas,…) .

O plural jornalistas é tanto usado para se referir a grupos ou aos profissionais de imprensa em geral. “No sentido de tirar os jornalistas da posição incômoda…” (29/12/96) – todos eles. ” (…) como pensam alguns jornalistas” (3/11/96) – um grupo.

Outro detalhe interessante quanto ao uso da palavra jornalistas é que muitas vezes o ombudsman deixa de empregar o artigo definido “os”. ” (…) deveria servir de reflexão para jornalistas” (13/10/96), “Seria bom que jornalistas pensassem mais sobre…” (13/10/96), “…como se jornalistas não tivessem intenções ao escrever…” (2/6/96). Mais um sinal de que o ombudsman não quer a proximidade dos jornalistas.

Algumas vezes, o ombudsman assume postura professoral diante dos jornalistas, querendo ditar-lhes como devem exercer o jornalismo. Para isso, ele usa tanto o plural como o singular. “Cabe aos jornalistas evidenciar…” (20/10/96), “Um dos dramas da língua portuguesa e dos jornalistas…” (1/9/96), “O jornalista deve ter plena confiança…” (31/12/95), “O jornalista deve tentar confirmá-la…” (31/12/95).

Apesar de o ombudsman fazer muitas críticas aos jornalistas, em algumas poucas situações ele elogia estes profissionais ou os coloca como vítimas, como neste caso: “(…) a missão proclamada por sua (do presidente Fernando Henrique Cardoso) mulher, Ruth Cardoso: disciplinar jornalistas” (20/10/96). Em duas vezes o ombudsman elogiou os jornalistas: “Na crítica interna, dirigida pelo ombudsman a todos os jornalistas da casa no começo da tarde, elogiei a publicação da lista” (18/2/96), “Minha única resposta a Dimenstein é que muitos jornalistas (…) não avaliam suas carreiras em termos de notoriedade, mas de integridade” (11/2/96).

Além disso, em duas situações o ombudsman colocou os jornalistas em posição de igualdade com os leitores: “O jornalista cioso da sua função como o leitor atento e mesmo o botafoguense …” (24/12/95), “…dizendo aquilo que os jornalistas e a maioria da população estava querendo ouvir” (18/8/96). No entanto, neste segundo caso tanto os jornalistas como a população são criticados pelo ombudsman.

5.3 A palavra ombudsman

A palavra ombudsman aparece muitas vezes nas colunas analisadas. Dos 96 textos estudados, em 65 a palavra foi usada. Neste textos o vocábulo apareceu 156 vezes.

A utilização da palavra ombudsman é bastante interessante. Ao dizer “o ombudsman”, é utilizada uma forma verbal referente à terceira pessoa do singular. No entanto, como quem escreve é o próprio ombudsman, esta situação deixa claro que a palavra “ombudsman” substitui a primeira pessoa do singular (ao dizer “o ombudsman”, é como se falasse “eu”).

No próximo item, será mostrado que o ombudsman também utiliza bastante a primeira pessoa. Ou seja, em algumas situações utiliza a primeira pessoa e em outras a terceira (pela palavra ombudsman).

Ao utilizar a estratégia enunciativa de substituir a primeira pessoa pela apresentação do seu cargo (ombudsman), ele se distancia do leitor. O que é bastante curioso, pois, como é demonstrado nesta dissertação, o ombudsman usa diversas estratégias enunciativas para aumentar a proximidade com o leitor e, conseqüentemente, enfatizar o caráter interlocutório de seu discurso.

No entanto, se por um lado o ombudsman se distancia do leitor, por outro ele enfatiza sua posição como representante ou advogado do leitor. Com isso, o uso da palavra ombudsman confere autoridade ao seu discurso.

Alguns exemplos da utilização da palavra ombudsman em substituição à primeira pessoa do singular: “O primeiro alerta do ombudsman sobre a possível unilateralidade…” (22/12/96), “…já tinham sido apresentados ao ombudsman…” (22/12/96), “…sucessivas consultas ao ombudsman sempre esbarram…” (1/12/96), “…já foi publicada na própria coluna do ombudsman…” (27/10/96), “Anteontem respondeu longamente ao ombudsman e teve tréplica…” (22/9/96), “As duas pessoas que ligaram para o ombudsman…” (15/9/96), “…o intuito de prejudicar o leitor que pediu retratação ao ombudsman…” (28/4/96), “…a Secretária de Redação corrigiu falhas indicadas pelo ombudsman…” (14/4/96), “Alguns leitores, e até mesmo jornalistas, reclamam que o ombudsman deve também fazer elogios…” (25/2/96), “…Dimenstein fez um terceiro ataque ao ombudsman…” (18/2/96).

Várias vezes o ombudsman utiliza na mesma frase a primeira pessoa do singular e a palavra ombudsman: “…não poderia imaginar que voltaria a fazer um novo balanço do ombudsman… (29/12/96), “Discordo, portanto, da dezena de leitores que procurou o ombudsman…” (15/12/96), “…repito, para que não alistem o ombudsman…” (8/12/96), “Aos leitores que se queixaram ao ombudsman, costumo dizer…” (29/9/96), “Peço a todos que leiam a Folha com uma lupa crítica, a partir do dia 3, e manifestem ao ombudsman suas avaliações…” (25/2/96).

Algumas vezes, o ombudsman também se apresenta como tal: “Como ombudsman que ouve hoje em dia somente impropérios contra os fascículos…” (29/12/96), “Como ombudsman, a primeira é a que se torna difícil de se esquecer…” (16/6/96), “Como ombudsman posso testemunhar…” (14/4/96). Nestas situações é claro o uso da palavra ombudsman como forma de conferir legitimidade ao enunciado. Ele, “como ombudsman”, coloca-se com a autoridade de tomar determinadas posições.

O ombudsman discute bastante sobre seu papel. E, como não poderia deixar de ser, nisso ele usa muito a palavra ombudsman: “…diria que a função do ombudsman é incomodar a Redação” (29/12/96), “Normalmente não estaria nesta seara, que não é a do ombudsman…” (17/11/96), “Se um ombudsman não partir para a defesa de princípios, ninguém mais o fará…” (30/6/96), “Ao ombudsman não compete criticar a opinião de colunistas…” (16/6/96), “Ombudsman não dá lucro, não como o repórter pé-de-boi…” (19/5/96).

Além de discutir sobre as funções do ombudsman, ele também usa a palavra para falar do seu trabalho: “Em um ano e meio como ombudsman, notei…” (12/5/96), “Em pouco mais de um ano e meio como ombudsman várias vezes indiquei…” (5/5/96).

Algumas vezes, o ombudsman discutiu sobre a palavra “ombudsman”: “Ombudsman é uma palavra sueca, e o plural correto seria ombudsman…” (25/8/96), “Defendo o aportuguesamento radical de ombudsman…” (11/8/96), “Depois, ombudsman parece, mas não é palavra inglesa…” (11/8/96).

Em poucas situações a palavra ombudsman aparece dentro de citações entre aspas ou referindo a outro ombudsman: “…a Folha começará 1997 de ombudsman novo…” (29/12/96), “O novo ombudsman, Mário Vítor Santos…” (29/9/96).

5.4 O uso da primeira e da segunda pessoa

A palavra “eu” apareceu em 11 dos 96 textos analisados. No entanto, somente em dois casos a palavra “eu” referia-se ao próprio ombudsman. Isso porque nas nove outras situações a palavra apareceu no meio de citações de correspondências dos leitores ou de jornalistas da Folha, e em entrevistas (na fala dos entrevistados).

Duas vezes a palavra apareceu em entrevistas. Na coluna publicada em 8/9/96 e na de 12/5/96. Na primeira, a palavra foi usada 14 vezes e, na segunda, apenas 2 vezes. Em outras sete colunas o “eu” esteve em citações de correspondências de leitores ou de jornalistas da Folha.

Somente duas vezes o ombudsman usou a palavra para falar na primeira pessoa. Em 11/2/96, ele usa a palavra para se identificar com o leitor (“Como eu, o leitor deve estar insatisfeito…”). Já em 24/12/96, o ombudsman utiliza o vocábulo para fazer um comentário (“É o que eu chamo de xeque-mate.”).

Isso não mostra muita coisa, já que não é necessário utilizar o pronome “eu” para falar na primeira pessoa do singular. Mas mesmo assim é interessante notar este detalhe estilístico das colunas analisadas: a opção de usar a primeira pessoa oculta, aparecendo somente na conjugação dos verbos ou no uso de pronomes.

Foram selecionados aleatoriamente oito textos para se observar como o ombudsman utilizou a primeira pessoa. Os textos foram: “A revolução de 1997” (29/12/96), “Como usar um jornal” (24/11/96), “No ônibus com Maluf” (27/10/96), “Errei” (27/10/96), “Ainda não foi desta vez” (29/9/96), “A magia e o público” (1/9/96), “Retinas cansadas” (11/8/96) e “Manhas e manias” (2/6/96).

Nestes oito textos, a primeira pessoa foi utilizada 24 vezes. Isso sem contar as situações em que ela foi usada dentro de citações entre aspas. Treze vezes o ombudsman, pela primeira pessoa, falou sobre o seu trabalho: “Quando escrevi a coluna ‘Ainda não foi desta vez’ não poderia imaginar…” (29/12/96), “…pelo menos mais uma coluna será assinada por mim” (29/12/96), “Como anotei na crítica interna da edição…” (24/11/96), “Errei” (título de um texto publicado em 27/10/96), “Minha melhor explicação é que o erro (cometido pelo ombudsman) nasceu…” (27/10/96), “Esta deveria ser minha última coluna…” (29/9/96), “Aos leitores que se queixam ao ombudsman, costumo dizer…” (29/9/96), “Antes tarde do que nunca, costumo dizer para os leitores…” (29/9/96), “Foi na Folha que encontrei os melhores exemplos…” (1/9/96), “Escrevi ‘certame’, e não ‘pleito’, porque a julgar…” (11/8/96), “Foi o que disse na minha primeira coluna…” (2/6/96), “Foi o que ponderei à redação…” (2/6/96) e “As respostas que recebi da redação foram…” (2/6/96).

Por quatro vezes, o ombudsman utiliza a primeira pessoa para enfatizar que está dando uma opinião. “(…)não torna seu privilégio, na minha opinião, mais legítimo…” (24/11/96), “Apesar de tudo isso, não me parece que a reportagem da Folha…” (27/10/96), “Não sou daqueles que acreditam que o jornal tem um candidato do coração…” (29/9/96), “Continuo achando que a imprensa…” (2/6/96).

É bem interessante o ombudsman enfatizar que ele está dando uma opinião e não falando de algo inquestionável. Este tipo de humildade não é muito comum nos comentários dos jornais. Em outras situações o ombudsman também adota uma postura humilde, como: “Não tenho competência nem ânimo de interpretar…” (29/12/96), “…que aprendi com a minha filha” (27/10/96), “Torço para que não seja o caso” (29/9/96).

O uso da primeira pessoa aumenta a informalidade entre leitor e ombudsman, criando um clima favorável para um diálogo aberto, em que o interlocutor esteja bem à vontade para falar.

Como já foi demonstrado o ombudsman utiliza muito as palavras leitor(es) para mostrar intimidade com o público, favorecendo a existência de uma maior interlocutoriedade público/ombudsman/jornal. Mas além deste recurso lingüístico, algumas vezes o ombudsman vai utilizar uma forma mais direta para diminuir mais ainda a distância com o leitor. Ele vai utilizar a segunda pessoa e a palavra “você”, como se estivesse numa conversa descontraída com o leitor. O tom bem-humorado das colunas também ajuda muito a criar este clima.

Das 12 colunas que utilizam a palavra “você”, quatro delas a trazem precedida da conjunção subordinativa condicional “se”. Em 22/12/96, “Se você só lê a Folha…”; em 20/10/96, “Se você só lê a Folha…” (novamente); em 2/6/96, “Se você quiser…”; e, em 3/3/96, “Se você leu no jornal…”. Este uso é bastante comum na linguagem oral, o que reforça a idéia de que o ombudsman procura construir seu discurso como alguém muito próximo do leitor.

Outras duas colunas que utilizam a palavra “você” são textos em que estão transcritas entrevistas com editores da Folha. Logicamente, nas perguntas que são feitas a entrevistados é comum a utilização da palavra “você” (outra opção seria um tratamento mais formal, como “senhor”, “doutor”). Além disso, como as entrevistas são feitas pessoalmente (na sua maioria), a proximidade física favorece a utilização deste vocábulo (ainda mais neste caso em que o entrevistador é um colega de trabalho). Neste caso, a palavra “você” não se refere ao leitor, mas ao entrevistado e, em poucos casos, ao entrevistador. Na entrevista publicada em 8/9/96, a palavra “você” foi utilizada 14 vezes; e na divulgada em 12/5/96 o vocábulo apareceu somente três vezes.

Em outras duas colunas, a palavra “você” apareceu em trechos de correspondência de leitores publicados pelo ombudsman. No entanto, nestes dois caso a palavra “você” não se referia ao leitor. Em 25/8/96 (“Você tem razão”), refere-se ao ombudsman, e, em 15/12/96 (“O que você diria a sua filha num caso destes?”), refere-se aos jornalistas em geral. Nesta correspondência, reproduzida pelo ombudsman em 25/8/96, aparecem inúmeras vezes a palavra “vocês”, referindo-se aos jornalistas.

Duas vezes o ombudsman utilizou a palavra “você” para perguntar algo ao leitor. Em 18/8/96, “De que lado você está?”, e, em 11/2/96, “Onde você mora?” (os dois casos ocorreram em títulos). Logicamente, o uso de interrogações faz com o leitor seja estimulado a responder, ampliando assim o caráter interlocutório das colunas de ombudsman.

As outras duas colunas em que aparece a palavra “você” são as de 26/5/96 (“Como você pode notar…”) e de 25/2/96 (“Agora é com você, leitor.”). No primeiro caso, o ombudsman procura mostrar algo ao leitor. Já no segundo, ele cobra uma reação do leitor, colocando toda a responsabilidade neste. Pode-se considerar que esta foi a utilização da palavra “você” com maior carga apelativa. Tendo, inclusive, ao lado da palavra “você”, o vocativo “leitor” (que aparece criando redundância, enfatizando mais ainda a interpelação feita pelo ombudsman).

Já na primeira coluna de ombudsman da história da imprensa brasileira, publicada em 24/9/89, Caio Túlio Costa (que ocupava a função) terminava seu texto de forma bem direta, chamando o leitor para expor suas reclamações: “Daqui pra frente não tenha dúvida. Ao sentir seu direito de leitor ferido, procure o ombudsman. Ele está sendo pago para defender você.”

É interessante observar que as colunas de ombudsman de jornais dos Estados Unidos e do Canadá utilizam muito a primeira e a segunda pessoa. Um trecho de uma coluna da ombudsman Mirian Pepper, publicada no The Kansas City Star, em 12 de novembro de 1995, mostra isso:

“Aqui está como eu trabalho: Você telefona. Eu escuto. Eu passo seus comentários ao jornalista, editor ou fotógrafo responsável. Nós conversamos internamente. Algumas vezes nós discutimos. Nós até mudamos nossa postura, quando isso for apropriado. Honestidade.” (Pepper, 1995 – tradução minha)

Outro bom exemplo é um trecho de uma coluna do ombudsman Phil Record, publicada em 15 de novembro de 1996, no The Fort Worth Star-Telegram:

“Em ‘Você como editor’, atividade que eu apresentei a você recentemente, eu perguntei como você classificaria as seis mais importantes responsabilidades do ombudsman do Star-Telegram.” (Record, 1996 – tradução minha)

Um interessante uso vocabular ocorreu em uma coluna de ombudsman do jornal canadense The Calgary Herald, em 28 de janeiro de 1996. O ombudsman Jim Stott escrevia sua última coluna no cargo e terminou seu texto de modo bem informal: “Good night and good luck”.

Continua na próxima edição

 

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O ombudsman e o público – Parte 1