Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O público também conta

INDÚSTRIA EM RECESSÃO

Enfrentando o segundo ano de recessão, as editoras de revistas e jornais estão cortando equipe e retalhando publicações. Mesmo jornalões como San Francisco Chronicle, Philadelphia Inquirer e New York Times suprimiram tiras de quadrinhos, diminuíram o tamanho de cadernos e páginas e demitiram pessoal. Mas como saber quando já se tirou demais do produto? A pergunta é de N. Christian Anderson, publisher do Orange County Register, que já fechou a seção de tecnologia, cancelou a entrega a domicílio fora do município e eliminou o cargo de ombudsman. E ele mesmo confessa: é difícil saber quando parar.

Conta Matthew Rose [The Wall Street Journal, 18/3/02] que, ao contrário de outras indústrias, que podem fechar fábricas ou linhas de produção durante períodos de economia fraca, as editoras têm apenas duas grandes fontes de despesa para cortar: papel e funcionários. Espera-se também que a operação de reduzir custos não seja percebida pelos leitores, o que é algo difícil de avaliar. John Oppedahl, executivo-chefe do Chronicle, acha que as mudanças não tem muito impacto sobre a circulação. "Leitores fiéis estão acostumados com isso", aposta.

De fato, a circulação já está caindo há décadas, em parte por causa da competição com TV a cabo e a internet. A maioria dos jornais não conseguiu segurar os lucros que tiveram nas semanas após o 11 de setembro, o que aumenta a preocupação em relação à resposta do público a estas mudanças.

No final de 2000, a Dow Jones parou de publicar seis seções regionais do Wall Street Journal, unidades que serviam de treinamento para novos repórteres. Uma perda importante, mas que não interfere na atividade do jornal. Já o pequeno Daily Ledger of Noblesville não teve escolha. Diário por 114 anos, o vespertino restringiu a publicação para dois dias. A medida custou o emprego de 50 dos 89 funcionários e de todos os que trabalhavam meio período; o jornal também vai mudar de nome e se concentrar exclusivamente em notícias locais. Quando o anúncio foi feito, chegaram a receber dois pedidos de cancelamento de assinatura por dia. "Para algumas pessoas, acho que foi uma decisão emocional e uma expressão de descontentamento", afirma Tom Jekel, editor da unidade que controla o Ledger. "Esperamos conquistá-los de volta."

Outro indício da recessão é o desaparecimento ou a redução das listas de ações na Bolsa nos jornais americanos. Um marco dos veículos noticiosos, estas colunas de letras minúsculas que preenchem páginas e páginas de caro papel de imprensa com cotações não atraem anúncios. As editoras apostam que não perderão assinantes porque os aficionadas por indicadores econômicos tendem a ter mais de 55 anos, o grupo demográfico mais leal aos jornais. Mas a suposição se comprova?

Star Ledger, jornal de Newark (Nova Jérsei), reduziu a lista de 7 mil ações para 700 em 5 de setembro, o que permitiu a eliminação de três páginas inteiras, a transferência de duas páginas para notícias e economia de US$ 1 milhão em papel jornal e tinta por ano. Dias depois da mudança, 700 leitores irritados ligaram, e o jornal teve que dedicar 12 linhas telefônicas para atender as reclamações. No final, foram apenas 60 assinaturas perdidas.

Para Patricia Callahan [The Wall Street Journal, 10/3/02], o problema pode ter sido de timing. Uma semana depois, os atentados terroristas desviaram a atenção do assunto. E quando o interesse por notícias da guerra diminuiu, os leitores já estavam acostumados com as novas tabelas. Em outros lugares, no entanto, as reações foram mais intensas. Quando o Boston Herald cortou quatro páginas da lista de investimentos para dar espaço a notícias, mais de 200 leitores reclamaram, e a seção foi restaurada.

Algumas publicações mandam os leitores ao sítio de internet para ver a informação eliminada, que fornecem de graça. Mas certos hábitos antigos dificilmente mudam. Em julho, o semanário financeiro Barron?s cortou listas que preenchiam 30 páginas de tablóide, um terço do total. Seis meses depois, a circulação caiu em 7%, embora o editor Edwin Finn atribua ao corte a perda de apenas mil assinaturas.