Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Post não dorme no ponto

HORA DE AVANÇAR

Alberto Dines

O Washington Post – o jornalão que iniciou o Caso Watergate
– anunciou na semana passada que em agosto vai lançar um tablóide
gratuito, vespertino, a ser distribuído no metrô da capital americana.
Dirigido ao público jovem, vai chamar-se Express e circulará
de segunda a sexta.

A idéia não é nova: um grupo sueco lançou há
poucos anos em diversas capitais européias uma experiência parecida
e chegou a procurar parceiros para o mercado brasileiro. A discussão
sobre a legitimidade de uma publicação gratuita é, hoje,
secundária. Há jornais irresponsáveis que são vendidos
como se tivessem credibilidade. Não é o preço que fideliza
o leitor, é a confiança na informação, mesmo entregue
de graça.

Tablóides existem desde o fim do século 19, quando começaram
a funcionar os transportes de massa. A imprensa vespertina é tão
antiga quanto a matutina e, ultimamente, começou a ser recuperada, inclusive
em grandes centros como Nova York.

Jornais que não circulam nos fins de semana não são novidade:
o Times de Londres é um deles. Em compensação, a
mesma empresa edita o Sunday Times, semanário broadsheet (em grande
formato), como o seu concorrente, o Observer. Com isso evita-se a fraude
de fechar as edições de domingo dos jornais diários na
quinta ou sexta-feira.

O que importa nesta questão é a disposição de luta
do empresariado de mídia dos EUA. A crise lá não chega
a alcançar as dimensões apocalípticas da nossa, mas é
séria, sobretudo no tocante às projeções para o
futuro.

A opção do Post mostra que lá não se brinca
em serviço. As decisões não são ousadas – são
rigorosamente profissionais. Consultores não dão palpites; jornalistas,
sim.

Das dez mais desastrosas decisões dos últimos
anos na mídia brasileira, nove foram inventadas por "executivos",
consultores picaretas e empresários que jamais sentaram numa redação
para dirigir um jornal ou revista.
A décima foi copiada ou mal
copiada.

Há dezenas de novas oportunidades no mercado brasileiro, a crise ajuda
a desvendá-las. De cabeça baixa, ânimo no pé e braços
cruzados, não podem ser agarradas. Ou sequer vistas.

Antes de fechar a loja, convém verificar se não há fregueses
na calçada.

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