Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O que faz o jornalista? Explica. As escolas vão ter que explicar isso!

PROVÃO

Victor Gentilli

 

A

atividade do jornalista pode ser resumida em duas operações: entender e explicar. A segunda, como é óbvio, depende da primeira. Se um profissional de imprensa não for capaz de compreender o que acontece, entender aquilo que lhe cabe explicar à sociedade, todo o resto será um rotundo fracasso.

A atividade do jornalista assemelha-se também à do tradutor. Como já observou o professor Nilson Lage, impossível fazer uma tradução sem dominar igualmente a língua de origem e a língua de destino. No entanto, as traduções são sempre feitas por quem vive, pratica e partilha sobretudo a língua de destino. O mesmo ocorre com o jornalista: ao traduzir a realidade, ele deve entendê-la o suficiente para que possa traduzi-la (ou explicá-la) da melhor maneira possível, para o seu leitor-ouvinte-telespectador-internauta – ou melhor, cidadão. Ao traduzir a economia, ele deve conhecê-la o suficiente para entender perfeitamente. Mas a habilidade decisiva é o domínio da técnica de explicar. Esta ele precisa viver e praticar no seu dia-a-dia.

Ao incorporar as palavras “explicar” e “traduzir”, no seu relatório, a Comissão encarregada de estabelecer os parâmetros para o provão de jornalismo, com uma simplicidade banal, passa a ver a atividade do jornalista com olhos radicalmente diferentes daquela maioria que hoje milita no ensino de prática jornalística. É mais uma boa mudança que o provão deve provocar no ensino de jornalismo.

Na edição passada deste OBSERVATÓRIO, comentei o relatório da Comissão. Assim que a edição foi disponibilizada, li, arrepiado, o texto de Nivaldo Manzano, uma das mais merecidas manchetes deste site. Um texto para ler, reler, refletir, agir.

Indispensável esclarecer: quando falava em “jornalismo velho, práticas viciadas”, estava tratando exatamente destes “novos bárbaros” que Nivaldo denuncia (ver remissão abaixo). O jornalismo que se aprendia na redação com Cláudio Abramo, Mino Carta, Alberto Dines, Nivaldo Manzano, Alves Pinheiro, Nascimento Brito, entre tantos outros, não era perfeito e infalível, mas certamente era mais ético e mais útil ao cidadão do que este que os formandos terminam por aprender nas redações¸ apesar dos – ou, na maioria das vezes, estimulados pelos – cursos de jornalismo.

 

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