Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O temor do regresso

THE WALL STREET JOURNAL

Enquete realizada entre 175 repórteres e editores do Wall Street Journal mostra que 72% não querem retornar à redação de Manhattan, interditada pelos ataques de 11 de setembro. Temor com relação às condições de saúde física e psicológica motivou um grupo de funcionários a apresentar a pesquisa ao gerente-editorial Paul Steiger. O assassinato do colega Daniel Pearl, no Paquistão, ajudou a aumentar a tensão.

Dos que se opuseram à volta, 77% disseram ter medo de que o edifício ou suas cercanias pudessem ser fonte de algo danoso à saúde. Outros 36% citaram as lembranças traumáticas que a realocação traria. A Dow Jones, proprietária do Journal, realizou testes no ar da velha redação para ver se há contaminação e nada foi encontrado. No entanto, vários de seus empregados afirmam que a empresa perdeu credibilidade, pois em 21/5 houve comunicado de que a reforma havia sido paralisada porque sacos de asbesto teriam virado dentro dos dutos internos do prédio, revertendo mensagem de 9/5 de que tudo estava em ordem. Em 3/6, novo comunicado chegou aos funcionários, afirmando que o material tóxico já fora retirado.

Os 20% dos jornalistas do Journal que responderam que gostariam de voltar a Manhattan citaram a comodidade e a simbologia do “retorno” como justificativa.

A Dow Jones disse que, apesar de ter gostado de saber a opinião de seus empregados ? que organizaram a pesquisa por conta própria ?, não se surpreendeu com a iniciativa de questionar a mudança. David Kirkpatrick [The New York Times, 18/6/02] afirma que o temor dos jornalistas deve refletir o sentimento de funcionários de outras empresas em situação semelhante.

 

FRANÇA

O Pentágono, no dia 11/9, não foi atingido por um avião, mas por um míssil lançado pela Força Aérea americana. Esta é uma das idéias principais de L’Effroyable imposture (a fraude terrificante), de Thierry Meyssan, que por semanas ocupou o topo da lista de best-sellers, vendendo mais de 200 mil cópias. O livro é uma coleção de evidências colhidas na internet e perguntas retóricas que despertam dúvida. Em suas 235 páginas é explicado como direitistas do governo americano organizaram uma conspiração guiada por interesses da indústria bélica e petrolífera. Tudo começa baseado nas fotos do Pentágono semi-destruído que não apresentam nenhum pedaço da aeronave que o atingiu.

Os aviões que derrubaram o World Trade Center teriam sido programados pelo mesmo grupo direitista que destruiu o Pentágono. Muçulmanos nunca cometeriam esses atentados, explica Meyssan, porque o Corão “proíbe o suicídio”. Alan Riding [The New York Times, 22/6/02], destaca que o autor não foi aos Estados Unidos para entrevistar testemunhas ou buscar outras evidências.

Ridicularizada pela mídia francesa em geral, causa surpresa o grande número de leitores que a obra atraiu. A editora responsável, Éditions Carnot, festeja o primeiro grande êxito editorial. Seus livros sobre o “falso” pouso dos EUA na Lua, em 1969, e as últimas “verdades” sobre ovnis não conseguiram fazer o mesmo sucesso. Gérard Dupuy, do Libération ? "jornal, diga-se, de tendência esquerdista", comenta Riding ? opina que “as pseudoteorias do livro alimentam o antiamericanismo paranóico que é componente permanente do caldeirão político francês”. O governo dos EUA ainda não se manifestou. Porta-voz do Pentágono disse que “não houve reação oficial porque o livro foi considerado estúpido demais”.

Em contraposição a L’Effroyable imposture, Guillaume Dasquié e Jean Guisnel publicaram L’Effroyable mensonge (a mentira aterroriznate), em que, consultando testemunhas e especialistas, buscam destruir a argumentação de Meyssan. Eles falam ainda da “profunda doença social e política” francesa que leva as pessoas a acreditarem “que são vítimas de planos, que a verdade está oculta, que não devem acreditar em versões oficiais e que, mais que isso, devem desmistificar qualquer expressão de poder, seja qual for”.