Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O torpor e o sonho

Entrevista com Heródoto Barbeiro (*)

Mauro Malin

 

O.I. Você sente que a mídia está mais atenta a repercussões das dificuldades econômicas, refletindo preocupações práticas de seu público? Na CBN, nos últimos dias, foram questionados aumentos em preços atribuídos à desvalorização do real frente ao dólar.
Heródoto – De repente alguns setores da mídia despertaram de um torpor que durou tanto quanto o sonho de se realizar uma reforma econômica indolor e sem responsabilizar dolosamente as camadas humildes da população. Divergir dos caminhos da política econômica oficial era correr o risco de ser rotulado de ignorante e de desconhecer o processo histórico em curso no mundo. De outro lado o charme intelectual que seguia as iniciativas da atual política, atraia uns por admiração, outros por desconhecimento do que se propunha para o país. Agora o rei está nu, ou melhor, atrás do manto diáfano da âncora cambial revela-se o combalido real. Mais cedo ou mais tarde vai se revelar nas gôndolas dos supermercados.

O.I. – Em que medida a abordagem desses temas é facilitada pela maior interatividade adquirida pelo rádio (telefone, fax, correio eletrônico)?
Heródoto – As pessoas comuns começam a entender o que os economistas explicavam em linguagem indecifrável. Por mais que paguem impostos não conseguem saciar a fome dos gastos públicos e assistem impotentes a novas medidas econômicas que alteram o seu dia a dia. Por isso recorrem por e-mail, fax, telefone, carta aos setores da mídia que parecem mais permeáveis, como o rádio.

O.I. – Você acha que aumentou a preocupação de ouvir “os dois lados”, ou os vários lados envolvidos? Isto tem dado resultados práticos (greve da Ford, por exemplo)?
4. No rádio corre-se o perigo de julgar o todo pela parte. Por isso instituímos que os assuntos mais polêmicos sempre são apresentados de forma “casada”. Isto vale para as edições, quando usamos o bordão : “agora, o outro lado“, ou nas entrevistas-debates, ou nas reportagens do local dos acontecimentos, ou ainda no noticiário geral, quando se tem o cuidado de dizer que a outra parte ainda não se manifestou mas que o espaço para o contraditório está garantido e a produção está em busca de alguém que defenda outra opinião sobre o mesmo assunto. É mais do que uma postura operacional. É um compromisso ético de toda a equipe envolvida no programa.

O.I – Você acha que uma maior consciência dos problemas arma a sociedade para enfrentá-los com mais realismo e serenidade, e permite a descoberta de novos caminhos, ou evitar falsos caminhos?
Heródoto – É uma falácia acreditar que um jornal de rádio é um formador de opinião. Ele é um difusor de opiniões. Quem forma a opinião pública é ela mesma através das inúmeras variáveis com que a notícia chega até as pessoas. O jornalista não é um condutor de povos. É um difusor de idéias. É responsável por contar para uma parte da sociedade o que a outra está fazendo, e as atuais circunstâncias sociais favorecem a mídia rádio, uma vez que grande parte dos ouvintes estão se deslocando de sua casa para o trabalho sem ter lido ainda o jornal e sem poder parar para assistir ao noticiário da televisão. As circunstâncias atuais favorecem a mídia rádio e entre elas a CBN, que alcança números expressivos na pesquisa de audiência do IBOPE.

(*) Gerente Regional de Jornalismo/SP da CBN.

 

H.B.

 

Heródoto Barbeiro foi convidado pelo Ministério da Justiça a comentar o artigo 24 da Declaração dos Direitos do Homem, do ponto de vista da comunicação. Escreveu:

 

“Toda pessoa tem o direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas”.

Direitos Humanos e Comunicação

Jornalismo, interesse público.

Notícias, isenção, informação, credibilidade, investigação, privacidade.

Declaração, fidelidade.

Crítica, independência.

Opinião, moderação.

Acusação, contraditório.

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Fontes, integridade.

Afirmação, decência.

Vítimas, proteção, interpretação, honestidade.

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Reportagem, liberdade.

Exclusividade, confiança.

Apresentação, humildade.

Seleção, sensibilidade.

Debate, eqüidade.

Diversão, dignidade.

Comunicação, Direitos Humanos.