Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O valor do jornalismo

LINGUAGEM E PÚBLICO-ALVO

Wagner Maia (*)

Se jornalistas estão se especializando em temas específicos para suprir de informações um público-alvo, compreendendo o que dizem os especialistas numa determinada área de estudos e comunicar um fato a quem se interesse sobre o assunto, o jornalismo deveria promover uma ampliação nas áreas de referências culturais para comportar informações das diversas áreas do conhecimento humano. Sem ignorar a responsabilidade social de educar, o profissional da informação teria como objetivo melhorar o convívio em sociedade, seja ela local, regional, nacional, mundial, inclusive entre classes sociais, informando pelos meios de comunicação acessíveis a um público selecionado a cultura predominante nessas esferas de convivência. O jornalista possibilita a atualização do entendimento e o conhecimento individual produzido e não difundido entre as pessoas que integram a sociedade.

Para informar um fato atual mais próximo possível do real, faz-se necessária a compreensão dos valores sociais vigentes entre o público-alvo desejado pelo próprio jornalista ou sugestionado no ambiente empregatício. Como vivemos numa sociedade capitalista, ser pago para informar é prática aliás necessária a qualquer atividade, mas é o jornalista que tem o dever de saber como informar algo a alguém que esteja num lugar em determinado tempo, e por que é importante ser conhecida tal informação, e contá-la a quem quiser saber.

Constatado que a principal forma de comunicação entre humanos é pela palavra, e a língua utilizada não possibilita a especificação de todos os eventos que acontecem no "tempo-espaço", a perda de informação pode ocorrer na adoção de sinônimos, palavras que contêm valores próximos, mas não exatos, durante a elaboração do texto jornalístico que será impresso, ilustrado, lido ou filmado antes de ser transmitido. E a inclusão ou exclusão de uma palavra no texto jornalístico deve corresponder ao vocabulário do público visado pelo jornalista ou pela empresa jornalística, pois é desta forma que a curiosidade do público é despertada: pela identificação, inclusive a do vocabulário.

O motivo da inspiração do jornalista ao elaborar uma matéria teria como finalidade saciar a aspiração do público-alvo sobre o assunto em pauta, proporcionando o debate social, nem que seja em experiências acadêmicas sobre frivolidades da imagem para demonstrar que a ética é a melhor ferramenta de comunicação social. Cabe aos profissionais que convivem no meio jornalístico a sensibilidade de perceber quais os interesses vigentes na sociedade e informá-la da melhor maneira possível na linguagem mais adequada, tendo consciência de que os valores sociais de um carioca podem ser diferentes dos de um gaúcho, um paranaense ou boliviano. Recorrer a fatos históricos, comparações burlescas, à lógica possibilita ao jornalista minimizar as possibilidades de interpretação de leitor, ouvinte, telespectador ou internauta (como é ensinado em cursos de Jornalismo, ou aprendido na prática da atividade jornalística).

Cultura e história

Estando o público acostumado a compreender o estilo do texto reconhecidamente jornalístico, seria provável a interpretação total das informações transmitidas, de forma organizada, e reconhecidos os valores nelas contidas. Sendo os valores éticos, qualquer consumidor da informação saberá se ela é boa ou ruim, certa ou errada, possibilitando um posicionamento ético ou não… De qualquer forma, será um posicionamento crítico. Permanece entretanto no meio acadêmico a discussão sobre os estilos possíveis na linguagem acessível ao ser humano que possam ser aceitos e reconhecidos como jornalísticos.

O grupo de pessoas que consomem informações de um meio de comunicação específico reúne valores em comum, apesar de não ter uma única fonte de informação. O recorte da realidade transmitido pelo jornalista compete ou complementa o conhecimento da realidade do indivíduo leitor, telespectador ou internauta. Os valores são discutidos em conversas informais em lugares de reunião social, passíveis de deturpação no discurso dos indivíduos cujos valores pessoais não correspondam ao visado pelo jornalista, ou de quem não detenha conhecimento para interpretar e aplicar tais informações à realidade comum entre os demais indivíduos do grupo. Os valores éticos de um jornalista podem coincidir com os do cidadão que não exerce o jornalismo e, certamente, por identificação, o cidadão será o público-alvo da empresa em que aquele jornalista está empregado.

A "escassez de tempo", comum a todos os cidadãos atualmente, e que se tornou algo a ser superado pelo jornalista diariamente, afeta visivelmente o produto final de seu trabalho. Há um ditado popular sobre esse dilema contemporâneo: tempo é dinheiro. E das seis perguntas características da entrevista utilizada pelo jornalista (quem? o quê? quando? onde? por quê? como?), qual delas gasta mais tempo para ser respondida, editada, para ser demonstrada ao leitor, ouvinte, telespectador? Sendo a maior parte da cultura juvenil brasileira atual baseada em imagens e som (fenômenos naturalmente físicos e dúbios), como é possível dar-lhes um sentido, um valor? Como transformar tais informações em palavras?

A partir dos valores encontrados na cultura e na história de cada indivíduo, e comparando a valores antigos. Alguns, até antiquados para quem tem menos de 50 anos. Mas, para isso, todos precisamos de educação, para exercer a comunicação, nem que seja a mais frívola educação, a de cumprimentar com um "bom dia" um catador de papel, a mocinha do caixa, um cego no ponto de ônibus ou um senhor idoso na fila de um banco. Valores que todos deveriam conhecer, e respeitar.

(*) Estudante de Jornalismo da UFSC