Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Obsessão com Zagallo é deprimente

Elias Aredes Junior

 

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agallo não agrada a maioria dos cronistas esportivos de todo o país. Mas o que está se vendo é simplesmente deprimente: jornalistas com anos de estrada e movidos apenas por posições mesquinhas e vingativas realizam uma cobertura totalmente parcial e não o que se deveria fazer: que é apenas a de analisar o esquema de trabalho da seleção, dos esquemas táticos, da convocação, ou seja, dar uma visão geral ao leitor, ouvinte e telespectador daquilo que a comissão técnica está fazendo para chegar ao pentacampeonato.

Por exemplo, vejo que a maioria dos cronistas se agarram apenas na famosa frase dita por Zagallo (“Vocês vão ter que me engolir!!!”) para denegrir e atacar o treinador da Seleção Brasileira.

Ao invés disso, por que não se realizam matérias ouvindo treinadores e especialistas de futebol sobre os métodos que o Zagallo poderia utilizar para aproveitar os 30 dias de treinamento que ele tem pela frente? Outra coisa: na final do Campeonato Paulista vi que vários jornalistas aproveitaram a grande atuação de Raí para também tripudiar em cima do treinador. As frases mais comuns eram de que ele não jogou bem contra a Argentina “porque a falta de um esquema tático do técnico Zagallo atrapalhou o desempenho do Raí”. O detalhe interessante, no entanto, é que essas mesmas pessoas depois da derrota para os nossos adversários portenhos diziam aos quatro ventos que Rai não servia para a Seleção e que a convocação de Giovanni era mais do que acertada. Será que isso é jornalismo? Onde está a isenção? O que realmente vale: o fato ou a opinião?

Estou preocupado porque acho que a maioria dos jornalistas brasileiros que vão trabalhar na Copa da França não tem o direito e nem o dever de colocar as suas antipatias pessoais a serviço da mídia. O pior é que já vimos esse triste espetáculo em 1994. Profissionais compareciam diariamente nos treinamentos da seleção apenas para realizar ataques pessoais ao técnico Carlos Alberto Parreira. O pior é que ninguém conseguia enxergar o óbvio: que Parreira era um estudioso, tinha um esquema tático – podia até ser defensivo e retranqueiro mas existia – e que foi apenas por isso (e também a Romário, claro!) que conseguiu chegar ao tetracampeonato.

Mas ninguém quis dar o braço a torcer. Os membros dos programas esportivos (inclusive o estupendo Armando Nogueira) só queriam falar aos quatro ventos qual o time dos seus sonhos, os jogadores que eles queriam no interior do gramado e que tinham saudade do futebol que se praticava no passado. Análise fria e ponderada que é bom, nada…

É preciso abrir o debate sobre esse drama que parece crônico em nossa mídia. Afinal, sabemos que Zagallo ainda não encontrou o time ideal e está longe de apresentar um esquema tático consistente. Mas usar isso para se fazer perseguições e dirigir criticas vingativas a um ser humano, aí não dá! O pessoal tem que entender que, se perdermos a Copa, a derrota não será apenas do Zagallo mas do Silvio Luís, do José Luiz Datena, do Milton Neves, do Juca Kfouri, do Flávio Prado, ou seja, de toda o Brasil. Acorda, imprensa esportiva!

PS: Também sou jornalista e ainda acredito no jornalismo. Apesar de tudo.