Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Obsessão põe ética em xeque

SEGURANÇA EM AEROPORTOS

Desde o 11 de setembro de 2001 que a mídia não se cansa de passar a perna nas autoridades de segurança americanas e britânicas. Segundo matéria da Reuters do dia 7/9, o último "feito" coube a dois tablóides dominicais ingleses. Roger Insall, repórter do People, embarcou armas brancas (cutelo e navalha) tranqüilamente num vôo doméstico, enquanto um seu colega do News of The World usava referências falsas para conseguir emprego de bombeiro na usina nuclear de Dungeness B, no Condado de Kent, com acesso ao reator. Dias antes, outro jornalista passara pela segurança do Aeroporto de Heathrow, em Londres, com um revólver de brinquedo.

A TV americana ABC News, contou em 6/9 David Bauder, da AP, fez pior: o correspondente Brian Ross conseguiu enviar da Turquia a Nova York, de navio, quase sete quilos de urânio empobrecido. A Alfândega dos EUA afirmou que o pacote tinha menos radiação do que uma radiografia. "Estamos empenhados num trabalho mortalmente sério", disse o porta-voz da repartição, Dean Boyd. "Os americanos querem nossa atenção nas ameaças reais, não nas falsas." Ross disse à AP que uma das preocupações dele e da emissora era "não ensinar aos terroristas o que eles não sabem". A AP não menciona que Hollywood faz muito bem esse serviço: o cinema já mostrou dezenas de meios de contrabandear material nuclear para os EUA.

Controvérsias éticas e legais

Mark Jurkowitz, do Boston Globe, tratou do assunto em 5/9 com mais profundidade. "É admissível que a mídia pratique ilegalidades na busca de matérias?", perguntou. George Naccara, do Aeroporto de Logan, em Boston, respondeu: ”Entendo o trabalho do jornalista, alguém que precisa vender jornal." Para ele, há limites. "Deveria haver mais ética na cobertura do nosso trabalho, porque estamos fazendo o melhor." Joann Byrd, do Seattle Post-Intelligencer, presidenta da comissão de ética da Sociedade Americana de Editores de Jornais, resumiu: "Às vezes você necessita violar a lei, quando o público precisa saber de algo, mas fico preocupada quando se viola a lei só para aparecer."

Na CBS News, que também fez seu teste (embalagens de filme foram colocadas em sacos forrados de chumbo na bagagem, e a detecção falhou em 70% dos sete aeroportos testados), o correspondente Vince Gonzáles opinou: "Jamais usaríamos armas de verdade." No Daily News, o editor-chefe Edward Kosner rebateu: ”Tecnicamente estamos violando a lei, mas a intenção é boa, porque neste grave momento é a coisa certa a fazer."

Métodos de apuração vêm despertando controvérsias éticas e legais, disse Jurkowitz. Em 1997, a ABC foi condenada a pagar US$ 5,5 milhões por danos morais causados por repórteres disfarçados ao supermercado Food Lion, embora o veredicto tenha sido depois alterado [ver remissão abaixo] Em 1998, reportagem do Cincinnati Enquirer acerca da Chiquita Brands gerou investigação criminal sobre os repórteres e suas fontes. Para Jurkowitz, as técnicas "sub-reptícias" de apuração devem ser usadas em última instância e claramente expostas a leitores e telespectadores.

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