Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Onde o código de ética?

DOMINGO ILEGAL

Cláudio Julio Tognolli (*)

TV é concessão pública e deve basicamente atender a assuntos de interesse público ? não única e necessariamente popularescos, como faz o SBT (que inclusive acabou com o seu departamento de jornalismo, reduzindo-o ao mínimo, para dedicar-se a shows de quinta categoria).

A Justiça deve entrar em cena quando, justamente, a notícia desaparece e entre em seu lugar o show, prostituído de notícia, mesmo que farsescamente. Lembremos do seguinte trecho escrito pelo historiador da TV João Freire Filho, quando Chacrinha e Flávio Cavalcanti, no início dos anos 1970, digladiavam-se aos domingos com coliformes televisivos, da mesma forma que hoje fazem Gugu e Fausto Silva:


“Reza a lenda que a primeira-dama D. Cyla Médici caiu em transe enquanto assistia ao programa (Costa et al., 1986, 249). Foi nesse contexto conturbado que Hygino Corsetti fez o pronunciamento que avinagrou o humor de Nelson de Rodrigues. O ministro chegou a ventilar a hipótese de cassar a concessão das emissoras que insistissem com o ?sensacionalismo? e a ?baixaria?; no final, limitou-se a anunciar que o governo pretendia acabar com as transmissões ao vivo na televisão brasileira (com ou sem a presença de público no auditório), e que seria nomeada uma comissão interministerial com a responsabilidade de fixar, no prazo de um mês, normas de condutas para as emissoras (?Cassação?, O Estado de S.Paulo, 10/9/1971, 9; ?TV perde programas ao vivo?, O Estado de S.Paulo, 11/9/1971, 9). Antecipando-se às medidas governamentais, Globo e Tupi assinaram um protocolo de autocensura cuja validade se estenderia até a entrada em vigor do ?Código de Ética da Televisão Brasileira?, em estudos na área federal. Segundo o então diretor da Central Globo de Produções, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o acordo firmado entre as duas emissoras com intuito de ?eliminar os espetáculos de mau gosto? permitiria que impusesse ?uma nova mentalidade aos programas de nível popular? (O Estado de S. Paulo, 3/9/1971, 3; ?Diretor da Globo anuncia outra mentalidade na TV?, Jornal do Brasil, 4/9/1971, 5).”


Quem sabe o episódio Gugu sirva para que Globo e SBT, e demais emissoras de TV, finalmente adotem um código de ética.

(*) Repórter especial da Rádio Jovem Pan, professor da ECA-USP e do Unifiam (SP), membro do International Consortium of Investigative Journalists ( www.icij.org)

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