Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Operação desmonte

MÍDIA RUSSA

Nos últimos dois anos, a mídia independente russa sofreu sérias baixas. O maior império privado do país, Media-Most, foi destruído: seu principal veículo, NTV, caiu sob domínio estatal; a TV-6, outra emissora privada, foi fechada. Assim, a recente notícia de que o governo assumiu o controle da estação de rádio Ekho Moskvy foi recebida sem surpresa: a emissora estava em posição delicada desde que abrigou a equipe jornalística da TV-6. Era apenas uma questão de tempo.

Em protesto, o editor-chefe, Alexei Venediktov, demitiu-se e anunciou que participaria do leilão de uma nova freqüência. Inesperadamente, Venediktov ganhou, e promete que a estação terá independência editorial; para isso, cedeu 70% das ações do veículo aos jornalistas que o acompanharam. Foi uma decisão política: sem a boa vontade do Kremlin, tal vitória seria impossível. Alguns acham que se trata de uma compensação pelos ataques à liberdade de imprensa, outros opinam que existe uma luta interna entre vários grupos do governo.

Há ainda muitos jornais e revistas não-controlados pelo governo, que ignora as críticas enquanto domina os principais canais de TV, com mais de 100 milhões de telespectadores. Mas a campanha contra os magnatas da mídia Vladimir Gusinsky e Boris Berezovsky ? hoje exilados ? teve graves efeitos na mídia russa em geral: uma autocensura preocupante e o declínio dos padrões jornalísticos. O clima de repressão contrasta com o da época de Boris Ieltsin. O ex-presidente expandiu a liberdade de imprensa concedida por Mikhail Gorbachev. Na análise de Masha Lipman [The Washington Post, 11/3/02], esta "concessão" foi justamente o problema: os russos não lutaram por uma imprensa livre ? como outras liberdades, esta lhes foi dada pelo governo, de cima para baixo, e pode ser este o motivo pelo qual o público se mostra tão indiferente ao debate. A vitória de Venediktov não será sólida enquanto não for amparada pela demanda da população.

A estratégia de mídia do governo também chegou à internet. Strana.ru é uma tentativa de marcar presença na rede mundial: como porta-voz não-oficial do Kremlin ? trata-se de um projeto privado, embora não se conheçam seus proprietários e investidores ?, o sítio emprega 500 funcionários, tem sucursais em quase todas as 89 regiões do país e pensa em expandir para o rádio e a TV.

Segundo ex-funcionários, a página foi concebida pelo governo e fundada por executivos interessados em se aproximar do poder. A própria diretora geral de strana.ru, Marina Litvinovich, admite que o objetivo não é ter lucro, mas divulgar a mensagem de Putin na internet. "Não é um projeto de negócios, mas político. A idéia é apoiar as autoridades e o presidente russo."

Strana.ru teve mais de 25 mil acessos em um único dia de fevereiro, um sucesso relativo: representa um terço das visitas que o sítio mais popular do país (rbc.ru) recebeu, mas 22 vezes o número de freqüentadores da página oficial do governo. Informa Sharon LaFraniere [The Washington Post, 12/3/02] que atualmente a Rússia tem 10 milhões de internautas, apenas 7% da população total; em termos políticos, no entanto, este público é importante por ser mais instruído e receber os melhores salários.