Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Opinião fora de hora e de lugar

DIPLOMA EM XEQUE

Victor Gentilli


Premissa

Uma decisão da importância dessa e com os efeitos e resultados que ela produz n&atildeatilde;o pode ser tomada por uma juíza-substituta. A decisão, portanto, é injusta, ilegal e ilegítima.

Contexto

O quadro, hoje, é radicalmente diferente daquele de 13 ou 14 anos atrás. Pois bem, em 1987 publiquei na imprensa capixaba dois artigos favoráveis à "emenda Mauro Santayana", aquela que defendia que a Constituição contivesse um artigo propondo que profissões que produzissem risco à vida tivessem o seu exercício liberado, sem os limites impostos pela posse de um diploma.

Evidente que fui mal compreendido. Até porque naquele momento, como agora, a maré e a onda vinham na direção contrária.

Cobrar coerência de uma opinião manifestada há mais de uma década é justo, mas tem suas limitações. A democracia, o debate de idéias, a pluralidade, tudo leva todos a ter o direito de mudar de opinião. Não foi o meu caso. Continuo com a mesma opinião.

Entendo que seria muito bom para o país se os cidadãos pudessem ter o direito de mostrar que dominam o ofício de advogados, arquitetos, analistas de sistemas e tivessem o direito de exercê-lo livremente, mesmo sem o respectivo canudo. Entre estes, incluo os advogados e os jornalistas.

O paradoxo apenas aparente

Entre aqueles que não compreenderam minhas opiniões de 1987, a grande maioria achava que eu estava sendo incoerente e paradoxal. Como propugnar um ensino de qualidade, como defender que o ensino de Jornalismo é fundamental se sou contra o diploma? Eis a questão que mais tive que enfrentar.

É o óbvio ululante que uma coisa não tem nada a ver com a outra. 1. No mundo inteiro existem cursos de Jornalismo; em lugar nenhum do mundo existe a obrigatoriedade do diploma. 2. Psicanalistas exercem com liberdade sua profissão e ninguém exige diploma. O cliente quer capacidade, competência, ética e conhecimento. Papel na parede não vale nada. 3. Neste mesmo Brasil e neste mesmo campo da comunicação, o exercício da publicidade não exige diploma. Mas é entre os bons alunos das boas escolas que as agências vão recrutar os novos publicitários.

Defendo o ensino de Jornalismo, acho que jornalismo se aprende é na escola. Apenas entendo que poderíamos ter melhores escolas se os alunos procurassem os cursos exclusivamente pela vontade de aprender, pela qualidade do ensino que propiciam, não pela reserva de mercado profissional que supostamente geram. Aliás, com certeza, se os alunos desejassem apenas aprender seriam muito mais exigentes e rigorosos.

Ademais, como lembrou Alberto Dines, em artigo aqui mesmo no Observatório, os jornalões do Rio de Janeiro vivem de anúncios de grandes fábricas de diplomas. Serão estes os nossos aliados? Comigo, não!

Conclusão ligeira

A minha opinião, neste momento, não tem maior importância ou valor. É preciso, antes, que o debate seja colocado nos devidos trilhos. Aí, a opinião de cada um vai valer pela capacidade de convencer e pela força dos argumentos.

Abrir o debate agora, por meio de uma chicana jurídica, é em tudo e por tudo impróprio, indevido e fora do lugar.