Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os arautos do caos

MÍDIA & MST

Chico Bruno (*)

Uma parte da mídia nacional resolveu revolver o passado. Motivados por novas invasões rurais e urbanas, decidiu desenterrar exemplos. Os arautos do caos, instalados na imprensa, sugerem nas entrelinhas semelhanças com a movimentação social dos anos 63/64.

Tanto na mídia impressa como na televisiva, parcimoniosamente vão soltando e destilando veneno. Com muito cuidado, mas com muita maldade, traçam paralelos entre o atual governo e o que caiu fruto de golpe militar, em 1964. Para essa parcela da imprensa, existe o olhar crítico dos que sabem que as condições são totalmente diferentes, pelo menos no momento atual.

Para começo de conversa, naquela época os brasileiros votavam para presidente e, também, para vice-presidente. Elegeram Jânio Quadros, mas não elegeram seu vice. Elegeram o vice da chapa oposta, João Goulart. Jânio renunciou à presidência, mas o vice não assumiu com todos os poderes presidencialistas, pois foi encontrada uma solução parlamentarista. Em seguida, graças ao jeitinho brasileiro, caiu o parlamentarismo e o presidente retomou seus poderes imperiais até ser retirado da cadeira pelo golpe militar.Hoje vive-se uma democracia, que, se ainda jovem, é consistente e garantida pelo voto universal. O primeiro presidente eleito pelo voto popular com o fim da ditadura foi apeado por crimes cometidos contra a dignidade do cargo. Tudo como manda o figurino democrático. O vice assumiu sem maiores delongas e fez seu sucessor em 1994.

Uso capcioso

O risco que os arautos pregam por causa da onda de invasões de terras rurais e urbanas não é novidade do governo atual. Vem desde os tempos do presidente José Sarney, passou por Collor, Itamar e FHC. Comparam o número menor de invasões de 2002 ao de 2003, tentando fazer crescer a massa do bolo do alarme. Fazem vistas grossas ao fato de que em 2002 toda a esquerda brasileira vislumbrou a chance de chegar finalmente ao poder central, após três tentativas frustradas. Portanto, todos os segmentos de esquerda passaram o ano pisando em ovos. Ninguém fez marola, muito menos os sem-terra.

Eleito Lula, os segmentos mais à esquerda colocaram novamente o pé no acelerador, como forma de pressionar o governo a resolver com mais rapidez os problemas sociais do país. A parcela da imprensa que tenta aquecer o noticiário com comparações entre Jango e Lula sabe muito bem, pois é inteligente, que isso aconteceria num governo petista.

O que não pode é usar capciosamente esses fatos para tentar desestabilizar o governo. Essa forma de fazer jornalismo já criou muitos problemas para o país. A cidade do Rio de Janeiro já foi vítima desse ardil de uma parcela da imprensa, desmontado agora pela divulgação de estatísticas sobre os índices de criminalidade e violência no país pelo Ministério da Justiça.

(*) Jornalista