Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os coronéis eletrônicos

DONOS DO PODER

Chico Bruno (*)

Maranhão, Sergipe, Alagoas e Bahia são similares, pelo menos em termos de comunicação. Todos têm em comum o coronelismo eletrônico. Uma praga utilizada pelo regime militar que assolou o país nas décadas de 60/70 como moeda de troca para saldar dívidas políticas com os que apoiavam a ditadura. Sarney, Albano, Collor e Magalhães imperam nesses quatro estados com base nos índices de audiência da Rede Globo de Televisão, da qual são afiliados, que facilitam na tarefa de dominação local pelos grandes coronéis eletrônicos.

Sarney pai é senador, Sarney filho é ministro, Sarney filha é governadora. Agora Sarney filha é candidata a candidata à Presidência da República, reeditando Collor, que é o coronel eletrônico das Alagoas. Triste Nordeste que, além de conviver com a seca, ainda é obrigado a conviver com essa situação.

Os quatro estados mostram índices de desigualdades sociais assustadores, que não podem ser creditados apenas à seca, mas, com certeza, podem ser creditados em parte a esse tipo de dominação pelos coronéis eletrônicos, que ostentam patrimônios de milhões de dólares. A revista Veja, em recente edição, divulgou que o patrimônio dos Sarney beira os 125 milhões de reais, quatro vezes mais que o patrimônio dos Barbalho, que a mesma revista denunciou, originando o processo de cassação de Jader pelo Conselho de Ética do Senado, que terminou com sua renúncia. Se Jader foi questionado pelos 30 milhões de reais de patrimônio, como pode a mesma revista não questionar os Sarney, uma família de origem na classe média maranhense que não herdou fortuna que possibilitasse tal feito?

O que mais intriga é saber que os custos para a construção de tais impérios de comunicação são muito altos, e os salários da política não cobrem tais façanhas. Aliás, basta ver a situação financeira de alguns grandes veículos de comunicação do eixo Rio-São Paulo, para termos uma idéia das dificuldades de se manter veículos de comunicação saudáveis pelo país afora.

Infelizmente, a grande imprensa brasileira não se preocupa em desvendar tais mistérios. Dessa forma continuamos correndo o risco de vermos construídos novos Collor de Mello, como agora se nos apresenta, pelas mãos de um marqueteiro competente, o fenômeno Sarney filha.

É imperativo que a imprensa sadia do país alerte a população, para que não se tenha novamente de convocar os cara-pintadas para enxotar do poder mais um filho dos impérios de comunicação nordestinos.

(*) Jornalista