Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Os meninos de Marisa

BIG BROTHER BRASIL

Spacca (*)

A façanha da Globo será provar ao público
que Big Brother, o verdadeiro e original, é
melhor que o "clone" desenvolvido pelo Sistema Seu
Sílvio de Televisão.

Bobagem. Apesar do molho inconfundível do SBT, é
tudo a mesma coisa e o público já estava vendo
reality shows bem antes dessa guerrinha (que vença
o pior!).

Esse tipo de teleteatro distingue-se da novela por trocar atores
por convidados e substituir o roteirista por uma equipe que planeja
os estímulos que desencadearão disputas, alegrias,
frustrações, romance. Os novos "atores"
realizam espontaneamente o que muito ator só consegue depois
de muito laboratório e Stanislawski.

Não é muito diferente, para o espectador, do que assistir a uma pegadinha, a um teste de fidelidade e aos coitados que se estapeiam no programa do Ratinho e assemelhados. É quase hipnótico, seqüestra nossa atenção voyeurista como uma briga na rua ou no vizinho (sim, eu confesso, assisti com interesse; interesse mau e sádico, mas interesse…).

Se o objetivo é manter os espectadores de olhos grudados no vídeo, a fórmula BB é tão eficaz como a tradicional telenovela, e se não substituí-la no futuro, os dois formatos vão ter que conviver e se aturar. O mesmo se pode dizer dos neo-atores.

No programa da Globo, a atriz e mestre-de-cerimônias Marisa Orth chama de "meus meninos" os marmanjos sarados do teledrama real.

Ocorreu-me uma comparação cruel. Nos ônibus em São Paulo, existem catracas automáticas a cartão ou ticket, semelhantes às do metrô, mas o cobrador ainda continua próximo, quase supérfluo, trocando o dinheiro e entuchando notas amarfanhadas numa pochete. Nem gaveta ele tem. Alguns passageiros já trazem o ticket e dispensam o trocador, que apenas assiste a operação.

Como Marisa, ensinando o Brasil a adotar os "seus meninos"…

(*) Cartunista e ilustrador