Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os planos da cobertura

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MONITOR DA IMPRENSA

SHOW DE HORRORES

Após semanas de discussão, noticiada pelo Observatório da Imprensa [ver remissões abaixo], a ABC News decidiu anunciar como planeja cobrir a execução de Timothy J. McVeigh, responsável pela explosão em Oklahoma City, EUA, que matou 168 pessoas em 1995.

A emissora, segundo Jim Rutenberg [The New York Times, 16/4/01], afirmou em 13 de abril que o responsável pela reportagem de campo, Charles Gibson, principal âncora da ABC, falará de Oklahoma City, onde ocorreu o crime, e não de Terre Haute, no estado de Indiana, onde McVeigh será executado. Ao deixar seu âncora-astro em Oklahoma, a ABC News diz que enfatizará "que a mensagem mais importante ainda é a dos sobreviventes e das vítimas", afirmou Gibson, "e não a desse homem."

Gibson afirmou que estar em Oklahoma poderá ajudá-lo a alcançar um tom apropriadamente solene para a execução. A emissora disse que também haverá correspondentes em Terre Haute. A decisão final sobre a cobertura foi de David Westin, presidente da ABC News. Os concorrentes pensam diferente. A CBS News pretende enviar a Indiana seu âncora principal, Bryant Gumbel, porque acredita que a essa altura a história estará acontecendo em Terre Haute. A NBC News disse que não planeja enviar âncoras a qualquer dos locais.

TV para poucos

Em 19 de abril, o Departamento de Justiça designou uma prisão federal em Oklahoma City para que os sobreviventes e as famílias das vítimas da explosão assistam à execução em circuito fechado de TV. Os "privilegiados" têm até 1o de maio para reservar seus lugares, conta David Johnston [The New York Times, 20/4/01].

Cerca de 285 pessoas demonstraram interesse em assistir à execução. Ninguém poderá levar câmeras de vídeo, gravadores ou telefones celulares, para que o evento não se torne público. A execução está marcada para 16 de maio às 7h, horário local. Um juiz federal proibiu a transmissão via internet da execução de McVeigh, solicitada pela Entertainment Network. A companhia pediu permissão na Justiça para pôr na internet imagens das cenas.

Ao negar, no dia 18, o juiz John D. Tinder afirmou que não se trata de uma notícia para o público, mas de interesse sensacionalista que pode ameaçar a segurança do sistema carcerário. Segundo Carl S. Kaplan [The New York Times, 20/4/01], Derek A. Newman, advogado da Entertainment Network, disse que seu cliente recorrerá à Corte de Apelação de Terre Haute ou, talvez, diretamente à Suprema Corte dos Estados Unidos.

Embora a Entertainment Network seja participante pouco convencional num caso de liberdade de imprensa de alto nível, advogados afirmam que a questão é legítima. Em sua decisão de 31 páginas, Tinder observou que "nenhum tribunal da nação" jamais deu sentença do gênero a favor de organização noticiosa. No entanto, "não haverá restrições quanto à forma de reportar o que observam os representantes da mídia", garantiu o juiz.


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A MÍDIA E OS GAYS

Em artigo no dia 16 no New York Times, Felicity Barringer elogiou o jornal The Rutland Herald, do estado de Vermont, EUA. Segundo Felicity, os editoriais do Herald do ano passado sobre a legalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo, que geraram ferozes críticas da sociedade local, fizeram o jornal ser indicado ao Prêmio Pulitzer deste ano.

A lei, sancionada pelo estado no primeiro semestre de 2000, fora antecedida por decisão da Suprema Corte de Vermont, de 20 de dezembro de 1999, para que casais do mesmo sexo recebessem os mesmos benefícios legais que os heterossexuais. Ao Legislativo cabia definir os procedimentos: poderia silenciar ou aprovar lei em resposta à corte. Era a chance de debate para jornais e editores.

Os editoriais da maior publicação do estado, The Burlington Free Press, não saíram de cima de muro: carreiras políticas estavam em jogo. David R. Moats, editor do Herald, de linha liberal n um estado republicano, escreveu que a corte fora "destemida", e dado um exemplo de reconhecimento da igualdade humana. Durante cinco meses o jornal recebeu cartas de leitores furiosos por sua posição "imoral". Moats respondeu estar baseado na premissa de que não cabe a ninguém, nem ao Estado, julgar a moralidade ou a imoralidade de relações pessoais.

Moat assumiu um risco, pois o estado é tido como conservador. Alguns anunciantes também se incomodaram, mas não houve boicote. O Herald, que depois de 210 anos de existência continua a enfatizar assuntos como poluição e educação, venceu novamente, concluiu Felicity.

Em 1999, um garoto de 13 anos foi assassinado no Arkansas, Estados Unidos, depois de ser estuprado e torturado. A mídia americana ignora o caso, e os conservadores acreditam que o silêncio decorra do fato de que os dois assassinos são homossexuais, segundo a Abcnews.com [13/4/01].

No mês passado, Joshua Brown, de 23 anos, foi condenado à prisão perpétua. Davis Carpenter, de 39 anos, vai a julgamento em maio. Mas o caso recebeu pouca atenção da mídia nacional, que está sendo apontada como defensora dos gays, levando-se em conta a grande cobertura que o assassinato de um jovem homossexual no Texas, em 1998, foi pauta durante meses.

Um dos escritores homossexuais mais polêmicos do país, Andrew Sullivan, disse ao Abcnews: "É evidente que grande parte da mídia resolveu ficar longe do caso porque sabemos que isso alimentaria o preconceito contra gays." Editores de TV e jornais disseram que no caso de Matthew Shepard, a vítima do Texas, um assunto de abrangência nacional estava em discussão ? a legislação de crimes de ódio racial, na qual os homossexuais lutam para ser incluídos. Eles acrescentam que os detalhes da morte do menino são cruéis demais, difíceis de serem reportados.

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