Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Painel do Leitor, FSP

SEQÜESTROS

"Violência", copyright Folha de S. Paulo, 13/02/02

"A professora e doutora Flavia Piovesan escreveu artigo (edição de ontem, Opinião, pág. A3) sobre como enfrentar o crime organizado. Entretanto, se isso depender de um debate público com a ?sociedade civil e suas plurais organizações?, como ela indica, não acredito que haja uma evolução em curto prazo. Enquanto se discute a forma de combater o crime nos gabinetes dos diversos órgãos, os criminosos estão atuando. O que precisa é desatar as mãos da polícia, para que ela possa agir com energia e eficiência, dentro da legalidade, e dotá-la com recursos suficientes. José Pantaleão de Santana (Taubaté, SP)

A mídia informa e instrui. Esse é o seu grande papel. E por isso agradecem a classe profissional do crime e também os que nela querem ingressar. Encontra-se de tudo nos jornais: prêmios, propaganda e ?modus operandi? para não deixar pistas, entre outras coisas. A mídia também informa que é lucrativo e seguro o crime, tal a quantidade de sequestros bem-sucedidos que os jornais noticiam diariamente, enfatizando que os que não obtiveram sucesso são infinitamente em menor número. A mídia é uma grande escola! Isnard Camara de Oliveira (Bragança Paulista, SP)"

 

IMPRENSA & PROSTITUIÇÃO

"Virando zona", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/02/02

"Na minha juventude, fui um bom goleiro de futebol de salão (um amigo, que cobriu futsal anos, achava mesmo que, se tivesse seguido carreira, seria candidato à seleção brasileira) e posso dizer que, para mim, o momento mais angustiante não era na hora do pênalti, como acha o Win Wenders. Era a do gol contra. Você vai na bola certo que vai pegar e aí um companheiro de time mete o pé na bola e a desvia para dentro do gol, exatamente para o lado oposto ao que você estava caindo. A sensação de frustração e desalento era mesmo digna de filme alemão.

Pois foi assim que me senti quando um amigo me mandou a matéria que está na Playboy deste mês, na qual o repórter paga algo em torno de R$ 800 para comer uma bela (segundo ele, a matéria obviamente não tem foto) garota de programa do tal W Club, um famoso…Hã…Bem…Ah! Dane-se! É sempre bom chamar as coisas pelo seu devido nome…Um famoso puteiro de luxo de São Paulo. Certo: a Playboy é uma revista para rapazes essencialmente solitários de todas as idades (daqueles que estão sozinhos mesmo quando acompanhados) e que não conseguem lidar bem com isso, e faz parte do seu esquema publicar matérias eróticas ou pseudo.

Também não vou discutir aqui se tem ou não sentido a prostituição ser crime numa sociedade capitalista e democrática (pelo menos é o que está escrito nas instruções de uso) em que tudo é mercadoria e está à venda. O que não dá pra discutir é que a prostituição está capitulada no Código Penal e o que a Playboy fez também está: incitamento ao crime. Claro: se o cara pagou para uma pessoa para ela se prostituir, ele a incitou a cometer um crime. Se ela era ou não uma prostituta, não interessa; o que interessa é que ele, naquele momento, a incentivou a cometer o crime.

Vocês se lembram do Caso Boechat, no qual a Veja usou fitas obtidas ilegalmente para denunciar uma suposta armação da qual faria parte Ricardo Boechat, pois não? Uma das críticas mais corretas que se fez foi que a Veja usou do fruto de um delito cometido por terceiros na tentativa de usufruir vantagens (no caso, venda maior com o suposto escândalo). Bem e o que dizer então de uma revista que, conscientemente, manda um empregado seu cometer um crime?

E nesse caso não tem nem aquela desculpa esfarrapada – admitida, se as circunstâncias fossem outras, pela própria vítima do Caso Boechat – de que estava em jogo o ?interesse público? (seja lá o que isso for). Não tinha nem a desculpa, ainda mais rota, da originalidade: de primeira, lembrei logo de duas boas matérias sobre o assunto – uma, de Alessandro Porro, há uns quatro anos, no Globo; e outra, brilhante, de João Gordo para o NO.. A única diferença importante da matéria da Playboy (noves fora que a de Alessandro e a de João eram mais bem escritas) é que nesta o repórter comete um crime.

(Por coincidência – ou não – O Globo fez matéria sobre prostituição no domingo, dia 17: garotas que caçam clientes no Shopping Rio Sul. Era correta e não apelava para expedientes escusos).

Nós, jornalistas, estamos passando por um momento decisivo como categoria profissional. Há chances, como todos sabemos, de que os patrões consigam derrubar de vez a exigência do diploma, e mesmo que vençamos este ataque, a demora em fazê-lo já deve ter provocado estragos cujos efeitos só deveremos sentir daqui a algum tempo. Assim, a questão da ética profissional para nós passa a ter um peso real e não retórico como até hoje. É ela que vai diferenciar um verdadeiro jornalista de um picareta e um veículo jornalístico sério de uma arapuca. Somente o respeito incondicional à ética poderá impedir de transformar o exercício de nossa profissão numa zona.

Picadinho

Cansou – Já que estou falando da Abril, a Quebecor encheu o saco de aguardar uma resposta dos Civita à oferta que fez pelo parque gráfico da editora e está abrindo um escritório no Rio de Janeiro, onde deverá construir uma gráfica.

Mãozinha – Menos mal para as finanças do grupo da árvore – que não andam nada bem – que a Portugal Telecom está pensando em ampliar sua participação no UOL de 17% para 30% comprando ações dos Civita.

Sem moleza – A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal negou no dia 5 passado, o pedido de habeas corpus ajuizado pela jornalista Sônia Maria Rodrigues Mota, acusada de forjar documentação para obter concessão de aposentadoria excepcional pelo INSS. Com a decisão, ela continuará respondendo a processo por estelionato, juntamente com outras seis pessoas na mesma situaç&atatilde;o – entre elas seu irmão, Paulo César Rodrigues, que dirigiu o Sindicato do Município do Rio entre 93 e 95 -, pertencentes a um suposto esquema para concessão irregular daquele tipo de aposentadorias.

Intercom – Quem se interessa pelo que anda rolando no campo da teoria sobre comunicação em geral tem uma ótima fonte. No sitio da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), está disponível o Banco de Papers, no qual se pode encontrar comunicados apresentados em encontros da entidade desde 1998. O endereço é www.intercom.org.br. Vale a pena dar uma olhada."