Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Painel do Leitor, FSP

LEITOR vs. FSP

"Contas", copyright Folha de S. Paulo, 18/11/02

"?A Folha cometeu grave erro de informação em matéria publicada no dia 14/ 11 em seu caderno Ilustrada, na página E5, sob o título ?Tribunal pede explicações à secretaria?, ao omitir de seus leitores que as contas da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo referentes ao ano de 1999 foram aprovadas e consideradas regulares pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, o que aconteceu em sessão ordinária da Segunda Câmara do TCE, realizada em 5/11/02. Conforme publica o ?Diário Oficial? do Estado do dia 13/11, a ata desse julgamento explicita o voto dos conselheiros Antônio Roque Citadini, presidente em exercício e relator, e Renato Martins Costa, bem como do substituto do conselheiro Carlos Alberto de Campo, que, em vista do exposto no voto do relator, juntado aos autos, decidem julgar regulares as contas da Secretaria de Estado da Cultura, exercício de 1999. Aprovação que corrobora a posição da Secretaria da Cultura no episódio citado pela reportagem, bem como as informações por esta oferecidas a este jornal na ocasião. Ao procurar pela Secretaria de Estado da Cultura, no dia 13/11, o jornalista da Folha recebeu essa informação do chefe de Gabinete, sr. Antônio Denardi, que repetiu, por diversas vezes, que as contas haviam sido julgadas regulares e aprovadas e até informou o dia, a hora e a sala em que foi realizada a sessão que as aprovou. O que pode ter levado à omissão desse dado essencial pelo repórter, pelo jornal, que passaram a seus leitores uma notícia pela metade? Causa-nos estranheza que um jornal como a Folha, deliberadamente, deixe de lado informações importantes, seja por negligência profissional, seja por falta de tempo ou espaço, trazendo prejuízos às pessoas citadas na matéria e aos seus leitores.? Marcos Mendonça, secretário de Estado da Cultura de São Paulo (São Paulo, SP)

Nota da Redação – O secretário tem razão ao afirmar que as contas de 99 foram aprovadas, conforme publicado no ?Diário Oficial?. Mas omite a informação de que foram aprovadas com ressalva, ou seja, com a exceção dos processos em trâmite, como se pode ler no mesmo texto. Assim, como informou a reportagem, o TCE ainda aguarda explicações da secretaria que justifiquem os pagamentos feitos com verbas emergenciais."

 

INTERNET

"Vem teclar comigo", copyright Veja, 20/11/02

"A executiva paulistana Esther Jagosehit, 30 anos, é um mulherão. Loura, alta, magra, tem olhos azuis, sólida formação intelectual e ganha o suficiente para levar uma vida para lá de confortável, com freqüentes viagens ao exterior, carro do ano e casa própria. Esther provoca tanto furor entre o público masculino quanto mexe com as mulheres a presença do ator Renato Bizone, herdeiro do grupo Brasimac, um império que fatura anualmente 100 milhões de reais. Aos 27 anos, sempre citado em colunas sociais, ele ostenta um currículo amoroso que inclui a apresentadora do Fantástico, Glória Maria, e uma dezena de modelos. Alguém diria que ambos estão procurando um relacionamento pela internet? Pois, pasme: eles estão. A presença nos sites de namoro de gente como Esther, inscrita sob a alcunha de ?garota do campo?, e Bizone, que usa o apelido ?boyIIgirl?, aponta para um curioso fenômeno: a internet deixou de ser refúgio para quem sempre teve problemas amorosos para se tornar uma eficiente ferramenta mesmo para quem nunca encontrou dificuldade em arrumar namoro.

Atualmente, quase todo mundo tem um amigo, um parente, um vizinho que conheceu alguém pela internet. Esse tipo de encontro se tornou assunto recorrente em qualquer mesa de bar. A percepção da mudança no perfil de quem procura namoro pontocom pode ser amparada por dados significativos. Estima-se que cerca de 3,5 milhões de pessoas estejam inscritas nos sites de relacionamento em todo o país. É um número que corresponde a quase 10% dos solteiros brasileiros. Estudos recentes apontam que, em três anos, pelo menos 50% dos desimpedidos dos países do Primeiro Mundo vão conhecer um parceiro on-line. A conversa poderá parar no estágio eletrônico. Algumas poderão ir adiante. É por isso que a procura pelos sites especializados só cresce. Nos últimos meses, foram lançados cinco sites, somando um total de mais de vinte no Brasil. O maior deles, o www.parperfeito.com.br, fatura só com a mensalidade dos inscritos mais de 1 milhão de reais por mês. Basta uma olhada rápida nas fotos dos pretendentes on-line para ter a medida de como a galeria de tipos mudou. Ali não estão mais só os fora-de-forma, os nerds ou os carentes profissionais. Há gente atlética, bonita e estudada. No site www.comovai.com.br (300.000 inscritos), 65% dos usuários têm curso superior. No www.almasgemeas.com.br (700.000 inscritos), boa parte das fotos exibidas nos perfis dos inscritos foi feita em viagens internacionais. No ParPerfeito, a maioria dos usuários é formada por profissionais das áreas de comércio e administração de empresas.

Houve um tempo em que discotecas e bares de paquera eram a grande esperança dos corações solitários. Era sentar a uma mesa com amigos, pedir as bebidas e aguardar. Dali a pouco chegava um ?torpedo? (bilhete de paquera entregue pelo garçom) ou alguém com uma conversinha fiada. Era preciso muita paciência e disposição para manter um papo. Ainda assim, a chance de engatar um romance quase sempre beirava o zero. É essa a questão de quem está em busca de um namoro on-line. A maioria absoluta das pessoas que se propõem a sair com alguém que conheceu na internet está cansada de gastar tempo e saliva com gente que acredita não valer a pena. ?As pessoas não se casam com o namorado de escola, adiam o casamento por causa da vida profissional e, muitas vezes, a carreira as obriga a mudar de cidade – o que significa abrir mão do tradicional círculo de conhecidos?, diz a psicanalista paulista Anna Verônica Mautner. ?Soma-se o fato de trabalharem muito, sobrando pouco tempo para se socializarem. As horas disponíveis acabam sendo muito preciosas.?

Esse tipo de questão aflige quem é bonito e quem não é. Quem é gordo e quem é magro. O alto e o baixo. ?É por isso que pessoas que tradicionalmente nunca imaginaram marcar um encontro pela internet migraram para o ciberespaço. Depois de terem caído por terra os estereótipos de que a internet é lugar de gente desinteressante, não há como não aderir?, diz a paulistana Marly Kotujansky, uma das sócias do site Comovai, que fatura 300.000 reais por mês. É verdade. Por ser possível escolher com exatidão o tipo de pessoa que se está procurando, a sensação de eficiência na paquera parece ficar saciada. A possibilidade de fazer essa pré-seleção é um dos aspectos positivos. Você simplesmente descarta aquele sujeito que assumiu ser um consumidor voraz de livros de auto-ajuda ou a garota fumante sem precisar ter gasto horas contando onde passou a infância ou qual é sua opinião sobre a culinária japonesa. Outra vantagem: através dos sites de namoro, é possível conhecer gente de profissões e cidades que jamais se imaginou. Na vida real, a chance de uma geóloga de Ribeirão Preto conhecer um barítono paraense é mínima. Se estão inscritos em um site na internet, eles podem receber um e-mail dizendo que a afinidade entre ambos é de 100%. E está feito o contato.

?O que acho fantástico é a possibilidade infinita de encontros. Dá para marcar sete jantares com sete mulheres diferentes em uma semana. É uma loucura?, diz o empresário Alexandre Boz, 32 anos, um adepto fervoroso de paqueras pelo ICQ, o mais popular programa de mensagens instantâneas da rede. Curiosamente, ele compara a escolha de uma eventual paquera a uma ida ao shopping. ?Você vai vendo aquelas fotos, lendo aqueles perfis e escolhendo. Parece que está indo às compras. Descarta essa, guarda aquela. Eu não tenho problemas de relacionamento. Ao contrário. Estou saindo com várias mulheres, nenhuma que conheci na internet, mas acho a engrenagem fascinante. É quase entretenimento?, diz. Na avaliação dos especialistas, a internet também tem desempenhado papel fundamental na tradicional guerra dos sexos. Protegidos pelo anonimato, os homens costumam ser mais sensíveis e as mulheres mais ousadas na hora de paquerar on-line. Eles se sentem confortáveis em mandar poesias ou cartõezinhos virtuais, enquanto elas ficam mais à vontade para expressar sua sexualidade sem repercussões machistas. ?É muito saudável deixar esse lado transparecer. Ainda que isso esteja sendo mantido no plano virtual, pode ser um bom passo para que esse comportamento seja adotado nas relações cara a cara?, diz o psiquiatra Ronaldo Pamplona da Costa.

Os encontros pela internet subverteram a ordem de como se engata um namoro. Se na paquera tradicional a aparência física é um desempatador, nas conversas on-line se torna um mero detalhe. Como as primeiras conversas são anônimas, as pessoas se sentem mais propensas a ser honestas e a deixar transparecer suas emoções. ?Mesmo que dê errado, a pessoa se sente menos ofendida. Ela foi recusada pelo discurso, não pela aparência. Não se sente ferida narcisisticamente. É como se dissesse: ?Não fui eu o recusado, foi a personagem que criei?. Isso é interessante?, comenta o psicanalista carioca Joel Birman. A vendedora carioca Carolina Campos, 22 anos, ressalta outro aspecto: ?Passei horas falando com pessoas interessantes quando eu já estava de pijama, descabelada, sem maquiagem. É uma maravilha não precisar gastar um tempão para se arrumar e conhecer alguém?, diz ela, que já varou madrugadas nos sites de paquera do UOL até conhecer o namorado em uma das salas de bate-papo.

Há dois perfis definidos de quem está conhecendo pessoas pela internet. O primeiro é o sujeito que se inscreve em um site de namoro com o objetivo claro de sair com alguém. Ele paga uma mensalidade, expõe sua foto, dá detalhes sobre seus gostos pessoais e especifica quem quer conhecer. Nessa categoria, 95% das pessoas estão dispostas a sair de casa para se encontrar com um estranho escolhido via internet. O outro tipo é chamado de navegador ?desbravador?. É o internauta que se aventura esporadicamente em salas de bate-papo e só depois de muita conversa topa um programa pessoalmente. A experiência mostra que, nesse caso, um contato ao vivo é raríssimo: fala-se antes com cerca de quarenta interlocutores para confirmar um único encontro.

Mas, afinal, o que querem as pessoas que buscam um namoro pela internet? O banco de dados do ParPerfeito aponta que os traços de caráter mais especificados são diferentes para ambos os sexos. Eles querem conhecer uma mulher bonita e independente. Elas, um homem companheiro e bem-humorado. ?Mas, no fundo, o que querem é outra coisa. Homens querem sexo. Mulheres, achar o príncipe encantado?, afirma o sexólogo carioca Charles Rojtenberg, que durante oito anos entrevistou 5.000 freqüentadores de salas e sites de namoro para tentar responder à pergunta. Esse é o ponto. A maioria das mulheres realmente quer um envolvimento sério. Já os homens vêem na internet um instrumento eficaz para encontros furtivos e casuais. Ou seja: sexo sem compromisso. Na avaliação de Rojtenberg, isso não significa que as relações iniciadas pelo computador estejam fadadas ao fracasso. O que é preciso é saber dar a dimensão exata a esse tipo de relacionamento. ?O fundamental é ter claro que a internet é um excelente lugar para conhecer pessoas. Não significa que você vai se casar com elas?, comenta. Segundo sua pesquisa, apenas 2% das relações que nascem on-line resultam em casamento. O restante não ultrapassa o jantarzinho, uma ida ao motel ou uma viagem de fim de semana. O fotógrafo Carlos Eduardo Niemeyer, 48 anos, neto do arquiteto Oscar Niemeyer, está inscrito no Comovai. ?Em geral, sou um cara tímido. Não entrei com intenção definida. Queria simplesmente ampliar o leque das pessoas que conheço. E isso realmente aconteceu?, afirma.

Com a mesma freqüência com que se ouve falar das maravilhas dos encontros pela internet se escutam casos bizarros. Todo mundo sempre tem uma história horrorosa para contar. A do sujeito apaixonado que foi se encontrar com um pitéu de 25 anos, que na verdade era um senhor homossexual de 56. A da moça que se dizia ?um pouco acima do peso? e, de fato, estava com 165 quilos. Ou a da jovem que deu muito dinheiro a um picareta que a tinha pedido em casamento depois de um mês de bate-papo na internet. De fato, há uma coleção perturbadora de casos dessa ordem. Ninguém duvida que, numa conversa entre dois desconhecidos, possa haver boa dose de mentira e fantasia. ?Mas, em geral, são mentiras prosaicas ligadas à fantasia do que se pretende ser. Mulheres mentem sobre sua aparência porque sabem que são julgadas por isso. Homens mentem sobre o status social porque também são cobrados socialmente nesse sentido?, afirma o psiquiatra paulista Luiz Cushnir. É evidente que existem homens e mulheres de péssimo caráter on-line. Mas você poderia topar com qualquer um deles em um restaurante ou mesmo no cafezinho de sua empresa.

Em geral, tem-se a impressão de que as teorias sobre a falibilidade dos encontros pela internet são mais baseadas em preconceitos que em fatos. Como se só fosse possível conhecer a pessoa ideal na faculdade (visão tradicional) ou numa trombada de carrinhos de supermercado (visão super-romântica). É como se houvesse algum código velado que proibisse as pessoas – principalmente as mulheres – de colocar sua foto, dizer o que esperam de alguém e, finalmente, poder achar uma pessoa interessante para se relacionar. A principal vantagem da internet é possibilitar os encontros. É evidente que o resto da paquera vai ficar por conta dos envolvidos. Como em uma relação em que os dois foram apresentados por amigos em comum. A advogada paulistana Renata Malagoli, 25 anos, namora há seis meses o publicitário Rogério Barcellos, 30 anos, que conheceu num site de namoro. Ambos são jovens, bonitos e bem-sucedidos e vêm de famílias com dinheiro. ?Eu sempre achei que ia encontrar um cara como ele na praia, em uma viagem pela Europa, sei lá. Mas nunca aconteceu. Percebo que algumas pessoas olham estranho quando digo que o conheci na internet. É puro preconceito. O que importa é que estamos no maior amor?, diz.

Ao que tudo indica, as relações que parecem dar certo são as construídas com o menor grau possível de expectativa. ?É um erro achar que só porque você teclou dias com alguém virou íntimo da pessoa. É preciso saber que, ao se encontrarem, vocês serão dois estranhos da mesma maneira. É necessário começar todo o processo de conhecimento de novo?, observa a psicanalista Magdalena Ramos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É evidente que há uma série de posturas que a pessoa deve ter em mente antes de iniciar uma paquera pela internet. A principal delas diz respeito a você mesmo. Os especialistas aconselham a pessoas carentes e solitárias jamais se envolver em relações virtuais. ?Como está fragilizado, esse tipo de temperamento se torna um alvo fácil para pessoas mal-intencionadas?, explica a psicoterapeuta paulista Lídia Aratangy. Também é importante se preservar ao máximo, mesmo que a conversa pela internet seja empolgante. Jamais dê seu endereço ou o telefone de sua casa. É tão arriscado quanto sair distribuindo seu cartão de visita pela arquibancada de um jogo de futebol. E principalmente: nunca acredite de cara em tudo o que a outra pessoa escrever. O tempo e a convivência vão dizer se você deve ou não dar a ela um voto de confiança. Antes disso, só preste atenção. E saiba: tendo ou não encontrado alguém para um relacionamento amoroso, ninguém se arrepende de ter se inscrito nos sites. Todos concordam que é um excelente manancial para fazer amigos, conhecer pessoas diferentes e, sobretudo, inflar o ego. Receber trinta mensagens de pessoas que o acharam o máximo e querem conhecê-lo triplica a chance de você ter companhia durante suas vazias noites de sábado. E, nesse caso, não faz a mínima diferença ser um parceiro pontocom."