Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Palavra, papel e permanência

PREFÁCIO

Alberto Dines

Desde o momento em que envolvi-me na empreitada de reeditar a coleção completa do Correio Braziliense esbarro freqüentemente num feixe de questões. A primeira: e se o nosso patriarca, Hipólito da Costa, de Londres nos remetesse a sua revista pela internet e não impressa em papel, teríamos condição de reeditá-la cerca de 200 anos depois?

Algum zeloso leitor teria a pachorra e o zelo de conservar e organizar a coleção completa da publicação junto com os milhões de bits que lhe chegam diariamente por via eletrônica? Algum hacker não atacaria o disco rígido onde os originais estivessem guardados? Um software do ano 2200 poderia ler documentos escritos com os modestos programas de hoje?

O frágil papel que não resiste a uma gota d?água, fácil de rasgar, difícil de guardar, sujeito às traças, fungos, fogo, capaz de voar levantado por um suave pé-de-vento, torna-se mais permanente e duradouro do que muita coisa produzida pela parafernália de última geração.

Papel é real, a informação eletrônica, virtual. A internet democratizou a informação, incorporou o jornalismo ao nosso relógio biológico e, ao mesmo tempo, tornou tudo que está nela rigorosamente efêmero. Digitalizadas, as palavras ganharam força descomunal e, simultaneamente, tornaram-se menos eficazes. Insignificantes.

O que é fácil para produzir é ainda mais fácil para descartar. Vitor Sznejder, seguramente, pensou nisso quando tomou a decisão de colocar em papel as entrevistas com jornalistas que armazenou em seu site nos últimos anos. Deve ter percebido (como expert que é) que a comunicação bem-sucedida desenvolve-se em vários planos, mobiliza diversas capacidades. Sem o tato e o contato com o livro, o seu conteúdo perde a vitalidade nele contida. Incompleta a leitura sem o suporte da imaginação. Tente, leitor, amar sem as mãos.

Este livro é uma ponte entre tempo e espaço. É meio e mensagem, eco e objeto. Insumo e percepção. Cruzou as dimensões, venceu a periodicidade, suplantou os limites dos gêneros, juntou gente, palavras, energias, idéias, experiências e com este formidável elenco de personagens percorre a história do conhecimento.