Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pancadaria passou batida

GREVE NA USP

Charles Lourenço (*)

Espanta a pouca (a bem dizer nenhuma) cobertura dada ao incidente ocorrido durante a visita do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), à Universidade de São Paulo (USP) na semana passada. Para impedir que o mesmo discursasse, estudantes em greve ocuparam o palco. Já se tornou notória a greve dos alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) daquela universidade, visando a contratação de 250 professores. Os estudantes foram expulsos do palco por meio de bordoadas e pontapés desferidos pelos seguranças do governador. Tomei conhecimento pelo telejornal da Rede Globo e no dia seguinte procurei os jornais nas bancas para saber a repercussão. Nenhuma referência no Estado de S.Paulo, Folha ou qualquer outro jornal.

Seria esse um caso de "matéria paga"? Só se for paga para não sair, dirão os mais ácidos. As análises sobre o episódio são as mais diversas já que esse fato jornalístico engloba diversos problemas: a repressão nem sempre gentil do poder estabelecido, o sucateamento do ensino superior, e um certo relativismo da imprensa ao dar atenção a assuntos pouco relevantes nesses tempos de Big Brother e seus genéricos.

Onde estarão aqueles que lutaram pela liberdade de expressão durante os anos de chumbo? Se aquilo era repressão, como classificar as agressões sofridas pelos alunos da USP, perguntou um deles, com muita propriedade? Pouco adianta a liberdade de imprensa se a mesma é mal usada, ou, pior, quando a imprensa se faz muda. Uma imprensa que se calou diante das agressões sofridas pelos professores das três universidades públicas paulistas durante a greve de 2000. Deve ser por isso que muitos deles querem se aposentar, já que além de não receberem aumento, quando reclamam tomam pancada da Polícia Militar. Uma imprensa que, diante da política educacional dos governos FHC/Covas/Alckmin, não se manifestou.

O chavão de que a base do desenvolvimento de um país é a educação é muito bonito, mas precisa ser levado a sério. Será que manifestações na maior universidade brasileira e represálias às mesmas são assuntos de pouca relevância? Chega a ser hipócrita a sociedade reclamar da nossa educação e ao mesmo tempo ser incapaz de cobrar do "Quarto Poder" uma cobertura eficiente de uma parte tão essencial da sociedade como a educação.