Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Para entender o ombudsman

A VOZ DO LEITOR

Jairo Faria Mendes (*)

Uma das minhas grandes angústias como jornalista é sobre o chamado "monopólio da fala". O público fica em posição bem desvantajosa, recebendo uma carga enorme de mensagens, sem ter a oportunidade de se manifestar. A teoria da recepção questiona isso, diz que o público é ativo, reage e se manifesta. Mas, é claro que o processo de comunicação da mídia não oferece muitos espaços para que leitores, telespectadores e ouvintes tenham direito a voz.

Por causa disso, cinco anos atrás comecei a pesquisar sobre o ombudsman de imprensa. O cargo do ombudsman aparecia como uma luz no fim do túnel, algo que poderia abrir espaço para o leitor, favorecendo uma relação de diálogo entre jornalista, ombudsman e o público. Claro que nunca tive a inocência de pensar que a função pudesse transformar o processo comunicativo midiático, mas acreditava que pudesse trazer ganhos em transparência e interatividade.

Depois fui descobrindo que muita gente compartilhava da minha angústia, e que se interessava por minhas pesquisas. Por isso, lancei recentemente, em Belo Horizonte, o livro O ombudsman e o leitor (Editora Lutador, 104 pp., R$ 15), respondendo a esta demanda e também suprindo uma lacuna, já que quase nada tem sido publicado sobre o ombudsman nos meios de comunicação.

Vários aspectos do cargo do ouvidor de imprensa são tratados no livro: o que é o ombudsman, como ele surgiu, as várias experiências dos meios de comunicação com a função no Brasil e no mundo, as características de suas colunas, a linguagem utilizada por este profissional, e até mesmo projetos de lei prevendo a obrigatoriedade da implantação do cargo.

Presença no mundo

No livro é contada a história do ombudsman, surgido na Suécia, em 1809, com status de ministro, tendo como tarefa fiscalizar os funcionários públicos e ouvir os cidadãos. Quanto a seu surgimento na imprensa existe uma divergência. De acordo com a versão japonesa, o ombudsman foi criado em 1822, no Asahi Shimbum; já os americanos dizem que a função surgiu em 1967, em duas publicações dos EUA. A história dos ombudsmans brasileiros é valorizada, com a descrição das várias experiências de ouvidoria de imprensa.

Também demonstro que a mídia brasileira parece temer a função. O primeiro jornal brasileiro a adotar o cargo foi a Folha de S. Paulo, em 1989, seguida por várias mídias, como Folha da Tarde (SP), A Notícia (SC), O Povo (CE), Rádio Bandeirantes (SP) e revista Imprensa. Mas a maioria das experiências teve vida muita curta.

Também cito algumas experiências de ouvidoria em jornais-laboratório, propondo que nestes veículos o ombudsman siga um modelo adaptado aos objetivos educacionais.

O livro faz uma indagação antiga: "O ombudsman é um representante dos leitores ou um tipo de relações públicas da empresa?" A resposta fica para o leitor. Tive como objetivo produzir um livro sucinto, em linguagem simples, mas sem perder a densidade do conteúdo. Por isso, questões simples e complexas são igualmente tratadas.

Um dos temas mais importantes em relação ao ombudsman de imprensa é a linguagem. O ombudsman vive em contínua interlocução com leitores e jornalistas. No entanto, enquanto o ombudsman dialoga com os leitores de forma íntima, com os jornalistas ele se mostra um "inimigo" implacável. Esse diálogo com jornalistas e leitores torna a função especial, deixando os meios de comunicação mais democráticos.

Atualmente, os maiores jornais do mundo têm ombudsman, como The Washington Post (EUA), Le Monde (França), El País e La Vanguardia (Espanha), The Sun (Inglaterra) e o diário de maior circulação do planeta, o japonês Yomiuri Shimbum (10 milhões de exemplares por dia).

(*) Mestre em Comunicação e Cultura, professor e pesquisador da PUC-Minas/Arcos. O livro pode ser encomendado pelo e-mail <jmendes@newview.com.br> ou pelo telefone (31) 3535-8204